**A SABEDORIA E A LIBERDADE** - PINTURA: GRAÇA FONTIS/AFORISMO: Manoel Ferreira Neto
A
minha jovem e in-sol-ente, ir-rever-ente sabedoria!
No
alvorecer de clima suave, ventinho ameno, a natureza silenciosa, silêncio
mágico, quiçá místico, deseja adentrar-se em bosques macios, a luz perpassando
as frestas e frinchas das árvores, desenhando no chão espaços claros, límpidos,
transparentes, desejaria ela espairecer-se, criar novos mundos, novos desertos,
novas montanhas, onde ao entardecer, saboreasse a polpa de figos, umedecendo os
lábios de delícias, a minha ventura e a minha liberdade.
Há um
lago, embora imaginário, imaginário onde a jovem e ir-rever-ente sabedoria
con-templa os raios de luz da lua incidindo na água forma marolas, ilusão de
ótica, lago solitário, que a si mesmo se basta; a torrente de amor que flui
livre das entranhas profundas da alma murmurejando nos vales o arrasta consigo
para baixo - para o rio.
Tempo
longo desperdicei à toa em anseios, olhando o nascer do sol, o trans-correr do
dia através do badalar do pêndulo do relógio, pers-crutando os pensamentos e
ideias que se me a-nunciavam, apenas frutos de inspiração fértil, o belo
entardecer, o sol se distanciando atrás da serra, re-colhendo-se, cedendo o
lugar à lua, às estrelas, sentimentos e emoções que fruíam atônitos,
fantasiosos e quiméricos sonhos e utopias, as esperanças apenas
cir-cunvagando... Tempo demasiado pertenci a solidão, era-me a companheira, a
amiga inseparável, o carrapatinho, como se diz vulgarmente, pensando estar
assimilando lições e aprendizagens, construindo o "eu", artificiando
a visão, tornando-me por inteiro uma língua.
Cansei-me
da velha solidão, do eu cristalino, cristalizado, da língua que só emitia
palavras lindas, parecendo saírem da boca de antigos e milenares profetas.
Olhando, vislumbrando, pers-crutando, con-templando os primevos raios desta
manhã, perpassando as frinchas das folhas da mangueira, raios vermelhos, não
quero mais trilhar, o meu espírito recusa-se a caminhar com solas gastas,
des-aprendeu a solidão, quer precipitar minha palavra nos vales, nos chapadões,
nos pampas, encontrar a ilha bem-aventurada onde vivem pessoas que desejam fervorosa
e calorosamente as cores do arco-íris cobrindo , qual tapete, as veredas do
campo, as sendas das estradas, quer navegar por amplos mares, não como nômade,
andarilho, vagabundo, mambembe...
Os
amigos atônitos, surpresos, admirados, quem aplaudiam a língua de palavras
velhas, viam nelas inestimáveis dimensões outras da vida e do mundo, esta jovem
e in-sol-ente e ir-rever-ente sabedoria que sinto estar evolvendo-se nos
inter-ditos do íntimo, virarão as costas, sumindo-se na distância, dizendo
estar eu bem equivocado, o que penso ser sabedoria é simplesmente o Maligno. A
minha jovem sabedoria engravidou-se em silenciosas colinas, à vista da
ampl-itude do mar, e nesta manhã de clima suave, ventinho ameno dá a luz o mais
novo sentimento de liberdade...
O vento
do leste sou eu para os limões maduros que serão suco para saciar-me a sede.
(**RIO
DE JANEIRO**, 16 DE ABRIL DE 2017)
Comentários
Postar um comentário