Maria Isabel Cunha ESCRITORA E POETISA COMENTA O AFORISMO /**MIGALHAS VERDES NAS ESTRADAS DE MEUS PASSOS**/
Beleza de discurso! Tal qual um óvni ou a lua espelhando no rio todo o
seu brilho, o autor quer espelhar com a "palavra", apesar do caminho
sinuoso, íngreme e em desfiladeiro , prosseguirá, porque se sente livre e é
nessa liberdade que alcançará os eus propósitos. Extraordinário texto. A
imagem, está sublime e ilustra a obra em perfeita sincronia e sintonia.
Parabéns ao casal. FELIZ PÁSCOA. Beijinhos.
Maria Isabel Cunha
**MIGALHAS VERDES NAS ESTRADAS DE MEUS PASSOS**
PINTURA: Graça Fontis
AFORISMO: Manoel Ferreira Neto
Há tanta leveza na palavra! Há tanta insustentabilidade no ser!
No breve ato de sonolência, gesto pleno de calor e arte o humano desejo
esculpe. Desfeita a fronteira do real, no sono dentro da pupila, no sonho que
advirá dentro da retina, nos breves instantes de liberdade do in-consciente,
visão noturna do inefável neste olhar feito de sonho, no con-templar feito de
querências. Ainda que os passos sejam vacilantes nessa tentativa de entrelaçar
linhas e entre-linhas, nesta trilha, escrevo rastro da história, passos da
memória, marcas do ser à busca de outros uni-versos gerados no ventre do
desafio, no seio de precursoras idéias e sentimentos, nos interstícios primevos
dos desejos e querências dos valores eternos, das virtudes imortais, e mesmo
entre-vejo dimensões trans-cendentes que me não são dadas des-crever,
trans-cendem a razão e a sensibilidade. Quanta força existe no ideal de sonhar!
Seria ou não seria que alguém pudesse estabelecer ou instituir esta força no
dinâmico percurso de cada época, de cada geração?
Seria que ou não seria que nessa brincadeira inconsequente com as linhas
e entre-linhas das palavras, ditos e inter-ditos dos sentidos, obviamente nada
dizendo, expressando, sem sentidos e significados quaisquer, não vou eu plantando
migalhas verdes nas estradas dos meus passos. Se acaso houver quem queira,
sejam suas mãos grandes para muito colherem. Quem tem fome, siga-me, dar-lhe-ei
o pão da alma que em mim foi semeado na sedução da melodia, na música que se
faz corpo, no orgasmo da magia. Quem tem sede, siga-me, colherei na fonte água
pura. No âmago do seria que ou não seria que temos que temer as res-postas que
servem apenas ao instante presente, aos interesses, às fugas do aqui-e-agora,
temos que amar a busca contínua da verdade, mesmo que não a conheçamos
plenamente. Contornos dos sentidos voltam a fixar-se na consciência, cravam-se
com a força brutal de raízes que tentam penetrar numa terra mole.
Instintivamente desconfio da insistência das palavras e da precisão com que ressurge
na memória o sorriso da esperança.
Por devoção às dificuldades, esqueci-as. Minha necessária
des-memorização - é o presente que me importa, que me fará dar outros passos
com os meus pés descalços à busca de outros mundos e realidades, que me diz
respeito, lutar por construir novos valores e virtudes, re-velar o novo homem
que habita a semente que se encontra sendo regada nas profundezas da terra, lá
onde sementes e raízes se entrelaçam e se confundem, nos raios de luz das
estrelas, lua e sol, o passado diz apenas de minhas fomes e sedes de
sobrevivência, de minhas carências de amor e paz, de minha interesseira
des-lembrança, re-versa re-cordação, diria mesmo, se entendo ser verdadeiro com
o que me perpassa a razão e o intelecto, sentimentos e emoções, com o que me
habita o mais profundo do íntimo, com meu ideológico esquecimento, melhor
ainda, meu utópico olvidamento que se utiliza do sudário das questões abstratas
para cobrir os limites e fronteiras dos olhares à con-templação das verdades
in-verdadeiras, das verdadeiras in-verdades. As dificuldades são esquivas,
tomando em consideração estarem fundadas e estabelecidas na obtusidade do nada,
nadificidade do obtuso; equívocas: as dúvidas que se a-nunciam são unicamente
uma fantasia para semente de outras tentativas e esforços. Diante de minha
adoração possessiva poderia retrair-me e jamais voltar a cuidar delas,
transformá-las em facilidades, fazê-las curvarem-se, mostrar-lhes que não é tão
fácil vencer-me, sou osso duro de roer, sou cabeça dura. Se fizer o sacrifício
de focar-me nisso de re-verter as entrelinhas em linhas, vice-versa, vivenciar
com ímpetos, êxtases e volúpias as veredas por onde transitar, até mesmo do
sertão por onde enveredar, seguirei os passos, ainda que encontre aclives e
declives inúmeros, curvas fechadas – subir para descer, descer para subir,
vice-versa; são os pêndulos da vida e da história -, tomando-me o fôlego,
abismos indevassáveis, caminhos sinuosos, até o corpo adquirindo seus
trejeitos, ficando gauche, na tentativa de vencer as dificuldades, de realizar
os propósitos, de estabelecer os projetos.
A minha vontade chega sempre como portadora de liberdade!
(**RIO DE JANEIRO**, 15 DE ABRIL DE 2017)🏹
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