**EXPLICITAÇÃO EFUSIVA... ALTRUÍSMO DIZ NÃO AO EGOCENTRISMO** - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/SÁTIRA: Manoel Ferreira Neto
Distinguir o trigo do joio não é arte, não é possuir senso aguçado, mas
uma questão de não se entregar à estupidez deslavada, embora seja ela a suprema
luz da interação plena nos rebanhos de muitas estirpes e laias, alfim para não
se sentirem à margem mister a recusa da diferença.
Distingue-se os homens superiores dos inferiores em função dos primeiros
possuírem uma faculdade in-finitamente maior de ver e ouvir, como também ver e
ouvir pensando, meditando, refletindo, curtindo as delícias sui generis da importância,
do poder egrégio, precisamente isso distingue o homem do jegue, do burro, do
asno, do animal em geral, e o animal superior do inferior. O mundo se
trans-eleva e à medida que nos elevamos para o ápice da humanidade, para o cume
de todos os homens, multiplicam-se as bolas caninas do interesse, das
ideologias chinfrins, dos poderes absolutos, as excitações, que são multidão,
crescem, amadurecem sem cessar, incham-se, transbordam-se, derramam-se, ao
mesmo tempo que, rebanhos também, os diversos gêneros de prazer e de desprazer,
de realizações e fracassos se esplendem a todos os universos; o homem superior,
aquele que traz dependurada no pescoço a insígnia da verdade e do absoluto, a
cada dia mais feliz e mais desgraçado, mais orgulhoso e mais ensimesmado,mais
vaidoso e de peito estufado, a mente em pleno êxtase de conviccões e os
instintos enchafurdados nas trevas das gratuidades, ao mesmo tempo. Mas há uma
quimera que não o larga, mesmo que todos os capetinhas, devidamente
acompanhados do Saci-pererê, pulando numa única perna, em uníssono se espalhem
pela terra, rindo e dançando: acredita encontrar-se como espectador no grande
espetáculo da existência e como auditor no grande concerto da morte.
Ainda vivo, ainda penso: ainda é necessário que eu viva, pois ainda
necessito pensar nos homens superiores, o que lhes distingue da raça humana.
Não sei se haverá o amanhã, se não houver, terei deixado de dizer o que de
imediato se me a-nunciou agora sobre estes homens superiores: o que mais os
distingue é a inferioridade, sentam-se no rabo da superioridade para esconderem
suas inutilidades no mundo, para nada servem, e para não pensarem na morte, o
fim da comedia. Mas há uma cidade no Centro-Norte de Minas Gerais, onde todos
se sentam no rabo da inferioridade para serem re-colhidos e a-colhidos pelos
superiores, receberem deles a esmola para a sobrevivência.
Nos dias atuais , todos se permitem exprimir os seus mais elevados
pensamentos: vou, portanto, expressar eu também o que mais desejo e qual foi o
primeiro pensamento que veio ao meu coração quando os dois ponteiros do relógio
se uniram no "12", fim de um ano, princípio de outro.
Vou dizer qual é o pensamento que deve tornar-se a razão, a garantia e a
doçura de toda a existência que ainda terei! Desejo aprender cada vez mais a
ver o belo na necessidade das coisas - a superioridade jamais a-nuncia qualquer
beleza, pois que ela não está no raio numinoso do sol, mas na sombra ou no
crepúsculo pálido; desejo aprender mais e mais a ver o belo na necessidade das
coisas: é assim que serei sempre daqueles que tornam as coisas belas - para os
homens superiores, as coisas deixaram de ser necessárias. Amor fati (amor ao
destino) seja assim de agora em diante o meu amor. Os homens superiores já
sabem o destino deles, o que lhes estará reservado na consumação da vida,
banquete no Olimpo dos Deuses, regado do melhor vinho paradisíaco. Não pretendo
fazer guerra ao feio, destilar os ácidos críticos ao que é inconcebível. Não
pretendo acusar, nem mesmo os acusadores, aos homens superiores enviar-lhes-ei
as batatas cozidas e descascadas, deixo que as tempere a gosto, é o meu gesto
de reconhecimento e amizade, não contribuirei com a maionese para a batatanese.
Quando receberem já terá derretido, o calor está a quarenta e seis graus. Desviarei
o meu olhar de seus complexos de inferioridade, será esta ao longo dos
trezentos e sessenta dias deste novo ano a minha única negação. E, em única
palavra, portanto: não quero, a partir de hoje, ser outra coisa senão uma
pessoa que aperta a mão dos inferiores, dizendo-lhes sim a todas as esperanças,
sonhos, utopias, pois que sabem com sabedoria ser impossível rolar uma rocha
livremente de baixo para cima, mister empurrá-la..
(**RIO DE JANEIRO**, 04 DE JANEIRO DE 2017)
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