**LERO-LERO AOS PÉS DO PADRE** - Graça Fontis: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA
Porque acabo de lhe dizer haver traído a minha mulher, soubesse
entender-me, sinto-me feliz, a amante satisfaz os meus sentimentos de comunhão
corporal, Sua... Sua... Sua..., alfim o senhor monsenhor indaga-me se não tenho
algum senso, se não conheço, não sei o significado de "pecado", diz
um dos Mandamentos "Não cobiçar a mulher do próximo", até entre-vendo
espera que lhe responda não saber, não ter conhecimento do sentido de
"pecado", apenas para ser absolvido, ou seja, o ato sem o
conhecimento do sentido dele não lega a definição. Não lhe responderei assim,
monsenhor, não sou homem de jogos fúteis, fácil, não, digo não saber, não tenho
consciência do que fiz, sou absolvido. Sei com ciência o pecado é a
transgressão das Leis de Deus, o adultério figura nos 10 Mandamentos, assim
tenho de pedir perdão a Deus, sinceramente reconhecer a minha gratuidade,
arbitrariedade.
Poderia, monsenhor, responder-lhe que sim, sei ser pecado, sinto-me
culpado, arrependido, peço perdão a Deus. Posso dizer que não e o senhor pregar-me
um sermão, ensinando-me o que é isto de pecado, não me esquecesse jamais. Não
vou lhe responder no que diz respeito a este limite, sim ou não, mas com uma
perguntinha, reconheço-lhe ser capciosa, mas aqui com os meus botões, como a
faria noutras circunstâncias e situações, com interesse de satirizar as coisas,
com o senhor é diferente, não vou jogar este coringa sobre a mesa, faço a
perguntinha com toda a finesse e educação: pecado é a transgressão das Leis de
Deus... Não contesto isto em definitivo, a trans-gressão está sempre do lado,
de mãos entrelaçadas com o mal, aos princípios, costumes, hábitos,
comportamentos arbitrários, merecendo punição, em que âmbito for visto. A lei
moral. Agora, monsenhor, se não reconheço esta lei, se não me serve, não
realiza os meus projetos, objetivos, como pode ser isto? O senhor é exímio
conhecedor da espiritualidade, estudou para isto, aprendeu a sentir Deus no seu
coração, pode dar-me a resposta num piscar de olhos, dizendo no meu nível de
compreensão e entendimento, sem a verborréia que aprendera na faculdade de
Filosofia e Teologia, idéias de fulano, de sicrano, de beltrano, prós e
contras.
Nestes termos, monsenhor, se não reconheço o pecado do adultério, essa
Lei de Deus, então para mim não é pecado, sim "coisa da
contingência". Sendo o senhor, monsenhor, homem de conhecimentos,
percepção, intuição, consciência, perguntar-me-á o que faço aqui ajoelhado no
genuflexório, falando de minhas cositas, nem havia terminado a oração de início
da confissão, já estava afirmando haver traído a mulher. Digo-lhe não estar
aqui me confessando, mas conversando com alguém. Monsenhor, há tempos que não
sei o que é isto dizer uma palavra.
Agora... Deixe-me esclarecer algo: sou divorciado faz dois meses, estou
sofrendo demais, monsenhor... Não entendo de modo algum como pôde divorciar-se
de mim, se éramos felizes. Disse-me inclusive que era feliz comigo, mas não
nascera para o casamento, ainda não havia inda decidido se iria para um
convento, tornar-se irmão de caridade. Não pude me conter no momento, ri a
bandeiras soltas: irmã de caridade é virgem, ela perdera a virgindade fazia
seis meses. Desde então, vivendo com a minha mãe, quando saio de casa, não
converso com ninguém, em casa apenas respondo ao que a mamãe diz...
- É só isso, meu filho?... - olhou a fila que estava grande - Está
absolvido de seus pecados... Não precisa rezar única oração. Dispensado...
(**RIO DE JANEIRO**, 12 DE ABRIL DE 2017)
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