#PORTAS E JANELAS ABERTAS PARA A VISÃO DO ETERNO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Há uma
velha e surrada sorrelfa chamada destino e escravidão aos grilhões do tempo e
da história. Em torno de pais de santo, adivinhos, intelectuais, profetas,
poetas e filósofos girou, até o presente, o catavento da colina, onde os lobos
uivam a plenos pulmões nas noites sem lua e sem estrelas para o mundo sem
cancelas e fronteiras.
Outrora,
acreditava-se que os pais de santo tinham o emplasto para a cura das invejas,
ciúmes, despeitos, olhos gordos, acreditava-se que os adivinhos tinham no punho
da camisa a carta do ad-vir, do vir-a-ser, do porvir para as dialécticas e
contradicções da história e do ser, os intelectuais tinham a res-posta para o
conflito da língua e do logus, os profetas sabiam os abismos da alma e do
espírito, os mais profundos desejos e anseios da verdade e do absoluto, os
poetas tinham os dons e talentos supremos para suprassumirem as dores e
sofrimentos, superarem as á-gonias e tristezas da morte ser o fim da vida,
princípio do além, seus versos e estrofes despertavam do mais profundo do
íntimo a beleza do belo, era só desejar, querer que as dádivas se revelavam
ipsis litteris, ipsis verbis, e a felicidade seria apenas um brinquedo dos mais
inocentes e ingênuos, os filósofos tinham a razão em suas mãos feitas concha,
razão que iluminava os caminhos, resplandecia as sendas e veredas, orientava
nas estradas, a verdade afluía daí livre e á toa. Tudo era destino, ad-vindo
dos primevos tempos de deuses, tudo eram grilhões do tempo e da história,
ad-vindas das con-ting-ências, facticidades e ipseidades.
E
adveio tempo que os pais de santos foram esquecidos, os adivinhos colocados à
margem, os intelectuais discriminados, os profetas marginalizados, os poetas e
filósofos motivos de mofa, mangofa. Assim, acreditou-se que tudo era liberdade,
tudo era permitido, tudo era consentido: pode, porque deseja, quer, e tudo,
livremente, são portas e janelas para a visão clara e límpida do eterno e do
perpétuo, os homens não acabavam, apenas morriam.
Aquele
tempo em que tudo era destino, escravidão aos grilhões da história e do tempo,
o outro em que tudo era permitido, autorizado, con-sentido, as estrelas eram
símbolos e signos, metáforas da luz que mostravam os caminhos por onde pisar
com segurança, houveram conjecturas, elucubrações, não conhecimentos, não sabedorias,
não consciência; e, por isto, no que tange, concerne à verdade, à in-verdade,
ao bem, ao mal, ao além vida, ao consciente, ao in-consciente, à misericórdia,
à lei do cão, à Cáritas, à in-sens-ibilidade, à Koinonia e à antítese,
houveram, pior que conjecturas, elucubrações, alienação, cegueira, mudez.
Já o
sol se põe, a noite se aproxima - adeus, tempos de destino e escravidão aos
grilhões do tempo e da história, tempos de liberdade irrestrita. A vontade de
questionamentos outros, indagações novas corre atrás de mim, tenho de correr,
não a ponto de pôr o bofe e o fígado para fora, mas no sentido de conservar o
fôlego para almejar o nosso encontro, serem eles luzes, sons e palavras.
Chuva
torrencial irá cair no mundo...
(**RIO
DE JANEIRO**, 16 DE ABRIL DE 2017)🔑
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