POETISA ARTISTA-PLÁSTICA GRAÇA Graça Fontis COMENTA O AFORISMO /**DOS TERRENOS BALDIOS**/
Maravilhoso amor... descreveu minuciosamente todos os êxtases que
abrangem e acometem uma existência complexa e repleta de dúvidas e certezas,
procuras infindáveis por algo a ser encontrado que faça valer o simples ato de
viver! ... Amei e estarei sempre aqui perscrutando o próximo passo dessa
enigmática caminhada.Bjssssssss
GRAÇA Graça Fontis
**DOS TERRENOS BALDIOS**
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Êxtase - muita coisa há em vós que faz rir à revelia, em especial o
vosso medo daquilo que, até o momento presente, se chamou "a
Melancolia", pois o passado que ela re-presenta é a "Tristeza",
o vosso passado.
Êxtase - enfastiei-me dos homens doutos, os que sabem tudo e tudo além
do tudo; a "doutitude" dá-me nó górdio nas entranhas, vontade absurda
de vomitar tudo de dentro, fugir para o alto do monte, para os cafundós do
Judas, para o palhaço das verdades obtusas!
Êxtase - embriaguei-me tanto da neblina da madrugada que nesta manhã de
primeiros raios brilhantes e quentes do sol estou exalando pela boca e ouvidos
brisa, e não é in-verno rigoroso.
Êxtase - ontem, após o primeiro sono do dia que acontece de quatro da
tarde às onze da noite, ainda deitado, a cama faltou-me debaixo do corpo, o
relógio de minha vida respirava - jamais ouvi silêncio tão grande ao meu redor:
a tal ponto que o meu debilitado coração se assustou.
Êxtase - desaprendi a obedecer, a rezar na cartilha do outro, a dar
razão aos pobres de espírito; seria que agora devesse, cumprisse-me escrever
dez mandamentos, nenhum deles podem ser desrespeitado, negligenciado, recusado,
refutado, subestimado, são a minha lei insofismável, incólume.
Êxtase - o meu próprio eu e o que dele, de há muito, encontrava-se no
recanto mais insólito de uma gruta, disperso em meio à escuridão, em meio a
todo o vazio e nada, tornou-se o meu verdadeiro refúgio, e como todo refúgio
revela perigo, tornou-se o meu perigo in-audito e inter-dito.
Êxtase - a rua Rio de Janeiro que leva o Cine Brasil para trás, para a
Praça Sete de Setembro é uma eternidade e a rua João Pinheiro que leva a Praça
da Liberdade para frente é outra eternidade. Sento-me na escadaria da Igreja
São José, na avenida Afonso Pena, e fico "urubuservando" os pedestres
passando apressados, precisam correr atrás dos prejuízos.
Êxtase - é chegado o tempo de ir embora, esta cidade ficar para trás, o
tempo riscá-la de minha memória; oxalá o calor escaldante me faça suar por
inteiro, o meu abismo moveu-se e o meu pensamento abocanhou-me. Já é mais que
chegado o tempo de vislumbrar o sol, o mar.
Êxtase - o meu passado rompeu suas sepulturas, algum sofrimento que
escrevia suas memórias póstumas acordou: tinha apenas tirado uma soneca, o
silêncio ameaçava-lhe sufocar-se, a solidão ameaçava-lhe asfixiar-se.
Êxtase - bem-aventurado o nada que me envolve. Puros eflúvios a meu
redor. Ah, como esse nada me inspira a multiplicar todas as coisas, passear por
todos os gêneros literários, por todas as idéias filosóficas, e continuar
seguindo a longa estrada até sumir atrás da montanha, de mim nada mais restar,
muito menos lembranças e recordações.
Êxtase - tudo que é lendário, tudo que é "causo", tudo que é
"estória da carochinha", tudo que é lorota de monsenhor, tudo ficou
para trás. Clamo agora nos terrenos baldios a melhor sabedoria da coragem.
(**RIO DE JANEIRO**, 25 DE ABRIL DE 2017)
Comentários
Postar um comentário