Sonia Gonçalves ESCRITORA E POETISA COMENTA O CONTO /****NO PROSAICO LAMENTO "ANSEIOS & DESEJÂNCIAS" INERENTES E INTERDITOS NÃO REALIZADOS NO CONTEXTO INVOLUNTÁRIO DA ALIENAÇÃO**
Uma ode essa literatura, Manu... À medida que fui lendo, fui ouvindo o
sonido da flauta de Pã sobre as montanhas cinzentas... Seus textos são tão
poéticos que mergulhamos num mundo que existe em paralelo em sua mente
privilegiada. Daí então para mergulharmos num pântano,num lago dourado é um
pulinho.Adoro viajar por esse mundo clandestino que crias a cada texto.
Gostaria de ter bem mais tempo pra sempre ler você, meu querido, pois cada vez
que o leio saio bem mais rica literaturalmente falando... Aprecio muito seu
discernimento entre a realidade e a fantasia que mescla com tanta verdade, que
se me perguntar acredita em contos de poéticos e de fadas eu diria... Olha aí
Netuno, Iaras, Zeus, Afrodite, Samsão, Dalila tudo no texto conto, crônica do
grande escritor Manoel Ferreira Neto e de quebra sempre traz umas lindas obras
de artes da maravilhosa Graça Fontis com quem este teve a sorte de cruzar seu
destino! Obrigada Manu... amei...todo o conjunto e conteúdo... Bjãoo Para os
lindos...
Sonia Gonçalves(Soninha Son)
****NO PROSAICO LAMENTO "ANSEIOS & DESEJÂNCIAS" INERENTES
E INTERDITOS NÃO REALIZADOS NO CONTEXTO INVOLUNTÁRIO DA ALIENAÇÃO**
TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis
PROSA POÉTICA: Manoel Ferreira Neto
Quem me dera agora tivesse a harpa para "dedilhar" o soneto ao
silêncio!...
Oh, palavras des-memorializadas, des-moralizadas, contudo res-guardadas,
entretanto resgatadas, todavia salvas, ditas de novo, re-ditas, tornadas a
dizer, não importando se repetidas, desde que haja fôlego. Poder da voz humana
re-criando novos vocábulos, in-ventando inusitados vernáculos, e dando sopro
aos exaustos, exauridos, crispação do ser humano, árvore irritada, contra a
miséria e a fúria dos ditadores, contra a pobreza deslavada e o desvario dos
autoritários. E as palavras subindo.
Quem me dera agora tivesse a harpa para dedilhar o soneto ao
silêncio!...
Ex-istência ser o in-acreditável e in-concebível do não-ser - como
literalmente mágoa, como essencialmente desgosto, como naturalmente
des-esperança, como simplesmente desolação. Daqui atento um bocado do mundo e
se o contemplo estouvado, padecendo de uma dor superior do que pretendi,
permaneço cônscio de não haver sido aniquilador arrogado, arrojado, apesar de
hospedar o alheamento de não o haver auxiliado a elevar como incumbia,
insinuando estas asseverações que os dois jeitos opostos do meu proceder
espelham o meu alheamento humano, legando-me a convicção que a eles só debandam
aos homens dotados para buenas-dichas eminentes… Quem sois? E como referia
Friedrich Nietzsche, Vós não sois águias, por isso não entendestes o prazer no
deslumbramento do espectro. Quem não é pássaro não deve adejar sobre báratros.
Quem me dera agora tivesse a harpa para "dedilhar" o soneto ao
silêncio!...
Frestas à vista para a sinuosidade dos horizontes que mostram imagens
dispersas nos interstícios das perspectivas, no íntimo dos acordes angulares,
no âmago das visões, pontos de vistas – "o melhor perfume está nos menores
fracos" -, quiçá a-nunciando a verdade in-consciente do verbo de tecer
sendas ek-sistenciais, veredas con-tingenciais . em direção à vida do eterno
des-figurado de dogmas, des-entrelaçado do absoluto hades, des-membrado da
verdade dúbia, ambígua, se a liga me ligasse, eu também ligaria a liga, mas,
como a liga não me liga, também não ligo a liga. Quiçá revelando a
in-consciência estética do sublime de compor o indicativo presente do que a
a-mortalidade de princípios e raízes, de sêmens e mitos, por vezes havendo
sementes e húmus, do vazio em plena náusea do nada.
