#AFORISMO 913/ MELHOR A DES-HONRA QUE SE IGNORA À HONRA EXPOSTA À OPINIÃO ALHEIA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
A subjetividade re-veste a leitura de sentimentos e emoções, deseja
mostrar-se na sua plenitude e absolutidade.
Os homens somos eternos questionadores, “devotos” dos porquês! (Pobre de
quem não pergunta: nada tem dentro de si, vive dos medos das respostas, vive na
escuridão dos desejos e vontades!). A pobreza dos homens, hoje, ultrapassa
todos os limites; ninguém se dis-põe às perguntas, ninguém se angustia com a
ausência de respostas; estamos todos enchafurdados nos prazeres materiais –
tanto melhor, pois que nada nos exige, nada nos obriga, não sentiremos qualquer
dor ou sofrimento de uma busca verdadeira.
Onde estou, infeliz de mim? Que escuridão é essa, que trevas me rodeiam?
Estou no paraíso de minha inocência ou no inferno de minhas culpas? O que
oscila entre o espelho e a memória? O que desaparece na curva do tempo? Quem me
toca? Ó tu, quem quer sejas, que estás aqui comigo, se é que tua alma admite
qualquer espécie de súplica, de rogo, as mãos de pedinte a mostrar-lhe,
suplico-te, já que dispuseste de minha reputação, dispõe também de minha vida.
Estou pronto a deixar-te reconduzir-me à meia-noite, a qualquer hora, de
olhos vendados, aonde tu quiseres para comunicar a notícia de minha boa sorte,
retirando-me a venda dos olhos num quarto escuro, iluminado apenas por uma
lampadazinha, colocada numa prateleira, mas esplendidamente mobiliada com sofás
do brocado mais rico e tapetes persas do mais custoso feitio.
Convido-te, sem mais preâmbulos, a exibir aos teus olhos a lisonja
abjecta e insignificante da dignidade de tomar conhecimento de minha pessoa...
Sem espírito nem finura, tenho eu, entretanto, certa falsidade natural, se ouso
exprimir-me assim, que por vezes me espanta a mim e que dará êxitos tanto
maiores quanto minha fisionomia oferece a imagem da candura e da ingenuidade.
Seria bem feliz se a escuridão da madrugada que em breve se fará
presente durasse para sempre, sem que meus olhos voltassem a ver a luz do mundo
e que este quarto, onde agora estou, sirva de sepultura para minha honra, pois
é melhor a desonra que se ignora à honra exposta à opinião dos outros.
Não, o sonho não ultrapassará este quarto, a esperança não irá mais
longe que o fim da rua principal, a mentira cairá como uma guilhotina, o
racismo permanecerá fiel a si mesmo, as asas da corrupção ultrapassarão séculos
e milênios num voo de prazeres e felicidade, lava-jato funcionará a carvão
molhado até a consumação dos tempos.
Onde as gavetas se abrirem de luto, a casa se confunde com a morte num
ESPELHO que se turva. Em cada lembrança transporto pedras do riacho para o alto
das paredes. Tudo o que fazem os bosques, os rios ou o ar tem lugar entre as
paredes que creem fechar um quarto.
(#RIODEJANEIRO#, 29 DE JUNHO DE 2018)
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