**AO TRANSMUTAR-SE, O SER ELEVA-SE, REVERBERANDO TOTAL SUBLIMIDADE DOS SENTIMENTOS** - TÍTULO E FOTOGRAFIA: Graça Fontis/PROSA POIÉTICA: Manoel Ferreira Neto
Acarreto em mim a energia des-comunal de questionar, in-vestigar,
indagar, perguntar, mais robustez que a robustez de uma questão, mais energia
que a energia de uma questão sem res-posta. Porque a questão é uma interpelação
inferior ou casual e a refutação, a expectativa para que a existência prossiga
a sua expedição sem limites à procura do “Ser”, à cata de suas águas
transparentes e vítreas.
Tu – quem és? Quem és – tu? És tu – quem? Quem tu – és? Quem és – quem?
O que é isso – ser tu? O que é tu – ser isso? Tu – quem isso ser? Isso – quem é
o ser?
És a esperança de fé que perpassa os tempos de amanhã, do infinito, dos
horizontes, do uni-verso, de confins, de arribas; és a fé que suprassume as
controvérsias dos desejos e vontades do eterno e imortal; és a utopia da
consciência-estética-ética, da cristianidade, da transcendência, da divinidade,
trans-elevância do absoluto; és o desejo do belo e da beleza, de sonhos de
encontro do ser, de ser o verbo do sublime e eterno de ser a carne do perpétuo,
da cáritas; és a consciência-ética-estética que re-cria e cria outros
uni-versos de sonhos e quimeras, de fantasias e vontades da beleza
resplandecente do amor e da felicidade.
És tu – quem? Tu - quem és? Quem és – tu? És – tu quem?
És o verbo que perpassa o sonho de esperança do amor que fecunda o
desejo de conhecer, concebe a sede de compreender o inaudito do espírito de
luz; és a poiésis nos interstícios das querências de alegrias que preencham o
vazio do ser; és a vontade que habita o sonho de fecundar o verbo do amor, o
verbo do ser e das quimeras, conjugando temas e temáticas nas raízes do tempo,
nas sementes dos re-versos, in-versos, avessos das querências, contramãos das
tristezas; és o amor da esperança de conhecer o que é o divino em ti, em nós,
nos homens.
Quem – somos nós? Nós – quem somos? Somos quem – nós? Nós – quem somos?
A ausência de nós, a querência do múltiplo, o instinto do obtuso, a
busca do pleno, a vontade do absoluto, a perda, o des-encontro, o vazio, o
vácuo, o nada, as sorrelfas, os idílios, as nonadas, travessias, os olhos
voltados para o infinito, a alma no compasso do quotidiano e do real à busca da
presença das alegrias, prazeres, do eterno e imortal, mesmo no vai-e-vem do
efêmero e etéreo, mesmo na rede do sim e do não, mesmo na dança escalafobética
da contradição e das ambigüidades da consciência do presente entrelaçada à
consciência histórica, à história da inconsciência.
Somos nós – quem? Somos quem – nós? Nós quem – somos?
Somos os braços para a-colher, envolver, afagar e dar o colinho do peito
ao outro, aos humildes, aos pobres, aos simples; somos o coração para amar,
somos o espírito para sensibilizar, somos a alma para desejar, somos a vontade
da paz, da felicidade, de nos encontrarmos, de nos encontrarmos em Deus, nas
emoções verdadeiras, nos sentimentos de compaixão, solidariedade, somos a
verdade à busca do Espírito Santo de nossos pecados e culpas.
Que cantamos – nós? Nós – o que cantamos? Cantamos o quê – nós?
A graça de sermos vocacionados à felicidade, à paz, ao conhecimento de
sermos quem somos; o espírito no ritmo das buscas do bem e da compaixão, nos
acordes do tempo e vivências, da solidariedade e da amizade, a alma na
musicalidade dos desejos de ser, da verdade.
De quem cantamos – a graça? A graça de quem - cantamos? Cantamos a graça
– de quem?
De quem mais soube a poética do Ser, a poiésis do espírito, a palavra
que entranha e des-entranha o mistério da fé, da esperança, o soneto de rimas
que deseja a chave-de-ouro do verbo que encarna a vida no tempo de viver, da
carne que verbaliza o tempo na vida de todas as utopias e quimeras; a semântica
e a linguística de re-versar os vernáculos para o tecimento da verdade do
espírito.
A graça – de quem cantamos? De quem – cantamos a graça? Cantamos – de
quem a graça?
De quem sentiu nos interstícios do espírito O que é isto – a busca do
Ser? De quem buscou no inconsciente divino a fé que alimenta a vida, a
esperança que pro-jeta os sonhos e fantasias, o amor que nos embala no
vai-e-vem dos tempos e das utopias. De quem construiu a vida com o suor das
lutas e labutas, com a fé das virtudes éticas e morais.
Que cantaste – tu? Tu – que cantaste? Cantaste tu – o quê?
