#AFORISMO 915/ LABIRINTOS NÍTIDOS E NULOS DE DESEJOS# (Manoel Ferreira NETO - Fevereiro de 1989) - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Encontro-me a um passo de exceder os absurdos
acumulados da carne - uma sensação mista de culpa e profusão - e nada é capaz
de dominar os ímpetos de entrega. Quero-me em nível da duplicidade
carne/desejo, da ambigüidade corpo/vontade, e nada mais obstacularizando os
ímpetos de um clímax eterno e efêmero. Sensações unívocas e equívocas de uma
angústia, tomando as rédeas da claridade, evidência, emergem lúcidas do fosso
dos desejos constantes de prazer e astúcia. Sou uma miríade de sentimentos a
transbordar-me, exceder-me, ultrapassar-me, e caminho consciente pelas veredas
da vontade de interação.
Desejo-me cúmplice de uma consciência embasada nos
desejos da carne - a razão cumpriu sua elaboração na fantasia, o logos cumpriu
sua organização na imaginação... O edifício imaginário reviu suas bases,
desmoronando desejos seculares de uma vida sem raízes. Qualquer coisa
distendeu-se nas sensações carnais, e agora sinto uma dispersão enorme de
sentimentos e emoções a tomarem-me por inteiro, e sou sentido em medos e
euforias.
Inclino-me ao rés-do-chão, iniciando os passos por
alamedas íngremes e viçosas das percepções de um seio viril. Os pênis duplos do
desejo e da razão, desfacelados e insatisfeitos de realização, aglutinam-se e
dispersam-se num diapasão sensível, e o corpo afigurar-se a dissolver-se,
deixando as sensações abrirem-se.
Emoções espelhadas numa congruência fácil e
espontânea de carícias e ternuras colocam-me livre e escravo de vontades nunca
dantes nem mesmo imaginadas. O medo excêntrico dos absurdos da carne, vividos
na cabeça do tempo, faz sobreviver um refúgio, faz viver uma fuga, e o homem
mergulha na insatisfação. Surgida da insaciabilidade, a impetuosidade de uma
lembrança de sangue a jorrar nas veias da razão, um confronto da esperança e a
angústia do inominável. Mergulho-me fresco e volútil nas ondas do ímpeto de uma
metamorfose viva, a engolfar-me, retirando-me fundo das obscuridades dos
sentimentos ambíguos. Sou impetuoso, de modo a rasgar-me as vísceras dos
sentimentos de ternura e carinho pelo viver o mundo.
Sou uma dispersidade nos sentimentos de viver um
ímpeto da carne e dos desejos, uma univocidade nos interstícios dos sentimentos
volúteis de uma vida de sangue profusivo e disparatado da consciência. Até o
instante presente, perambulando pelas alamedas do sensível, buscando a
elucidação e entendimento, estive a envelar uma profusão enorme de tesão e
desejo pelo clímax. Afigura-se-me este sentimento, úmido em seu interior, suave
em suas bordas, ser uma ambigüidade amena e triste de um desejo não realizado e
o viver girando assiduamente sem qualquer ponto de segurança.
Se, interiorizado e hermético nas associações á
busca do entendimento dos enigmas da carne, segredos do sangue, mistérios do
corpo, sinto estar esgarçando e ampliando as emoções, há um engano
incorruptível e irreversível presente na sombra de uma manifestação. Se, imerso
em ondas de calor e volúpia, sou trazido em nível deste desejo da carne e do
corpo, as associações livres empreendem sentimentos espontâneos e suaves.
Um vento ameno e suave surge nas antípodas de
minhalma, percorrendo os labirintos das vísceras e veias. Se faz aparecer uma
sensação de prazer e júbilo pelo inusitado desejo?...
Se vivido de modo lúcido na intimidade um amor
dilacerante, logo sou envolvido por um êxtase latente de dores e prazer, e
sinto logo um amofinamento do corpo. Suave e contínua é a linguagem desta
alegria ora surgida nos interstícios de desejos por desfrutar e estar
desfrutando de mim. Há dúvidas de, se me encontro em nível de uma compreensão
do minuto presente de sentimentos ou do entendimento carnal de emoções.
Veredas lúcidas de uma consciência a habitarem-me o
íntimo - surjo-me à luz do sol e o rosto inicia a ejacular um suor quente. A
língua do tempo, a ofuscar-me a visão, traz-me este obnubilamento dos desejos e
sou inteiro recolhido no medo. Tempestuosas carícias e ternuras vêm residir-me
o peito em busca de encobrirem uma angústia de entender o medo do amor, uma
agonia de compreender a resistência de amar.
A solidão habita-me os recônditos do espírito e só
encontro a sua superação no desejo de liberdade de entregar-me inteiro.
Fecho-me sensível às posturas da abstração de ser indivíduo, conservando um
profundo amor pela constituição das ternuras. Abro-me consciente às colocações
da contingência de ser sujeito/verbo, elaborando os sentimentos ávidos de
afetividade/carinho no seio de conteúdo humano.
Impetuosa paixão pelo sentimento de viver os resultados
contingentes do prazer vem surgindo saltitante pelos interstícios de olhar,
buscando as sensações alegres do peito. Impulsivo amor pelas emoções de agir a
alma feliz do desejo inicia-se aproximando alegre nas veredas da consciência,
procurando os desejos reais do espírito. Profusivo carinho pelas ternuras de
sentir o espírito alegre da árdua tarefa de instituir os caminhos do amor e da
liberdade começa aflorando-se contente nos labirintos da capacidade,
manifestando a calma real da linguagem.
Ávidas carícias desta postura de ir pensando e
organizando as ações em conformidade e harmonia com a esperança. O corpo,
ambíguo em suas sensações de desejo, postula-me a percepção do olhar as
situações antes da intuição de decidir as ações. Tempestuosos sentimentos de
doação dalma e intercâmbio de carícias habitam-me fundo o seio, e sou quase uma
alegria absoluta.
Invade-me enorme volúpia e desejo de ir residir
inocente e puro nas alamedas de um amor efusivo e real. Surge-me angústia a
perambular e deslizar no sangue vivo: serei apto a realizar este amor?
Quisera-me lúcido e louco a tergiversar pelos labirintos nítidos e nulos de
desejos. Sou felicidade translúcida a transbordar a garganta da linguagem,
Intencionando inda mais a completude do corpo e sentimentos. Sou uma iminência
de clímax no pênis real de prazeres, intencionando o gozo na vagina de desejos
evidentes. Sou um gozo no pênis simbólico da consciência, reivindicando a
formação do ser homem.
Quisera-me uma alegria da linguagem de desejos,
ejaculando a completude dos prazeres, e tudo o que é elaborado são repetições
de adjetivos e advérbios. Sinto a nitidez de instituições, aspirando
encontrar-me com a lucidez de viver. Pudera-me o retorno lúcido às perdas,
re-elaborando o sujeito, fazendo a completude clara do verbo de viver a
singularidade.
(#RIODEJANEIRO#, 29 DE JUNHO DE 2018)
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