#DOS AUSPÍCIOS DAS ALTAS MONTANHAS BANHADAS DAS ÁGUAS DO MAR# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Lutas, labutas, esforços e sonhos que neste estar-no-mundo todo homem,
cidadão, indivíduo, moralmente bem intencionado, provido de imaginação, arte,
deve sustentar, fundar sob a orientação do princípio bom contra as in-vestidas
do mau não pode, qualquer que seja sua utopia, proporcionar-lhe maior
privilégio do que libertá-lo da denominação deste último. Tornar-se livre, esse
é o benefício incólume e egrégio que pode adquirir. Não fica menos exposto e
sempre às in-diretas, aos ataques, aos acintes do princípio do mau e, para
assegurar sua liberdade continuamente atacada, ceifada, negligenciada,
subestimada, deve necessariamente permanecer armado para o confronto, embate,
combate. Por conseguinte, é obrigado a entregar-se, empenhar-se, pelo menos o
quanto for capaz, o que puder, para se libertar dessa situação.
Essa é a minha doutrina: quem quiser, algum dia, aprender a alçar voo, a
voar, deverá, em primeira instância, saber ficar em pé e engatinhar e arrastar
e caminhar e correr e subir e dançar. Não se voa à primeira como se não escreve
obra de arte apenas com palavras, como se não compõe música apenas com notas.
Essa é a minha doutrina: subir nos degraus mais altos de uma escada com
ágeis pernas não se realiza apenas com os pés, faz-se necessário o instinto do
topo, do cume, o desejo da altura, de alcançar as nuvens; estar nos auspícios
das altas montanhas, colinas, picos do conhecimento não me parece pequena
felicidade, é a grande felicidade pois que interroguei, questionei,
experimentei os próprios caminhos.
Essa é a minha doutrina: respeito as línguas, os estômagos irreverentes,
insolentes, exigentes, que aprenderam a in-vestigar os mistérios da
in-consciência, aprenderam a dizer "eu", aprenderam a des-confiar das
verdades instantâneas, aprenderam a abominar as mentiras, hipocrisias e farsas.
Essa é a minha doutrina: construir o próprio espaço para dar largueza
aos mais simples movimentos, gestos de seda e algodão, re-descobrir o sorriso e
re-fazer o campo de pouso, um grande útero gerando sóis.
Essa é a minha doutrina: vencido pelos signos, declarar a dor, deixando
re-nascer a paixão, sua própria máscara (insensível), denunciar o rosto
sequioso de amor.
Essa é a minha doutrina: a flexibilidade sonora capaz de exprimir as
imagens vividas; no vaivém da dança, tangenciar o corpo da Vida, co-tangenciar
a carne do Ser.
Essa é a minha doutrina: não perder o rumo, imigrar, emigrar,
permanecer, conhecer a liberdade, registrar em mim o espírito da cor, da luz,
do som, da paisagem fundindo-se num acorde.
(**RIO DE JANEIRO**, 24 DE ABRIL DE 2017)
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