MARIA ISABEL CUNHA ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA COMENTA O AFORISMO 878 /**O SONHO DO VERBO SER NA RODA VIVA DAS DIALÉCTICAS CONCEBE O ETERNO
O autor relembrando angústias do passado, esperanças não concretizadas,
pontes caídas, sente o frio da melancolia. Tempo, vento e ser, trilogia que se
confunde nas vicissitudes da vida por que já passou e sofreu, Teve de se
adaptar a este mundo injusto e hostil, mas não esqueceu as pedras lançadas,
pois não poderá esquecer quem as projetou. Na alma tudo é fértil, tudo
produtivo, estas pedras ajudaram-no a tornar-se mais forte no encalço do
eterno. Excelente texto como sempre.
Maria Isabel Cunha
Há a quem o perdão não seja possível, nem mesmo viável ou plausível;
é-lhe, se o quiser, permissível esquecer. Não acredito no perdão por o
esquecimento não ser possível, isso é para quem nutre a vida com o temor a
Deus, perdoar e esquecer garantem a redenção e a ressurreição. As pedras servem
para edificar a muralha dos projetos e realizações: assim se deu a adaptação ao
mundo. O que importa é o eterno; o resto é silêncio.
Manoel Ferreira Neto
#AFORISMO 878/
O SONHO DO VERBO SER NA RODA-VIVA DAS DIALÉTICAS CONCEBE O ETERNO#
GRAÇA FONTIS:
PINTURA
Manoel Ferreira Neto:
AFORISMO
Frágil sentir o friozinho dos ventos contraditórios, chamas da lareira
acompanhadas de vinho não aquecem, não aquiescem as tramoias, cambalachos,
tripúdios com as melancolias, a alma se embrulha toda no sudário das
nostalgias.
Con-vexos idílios velados de tempos inestimáveis, tempos inenarráveis,
indescritíveis, tempos que nem as chuvas tiveram noção deles, que a memória
a-colhe em seu bojo, remontando às "zagaias" do caos, às
"onças" do absurdo, tempos estranhos, vãos ideais da verdade.
Côn-cavas quimeras escondidas atrás da superfície lisa do espelho,
furtivas idéias da in-fern-itude, alfim de que não são capazes os dogmas e
preceitos? São as serpentes a envenerarem na continuidade do tempo a liberdade
e a consciência-da-ética. Côn-cavas sorrelfas enoveladas, entrelaçadas nas
bordas da moldura do espelho, proscritos pensamentos do purgatório - o
purgatório está extinto dos dogmas e preceitos, incorporou-se ao inferno.
Tergi-versadas ilusões trancafiadas nos cofres da memória, fúteis
utopias do ab-soluto que re-colhe e a-colhe as luzes do in-finito.
Des-conexas fantasias enveladas de éritos das volúpias e ex-tases,
hilárias esperanças do ad-vir a-nunciado nas bordas do uni-verso, e nos
horizontes alhures a neblina sarapalha os ventos, algures o orvalho da
madrugada paira leve e suave. O céu cintila sobre flores úmidas. Há um campo
cheio de sono, eis-me trans-portado sonho e murmúrio de sono e antigas
confissões, confidências.
Tempo
e
vento.
Tempo
e
ser.
Ventos e Ser.
Tem dias que se se sente como quem idealizou o nada, sonhou o vazio,
teve fissuras pelas nonadas, a vida sarapalha de leste a felicidade e amor
plenos, resta sentir o sabor do contrário que seduz a língua a criar eruditos
vernáculos da decepção para atiçar a alma a re-fletir as sinuosidades da vereda
que levam ao ser do efêmero, ao efêmero das metafísicas do inferno.
No entrecorrer da minha presença já tive que transpor as quimeras! Nas
pontes partidas de minhas travessias tive de nonadear nas curvas das estradas,
experienciar os travos, vivenciar os nós górdios, fraternizar com desvigorosos,
solidarizar com des-conexos, condescender os traiçoeiros, relevar os injustos e
desumanos, mas espicacei preservar-me na vertical, conservar-me na horizontal
de meus ideais heréticos, inclusivamente com calhaus acertaram-me em pejado,
escorraçaram-me com as mãos nas costas.
Expurguei do ser o motim vil, a humilhação pleonástica, a ofensa
metafórica, a desinquietação oca, o ceticismo inautêntico, o niilismo inócuo e
sem quaisquer sensos, reacendi meu imo à existência. Libertei reflorir amizade,
em questão o re-criar o verbo amar dos sonhos. Analisei em redor e para o
paraíso sem termo... Interpretei ao longe e para a eternidade obtusa...
Ajustei-me com o planeta tão impiedoso, com o mundo tão errado, adaptei-me à
existência, com arduidade à existência e ao Universo que granjeava para mim. No
entanto, nada olvidei, contudo nada protelei ou posterguei. Os calhaus
conservei, não para construir um forte. Já é um cliché démodé….Somente para
relembrar quem os projetou.
Terrenos da alma, nada há de baldio neles.
O sonho do verbo ser na roda-vida das dialéticas concebe o eterno.
(#RIODEJANEIRO#, 18 DE JUNHO DE 2018)
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