#COMÉDIA INÓCUA DAS TREVAS# - Graça Fontis: ESCULTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Sentindo-me distante, deixe-me vagar pelo deserto, onde não há rumo,
destino - exuberância do ser libertador. Sentindo-me disperso, deixe-me
cantando a canção onírica das quimeras, no canto quieto, inquietas as sensações
dos questionamentos sem respostas, perguntas des-conexas, sem sensos e lógicas,
sou vazio de id, ego, superego, feito fortuitamente do inacabado frutífero, sou
o branco das páginas sem linhas para escrever, sou o "ec" sem
"sistência", porfio no que andará pelo espaço, pervago solene pelas nuvens
azuis, pelo branco horizonte do infinito. Deixe-me distante, deixe-me disperso
- quiça as ad-versidades do absoluto e pleno sejam a tese, antítese, síntese do
nada re-verso na imagem projetada no espelho dos rebos rijos, dos etéreos
diamantes que trans-literalizam as insolências do inferno, divinas comédias da
poesia sem poiésis, da prosa sem eidética, tudo que cunha e que desabrocha é
embrião em prenhez de índole ou Númen, a arte pura da des-fantasia, a
metalinguística inócua das trevas do caminho, o "it" das águas vivas
que jorra da fonte a vereda por seguirem.
Chegam ventos, do futuro,com misterioso bater de asas.
Isso mesmo... Deixe-me distante, deixe-me disperso. Não há o
aqui-e-agora, não há o limite, há apenas morfemas e palavras no regaço de minh´alma
sem linguísticas, tudo o que faço lembra-me o vazio do caos, lembra-me o vácuo
do abismo. Não sou poema, não sou prosa, não sou lírica de música, não sou
instrumental de sons, sou o nada antes de quaisquer nadas.
Você que não me entende, compreende, não perde por esperar a floresta e
a meditação refulgindo ao esplendor, o incólume do ocaso seivando o crepúsculo
pálido da Verdade Absoluta. Pervago, vagueio, perambulo, deambulo, não corro
perigo, não estou exposto a riscos, mistérios não há, não ad-virão enigmas, a
verdade não alimenta os sonhos, o absoluto não é fidúcia do eterno, não é
felícia do imortal.
(**RIO DE JANEIRO**, 13 DE ABRIL DE 2017)
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