**SATÍRICO E ESCRACHADO - REVERENCIAMENTO RÍTMICO AMENIZA AMBIVALÊNCIAS CONTINGENTES DO SER** - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/SÁTIRA: Manoel Ferreira Neto
Se o sarcasmo nenecasse a mangofa, também eu nadificaria a mangofa, mas,
como o sarcasmo não neneca a mangofa, também eu não neneco o sarcasmo. Se a
ironia nadificasse o cinismo, também eu nadificaria o cinismo, não por já não
nadificar a mangofa, mas por o cinismo ser indispensável às tramóias,
trambiques do jogo das atitudes e ações hereges, proscritas.
Não me fora poucochito fácil desvencilhar-me do sarcasmo, mangofa,
neneca e ironia, nas suas acepções de nutrir no íntimo as volúpias de despertar
o riso, ter e sentir poucochinho de misericórdia pela pobreza, miséria dos
homens na sua jornada neste mundo de tantas diferenças, embora as con-serve
sobre outros horizontes e universos, corre nas veias a sátira, rasga-se o verbo
na presença do outro, na "lata", como se diz na gíria, por que não
satirizar?
Pus-me a arquitetar um modo de estes questionamentos serem amenizados,
estavam a corroer-me a massa cefálica, tive medo de com isto a inteligência e
sensibilidade serem corroídas, se é que se pode acreditar estes habitem as
pre-fundas da massa cefálica, e só encontrei nas bebidas, desde que criadas por
mim. Embriaguei-me de cinismos, comungados a heresias, sarcasmo, docemente
sintetizados pelas proscrições sem eiras e beiras e as reverências solenes ao
orgulho da raça e da estirpe.
Elixir de neneca de pitibiriba seiva as esperanças do pleno amor,
entrega absoluta ao outro da felicidade e alegria, inspirando os êxtases do
sublime, estesias do prazer.
Nadicas de nada em compota de bananas nanicas com cobertura de flocos de
chocolate desembocam as melancolias do vazio, nostalgias do passageiro, e o
gozo da laia viperina, estirpe caguincha, vicissitudes da raça homodiegética,
trans-eleva as saudades das imbecil-itudes, a vida escracha de bestialidades.
Engolir o nada inteiro, mesmo mastigando bem, é difícil: pode ficar
atravessado na garganta e levar a egregíssima pessoa à morte, pode ser
indigesto, causando indesejável diarréia, daquelas que é melhor ficar sentado
no vaso o dia inteiro. Então, como o nada é delicioso, só de falar nele a boca
fica saturada, o aconselhável é comê-lo às nadicas, pedacitos pequeninos,
sente-se-lhe o gostinho, um primor. Nadica de nada à passarinho com um
aperitivo faz-se necessária a moderação. As dúvidas das dúvidas passam a
figurar como lenitivo para as angústias acompanhadas e entrelaçadas das agonias
do passo à frente, apesar de o que anda para trás é o caranguejo.
Catuaba de neneca de pitibiriba concebe as utopias das volúpias do
eterno, eterno de virtudes, eterno de honra, eterno de dignidade, eterno de
lealdade e fidelicidade, esgotam-se os eternos e fica aquela vontade de mais
eternos, Deus até convida para se sentar do seu lado esquerdo na Academia
Celeste do Absoluto, "aí eu bebo todas as garrafas do botequim e mais
algumas".
Não é só comestível o nada, a nadica de nada, serve a outros propósitos
sutis e são mais que recomendáveis para a vida fresca e saudável.
Nadica de palavras para dizer o que se pensa e sente, não um resumo, não
uma economia, não uma síntese, mas a essência, mais ou menos o "dizer na
lata" dos paulistas e paulistanos. Palavras à nadica de nada frontalmente
é pior que o sacratíssimo sapo seco na garganta por sempre, jamais se terá
resposta, a nadica obstrui os neurônios, necrosa os miolos e o cidadão por toda
a eternidade ficará con-templando ao leu do vazio a imbecilóidia. Deus me livre
de palavras à nadica.
