ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA COMENTA O TEXTO /**A ESPERANÇA RE-COLHE E A-COLHE O SONHO**/ - PROJECTO #INTERCÂMBIO CULTURAL E INTELECTUAL#
A ESPERANÇA RE-COLHE E A-COLHE O SONHO
Manoel Ferreira Neto.
No habitar, provocamos balizas. Criados com a perpetuidade na alma,
acarretamos o imperioso de idealizar para além do exequível. O inverosímil nos
atrai. Vive quem não se apazigua, mas se arroja na rédea do futuro,
incessantemente a se arredar de nós; no habitar, arriscamos trasbordar o fio
que junta paraíso e oceano.
Em nossa voracidade de existir, possuímos inteligência de descobrir a
pedra filosofal até de metamorfosear calhaus em pedras preciosas. Cabe qualquer
hipérbole em nosso desejo pelo indizível. Algum erário se camufla na pegada
écloga e apertada por onde bem escassos romeiros se arriscam.
Os que se atrevem convertem-se emissários da esperança e artistas de uma
nova narração. Os sigilos do amanhã só serão famosos por seres perseverantes.
Eles já sabem: a existência encontra-se no caminho, jamais na entrada.
Para terminar, fico duplamente satisfeita que o encontro seja mais que
real amigo Manoel Ferreira Neto. Vale a pena ter esperança e agasalhá- la e
hospedá-la no sonho que havia tido.
Ana Júlia Machado
A ESPERANÇA RE-COLHE E A-COLHE O SONHO
Quem sabe não lhe dissesse, na saída de uma peça teatral, vernissagem,
lançamento de obras literárias. aquela tão famosíssima vida artística, sentados
numa pracinha pública no crepúsculo, relembrando os momentos de nossas vidas,
contando os "causos", a vida íntima, felizes, alegres, e vamos
seguindo os nossos caminhos do campo, sabendo nossa vida como cônjuges e
artística estará na história como símbolo de Amor e Amizade... Rio-me, quando
penso numa cena de assédio feminino, no métier artístico isto é público e
notório, o seu ciúme, e se a assediante não tivesse senso, após uma resposta
sei que terá, acho que nem Deus evitaria a consequência... Nalgum lançamento de
livro meu, sou o protagonista do evento, alguma engraçadinha desse-me cantada
rasgada, ficaria esquisito duas mulheres a tapas, puxões de cabelos, rolando no
chão por causa de cantada ao escritor num lançamento, estampado nas manchetes
de jornais, revistas... escandalozinho furtivo. Antes de vôo a Paris, a
correria fora tanta que me esqueceu o celular em casa, você olhando muito
séria, acertaríamos essa questão no apartamento de um hotel... Aquela conversa
seriíssima. Numa vernissagem, tenho algum problema de saúde, e você não podendo
adiar as coisas, viajando preocupadíssima... Versos e in-versos, mas caminhada
junto, levando nossa arte por todos os lugares, e nossa intimidade. Jamais fui
ratinho de eventos sociais, amo estar em casa, criando, vivendo o quotidiano da
vida, seus afazeres, responsabilidades, o amor presente. Mais jovem, não vivia
de eventos de lançamentos de livros, acontecimentos culturais, a intimidade, no
meu lar, aquela mineirice do aconchego familiar é característica cultural
minha, desde criança, amava estar na sala, sentado numa poltrona, lendo, e
jovem, na biblioteca, escrevendo e lendo, criando, mas as coisas acontecem na
vida, teremos de, quando em vez, dar uma daqueles en passant nestes eventos...
Do jeito que é, refiro-me a friorenta, aqueles tantos cobertores e edredons, mais
do que agarrada em mim, e dizendo que irá mandar instalar uma lareira em nossa
choupana, de preferência nalgum lugar onde a natureza resplende a sua beleza,
oitentões fazendo nossos passeios...
Sonhos... Sonhos... Jovem, sonhava o encontro com alguém, poderia ser
artesã, pintora, escritora, poetisa, e ambos juntos, cônjuges, vida artística
juntos, por sempre juntos. Desejava isto na juventude, prolongou-se por anos,
mas silêncios interiores diziam algum dia iria acontecer, outros horizontes e
uni-versos adviriam, Tornar-se-ia realidade. Por ter formação filosófica
existencialista, e tendo com Sartre e Simone de Beauvoir acontecido exatamente
isto, encontraram-se, amigos para sempre, eternos como escritores, isto não
aconteceria comigo, diziam todos, alguns com aqueles olhares de soslaio,
"- puro delírio."
Sonhar isto significa algo, querer para si o que não é de si, mas e
quando isto estava escrito nas estrelas, este "causo".
Lembranças de sonhos passados, misturadas a realidades presentes e
reais, um "causo" que aconteceu entre um escritor e uma
artista-plástica, tornou-se eterno. Velhinhos passeando de braços dados no
crepúsculo, no inverno muito bem agasalhados, partiram, mas haverá esta
história sendo contada por toda a eternidade.
Para finalizar, você me perguntaria:
- Por que está rindo?
- Porque é um homem, fortíssimo candidato aos sessenta anos, está
sentado num banquinho de praça pública, sonhando acontecer isto com ele,
contando para uma jovem menina de 10 anos, sua sobrinha-neta, contava a
história desejando acontecer com ele um dia.
E você aí caindo na gargalhada, saindo rindo para apanhar outra garrafa
de vinho na geladeira, para terminar o nosso almoço, jogando os cabelos para
trás.
Manoel Ferreira Neto.
(21 de junho de 2016)
(#RIODEJANEIRO#, 23 DE JUNHO DE 2018)
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