O conhecimento do ser nas dialéticas da ec-sistência, o vazio do não-ser
na profundidade ausente/presente, na superficialidade dos
interesses/ideologias, nos desejos forclusivos da psique e mente; a fé no ser
que des-vela a floresta silvestre do sentimento, o abismo profundo da alma nas
fontes metafísicas do divino, na teologia imanente da transcendência.
Cantaste o quê – tu? Quê – cantaste tu? Cantaste – tu, o quê?
O amor que só vive de entrega e doações, o carinho que só ec-siste de
toques e re-toques. A ternura que só alimenta o sensível e a sensibilidade de
sorrelfas do sentimento e emoções. A compreensão que fecunda o coração dos
homens, o entendimento que rega o espírito, a solidariedade que comunga o eu e
o outro e condu-los ao desejo da conquista e real-ização. A paz de saber a
vida, koinonia do sonho e verbo.
De que modo - cantastes? Cantastes – de que modo? De quê – cantastes o
modo?
Na melodia simples de versos profundos, que ascendem ao numinoso os
verbos do eterno, na eternidade da memória, na lembrança do espírito
subterrâneo; na musicalidade ingênua e inocente de estrofes que rogam a
intuição pura da vida, a percepção singela das veredas que ao ser da floresta
nos envia para con-templarmos a suavidade do uni-verso, a tern-idade do
infinito, a sublimidade do horizonte no crepúsculo da sensibilidade, a
éter(idade) do cristal-vida na dialética do ser no não-ser da dialética; no
ritmo sensível de palavras poiéticas, de poiéticos significados nos
significantes do verbo que precede a carne, de poéticos inter-ditos na
significância dos sentidos não revelados.
A quem amastes – tu? Tu – amastes a quem? A quem tu – amastes?
À doce esposa e companheira, aos filhos, aos alunos a quem desejastes no
coração o encontro da vida, da realização, aos homens, a quem desejastes a
plenitude da fé, o verbo do amor, entre-vírgulas o adjetivo do divino; a Deus
amou na divin-idade de seu Ser, no Ser da divin-idade do amor; a Cristo rogou e
implorou, contemplando a Salvação, redenção, a liberdade humanística da
Vida/Ser, o Ser humanístico da Liberdade/Vida, a Vida humanística do
Ser-Liberdade.
Nobremente sofreste – tu? Sofreste tu – nobremente? Tu – sofreste
nobremente?
Como homem de fé, esperanças, quem com-preendeu, sentiu, viveu,
vivenciou, experimentou os atos-falhos, a forclusividade, a ausência, o vazio,
mas no espírito, ainda que a alma des-esperançada abisma-se nas cataratas de
fontes abissais, cantaste a canção do espírito, os cânticos do amor e do verbo,
cantastes a solidariedade, compaixão, num mundo de sofrimento, dores,
angústias; sofreste nobremente, a nobreza da esperança da fé, do amor sofrestes
em busca do Espírito/Ser.
Foste tu – homem forte? Homem forte foste – tu? Tu, homem – fostes
forte?
Sinto a tua força nestas palavras, nesta linguagem de meus sentimentos,
neste estilo de elaborar as emoções que revelam a tua ausência no mundo, no
coração de todos os que receberam tuas lições, teus conselhos, teus desejos de
liberdade, fé, esperança; no espírito de tua família que alimentou de sua alma
compassiva e solidária o amor de teu verbo-conhecer o simples, os versos,
estrofes de sensibilidade, as notas, ritmo, musicalidade. Mas a tua presença
sensível e intelectual em todos os séculos e milênios de nossa vida, de todos
nós que contigo convivemos, aprendemos a amar o belo, a beleza, a desejar o que
liberta, será Estrela Polar que nos guiará, mostrar-nos as veredas dos campos
silvestres por onde trilhar e querer o amor... A esperança... A fé....
Voz aberta ao insondável, eis que, porém, reconheço agora que se abre
apenas ao insondável de mim. Regresso a mim, ao meu corpo distinto e
classificável onde todo o milagre aconteceu. E pergunto-me, suspenso, como foi
possível, como é que uma breve semente abriu assim até essa Voz, até ao
silêncio donde essa Voz se re-velou, donde essa Voz falou, donde essa voz
gritou a todos os ventos os seus medos e esperanças. Frente ao grande sono dos
homens que o esqueceram, na atenção inexorável ao sem limite de mim, a minha
vigília arde como um fogo assassino. Lume breve na minha intimidade, na
brevidade de um pequeno ser, eu, anônimo e avulso, ocasional e frágil – eu. E
todavia, esse lume vibra de vigor, brilha único e intenso contra o assalto da
noite, contra o salto do sono ao sonho, contra a travessia do sono à vigília.
Trago em mim a força monstruosa de interrogar, mais força que a força de
uma pergunta. Porque a pergunta é uma interrogação segunda ou acidental e a
resposta, a espera para que a vida continue a sua jornada sem limites em busca
do “Ser”, à busca de suas águas límpidas e cristalinas.
(**RIO DE JANEIRO**, 21 DE JANEIRO DE 2017)
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