Vinho de nadica de nada, conservado na solidão de cem anos, acorda as
intempéries, na manhã de gaivotas na praia, águias no céu, pássaros trinando
nas cercas de arame farpado que divide terras, nas árvores, revelando o amor
brega, o amor cego, piquenique à beira de córrego entupigaitado de
mosquitinhos, pulgas e carrapatos, o peteleco do tesão leva ao pileque boêmias.
Manguaça de neneca de pitibiriba, servida em taça de cristal, seguindo a
etiqueta da dose dos miseráveis, paupérrimos, acelera os dons e talentos para
as provas sertanejas arrebicadas de ornamentos do folk-lore dos lácios do bem e
do mal, sapo cai na lagoa, ser no caminho do sertão.
Champagne de nadica de nada, após a rolha explodir no vazio do ar,
aplausos eufóricos, alimenta e dessedenta a sede impreterível e irrevogável,
até a cobra fuma um paieiro, arregala a todos confins e arribas aqueles volos
da pedofilia em cujos instintos do pedófilo reina o berço da mentira do
carinho, afeto, afeição.
Conhaque de neneca de pitibiriba, com gelo e rodelas de limão na borda
do copo, queima o coração de paixão, separa os instintos da subjetividade, o
fogo na carne é re-velação das esperanças da libido comungada às á-gonias do
pretérito imperfeito dos subjuntivos das quimeras e ilusões.
Nadica de valores eternos, do absoluto das verdades imortais, temperada
com sal grosso, pimenta malagueta, se se quiser, pimenta do capeta, limão
galego, desperta e alimenta os instintos do coice afiado para as hipocrisias e
simulações, só a sombra delas, ainda que furtiva, já leva um tão tão bem dado
que atravessa todas as fronteiras do inferno, indo parar nas terras serenas do
"PQP". Aconselha-se o temperado moderado porque as orelhas da pessoa
podem ficar em pé, tempestade de vento não as abana mais.
Nadica de poemas de amor endereçados à amada, sem revelar o nome do
remetente, acelera-lhe o coração, faz-lhe sentir aquele frenesi na libido, só
lhe restando ler as obras de Apuleio ou as do sátíro Manoel Ferreira Neto, para
o clímax perpétuo.
Sintetizo as nenecas de pitibiriba e as nadicas de nada e vou para a
gandaia, meu coração já apaixonado quer sentir o destino da solidão da
distância, e no próximo encontro vamos nos amar, vamos morar juntos e vamos
comemorar o nosso amor à luz das nenecas de pitibiribas. Deus me livre e guarde
das nadicas de nada!
Nadica de taradice, temperada a molho pardo de frango ou galo velho,
canela de perdiz de preferência, faz o estuprador gozar de paixão e êxtase,
para depois ver o sol nascer quadrado, a violência é fissura do capeta por
estar no lugar do tarado. Aconselha-se ao tarado colocar meia xícara de açúcar
no molho pardo ou na canela de perdiz, caso contrário jamais, em tempo algum,
sua "coisinha" se eregerá...
Nadica de analfabetismo, daquela que conjuga o verbo Ser sempre no
"era" deixa de ser imperfeita, torna-se perfeita, se o analfabeto
entrega-se de corpo e alma a comer e degustar as salsinhas da estupidez, aquela
que sintetiza o desejo incólume, insofismável da essência do nada da
inteligência e sensibilidade e o absoluto das verdades.
Nadica de quem sou, de quem vive de mim e por mim, só no nada do
efêmero, vazio, náusea do ser e não-ser, satisfazem o meu apetite do eterno,
ressurreição, redenção, na contingência mesma estarei degustando o sabor das
concupiscências da liberdade e do livre-arbítrio.
(**RIO DE JANEIRO**), 21 DE JANEIRO DE 2017)
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