Flores, folhagens mirradas, respingos de orvalho nas flores que
des-abrocham, taciturnidades, pesares, saudades integrais, melancolias
sarapalhadas pelos terrenos baldios da alma, não-ser. Se é que se logra
credenciar os futuros se desperdiçaram no báratro do tempo, os espaços
imergiram literalmente na infinidade dos transatos do não-ser, mister observar
de encena no sentido do infindo as dissimulações que se desvaecem acessíveis no
passadiço de ventosidades de nascente, que eterizam susceptíveis no abismo à
face das claridades do dia, experimentando nos intervalos do âmago o oco, o
literal do zero!... ...! !...
Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao
silêncio!...
Frinchas à luz dos linces dos olhos con-templando as linhas cambaias do
universo que desenham in-terditas palavras metrificadas de in-auditos mistérios
do des-nada sonet-ificando as tragicomédias do absoluto divino, sonet-izando a
sátira lavada dos idílios compactos das sorrelfas subjuntivas do “era” verbo
defectivo da morte pretérita do gerúndio de ser que atravessa as pontes
partidas do jamais-sempre, do sempre-nunca, das arribas impretéritas da
essência, dos confins partícipios dos fundamentos, metafísica do nonsense,
teoria do conhecimento das partícipes nonadas do eidos-para a sepultura do
além, tumba dos confins, mausoléu das arribas, jazigo da etern-idade, cárcere
eterno do mais-que-perfeito infinitivo, antropologia de lendas e rituais das
florestas onde se abrigam os mistérios, exegese das declinações genitivas das
ipseidades e facticidades da con-tingência dos encontros e des-encontros, alfim
o sem-ocaso à re-velia do crepúsculo e entardecer da in-olvidável sombra pálida
do não-ser de estrofes des-providas de sensibilidade e provérbio do espírito,
de rimas e métricas destituídas de razão e anedota da alma.
Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao
silêncio!...
Grimpas à sombra de vernáculos da palavra, linguistificando os ditos da
imperfeição, inter-ditos da perfeição, a fala do des-presente dos ideais e
utopias, o diá-logo do des-pretérito das idéias, escarafunchando as poeiras do
nada, pós da inutilidade, cobrindo os vazios do sem-nonada, “porfim” do
inconcebível da in-leveza do insustentável ser, ser de abas largas que diminuem
ao longo das vivências e experiências, no per-curso da morte para a vida, não a
morte luz da vida-para a perpetuidade, perenidade, não a escuridão da
morte-para o aquém do gênesis. A árvore do ser, por inter-médio das dialécticas
das nonadas em direção às pontes partidas carnavalizam os abismos de ventos,
ventos do redemoinho, ares do catavento, atrás das montanhas que não visualizam
o além da inconsciência da travessia das con-tingências de lágrimas,
enclausuradas aos limites, obstáculos, impossibilidades do ser-para a vida...
vida é sentir não a sua profundidade, despertar e espíritos para a realização
do sublime amor ao eidos da espiritualidade, ser vida é templorar no
tabernáculo do ser o buraquinho da sensibilidade e espiritualidade.
Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao
silêncio!...
Apanhar e albergar népcias insofismáveis e ilícitas que flutuem formais
nos duradouros locais do anil celestial, caminhar, divagar nas periferias
desenxabidas das vias, repousando à indolência da bofetada extensa, da tapa
inócua, espertando com o gorjeio dos pássaros, o melodioso sulco da natura,
continuar a expedição de sem abas e eirados, sem narteces saídas para o
in-exequível, sem margens e beiras para o inolvidável. Ex-istência ser o
in-acreditável do não-ser - como literalmente mágoa, como literalmente
desgosto, como naturalmente des-esperança.
Quem me dera agora tivesse a harpa para "dedilhar" o soneto ao
silêncio!...
Augúrio apaziguado, vagas plácidas, medos entupigaitados de nuvens
claras e escuras embatem na face das casas, deslizam pelos muros desenhados de
lodo, pichados de letras mortas, escorrem largamente pela terra. O meu
pensamento fosforece. Minhas idéias reluzem-se. Evola-se no ar umedecido dos
pingos de chuva que caíram por instantes, suspende-se o ergo non sum. Estou nu
por dentro, vê-se nitidamente a minha intimidade tímida, envergonhada, vexada,
e a inocência é aí, agora ainda, por sempre, na eternidade do instante, no
momento da efemeridade, e a ingenuidade é lá, por algum tempo, na etern-itude
do momento.
A lua vai alfim aparecer. A neblina alastra ao meu horizonte sem fim,
aos meus uni-versos por serem, os olhos doem-me da nitidez estéril, do nítido
nulo, da aparência frígida, da folha limpa por escrever. Timbre de prata,
flutua! As cordas da lua tremem.
Quem me dera agora tivesse a harpa para "dedilhar" o soneto ao
silêncio!...
