Maria Isabel Cunha ESCRITORA E POETISA COMENTA O AFORISMO 889 /**O OUTRO NÃO ANDA NOS MEUS SAPATOS**/ PROJECTO #INTERCÂMBIO CULTURAL E INTELECTUAL#
O Eu e o outro! Há tanto para dizer sobre o autor que busca
incessantemente pelo significado do Ser! Conhecer-se a si próprio, tarefa
árdua, mas muito mais complexo é fundamentar o Ser, a existência, porquê e para
quê existir? E como existente, donde vim e para onde vou, qual o caminho a
seguir? O Outro é outro ser totalmente diferente e indiferente ou não, mas
exterior ao eu. Excelente texto, escritor Manoel Ferreira Neto.
Maria Isabel Cunha
#O OUTRO NÃO ANDA NOS MEUS SAPATOS#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Se decido veemente que o outro nada tem a dizer-me, nada há de seus
valores e dignidades que me façam tergi-versar os caminhos, embrenhar-me por
outros caminhos-da-roça, nada tem a acrescentar nos meus valores, tornar-me
outro homem, não porque o que professo seja a verdade inconteste, enxergo além
da ponta de meu nariz adunco, enxergo além do eterno, do absoluto, do ab-surdo,
do instante-limite, enxergo a vida na sua pureza, na sua essência,
simplesmente, se investigo com percuciência suas atitudes, ações, gestos,
comportamentos são fundamentados na superioridade, hegemonidade, nas sementes e
raízes do poder, embora as obtusidades da natureza e da condição, dos
instintos, das fugas e escapadelas, nada e ninguém há que me convença,
persuada-me a ser, ao menos, ouvinte da fala, até dizendo ele que "saber
ouvir é manifestação de valor... de alguém quem está aberto e escancarado a
outras conquistas..." Decidi que o outro nada tem a dizer-me. Se tenho
consciência, se sei com veemência de que, no estar-sendo, estou de olho aberto
para os equívocos, enganos, erros, fantasias, quimeras, tremelicando,
estrebuchando por um raio de luz que ilumine, por que haveria de ouvir com os
ouvidos, escutar com o coração as pernosticidades, as superioridades, os
complexos de grandeza e importância? Prefiro arrastar-me nas sarjetas, esmolar
nas portas das igrejas por um pão a engabelar-me a fome, morrer indigente, ser
enterrado num caixão de nada, sofrer o pão que o diabo amassou com o rabo, a
dar qualquer crédito a este outro.
Aliás, o outro não anda nos meus sapatos, nada sabe do que interiormente
me habita, não tem conhecimento de meus limites, dos liames limítrofes de meu
ser.
O outro é o outro, eu ainda estou por ser, estou à busca de quem sou, do
que re-presento, de quem está dis-posto a morrer por sua liberdade, por suas
verdades, inda que frutos da imaginação fértil.
(**RIO DE JANEIRO**, 19 DE JUNHO DE 2017)
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