Passam a legenda e os anjos, passam os mitos e as fadas. Passam os ritos
e as bruxas. Que é que isto quer dizer? Ou nada quer dizer? Devo estar velho, a
solidão ec-siste insuportável. Ou quê por ela? De repente a vida ficou muito
mais extensa. Os olhos deambulam muito longe, a longitude da correspondência
entre o horizonte e o infinito. Tão extensos, tão longe que tudo atrás fica
lendário, tudo atrás é conto do vigário, é estória da carochinha, é causo de
tropeiros e andarilhos. Respiro devagar, trago a fumaça do cigarro lentamente.
Como se me balanceasse o corpo ao ritmo sereno do universo. Noite ofegante,
olho-a. Pela janela, ao alto, sobre o negrume dos pinheiros, silencioso céu.
Estendo-me na rede, extenuado das memórias do dia, do cão que latia
incansavelmente por estar preso pela corrente, do barulho da água que enchia o
tanque de lavar roupas...
Quem me dera agora tivesse a harpa para "dedilhar" o soneto ao
silêncio!...
É no silêncio que vivo, aprenderei outra linguagem? É na solidão que
prolongo os dias, aprenderei outro estilo? Não há palavras ainda para inventar
o mundo novo. Não há sentidos ainda para revelar o outro dos sonhos, utopias,
dos verbos que hão-de ser. Estou só, horrivelmente povoado de mim. Valeu a pena
viver? Valeu a pena trilhar as estradas de poeira? Valeu a pena passear pelas
manhãs, con-templando as folhas verdes umedecidas do orvalho da noite? Matei a
curiosidade, vim ver como isto era, valeu a pena. É preciso que tudo
des-apareça para que tudo possa re-construir-se - re-construir-se através de um
"deus único", um "deus final". Não sei ainda a linguagem do
mundo que terei de re-inventar, o estilo da ec-sistência que terei de re-criar,
a forma da imanência que terei de re-fazer, o enredo do cotidiano que terei de
artificiar.
Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao
silêncio!...
Astros submersos - a maior loucura do mundo se explica por certo modo de
perder esta outra cena, e o fantástico não é outra coisa senão a dissolução da
fantasia. Terra estéril, sobrevivente eu. Clamo a morte do homem, rogo o fim da
raça, anuncio a sua vinda. Choro meu de alegria, ó anjos da nova pura. Riso meu
de tristeza, ó querubins da nova inocência. Cântico dos anjos da anunciação,
dos anjos das trevas e do desastre, os sinos nos domos das igrejas, basílicas,
catedrais, bradam para o vazio do mundo, para o nada dos confins do infinito.
Virgindade do meu sangue, um Deus Menino vai nascer. Os deuses nascem sobre o
sepulcro dos deuses.
E um silêncio longo, feito da neblina ao longe, encobrindo a montanha,
da cidade sepultada em solidão, do cerco à volta do espaço para além, abre-me
de um abandono final - o de quem está ao pé e já nem se olha, já nem se sente,
já nem se vê, já nem se pensa, já nem se vislumbra. O espaço esvazia-me até ao
limiar da memória, onde alastra o meu cansaço, o afago quente de um coro, o
aceno de sinais que se co-respondem como ecos de um labirinto. Num bafo secreto
afloro o que estremece sob os gestos alfim apaziguados.
Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao
silêncio!...
Quem dantes me encaminhou exultação e à minha fação espezinhou sendas
desconhecidas, desdenhou horizontes longínquos, saudando comigo o deleite das
patenteadas... Ao meu lado permanecia quando desabotoei para o entoo, para os
sonidos da existência, para a música de cânticos de buscas... Indiferença
imprevisível, obscuras realidades... Veracidade prestes, querença sumida,
inculpabilidade furtada, que, como faíscas, assolaram meus esboços, meus
devaneios... Manipulação desmedida, suja magia, trevas que corrompem a alma...
a vida! Imergido no reentrante do sofrimento, na angústia, na dor, na
tristeza... a claridade em momentos se avizinha, mas não me granjeia,
extraviado no báratro, nutro que consigo tateá-la... Mas quando, a que ponto? Meus
olhos já embaciados vociferam por auxílio, bradam que me encontrem... Me
achem... Que me libertem...
Quem me dera agora tivesse a harpa para "dedilhar" o soneto ao
silêncio!...
Meu Deussss!!!Que coisa mais linda Manu... Vai me dizer que tudo se originou a partir do meu comentário? Estou sem palavras...pela tamanha beleza de cada texto e o titulo?Fiquei muda ao ler...Lindo de viver.Parabéns!Parabéns!!!Você me engradece e fez-me sei lá, me sentir inserida num mundo ricamente literário...Lindo demais!
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