ANA JÚLIA MACHADO CRÍTICA LITERÁRIA ESCRITORA E POETISA COMENTA O AFORISMO 887 /*SÓ O HOMEM SABE DE SUAS CONTINGÊNCIAS**/ - PROJECTO #INTERCÂMBIO CULTURAL E INTELECTUAL#
SÓ O HOMEM SABE DE SUAS CONTINGÊNCIAS
Manoel Ferreira Neto
O que há de novo em liberdade é que actualmente, a libertinagem é o
emprego iludido da independência, isto é, empregar a liberdade sem o bom tino,
sem apreço, exceder balizas.
O homem impudico procura gerar as realidades de concordância com o seu
arbítrio, sem se incomodar com as exequíveis sequelas, tal procedimento iludido
propende-se a parir homens igualmente inconscientes pois no frenesi de
verbalizar que são criaturas independentes praticam barbaridades e quando
inquiridas o motivo de tais posturas ainda tentam evasivas das mais andrajosas
factíveis para legitimarem seus feitos abomináveis.
Antagónico de deboche é a liberdade que pode ser decretada como o dever
de abalar, regressar e operar de concordância com o inerente desejo desde que
não lese outra criatura. A filosofia descreve a liberdade como sendo a
liberdade do ser humano, o dever de possuir independência e naturalidade. A
independência pode sugerir ser fantasiosa ao interrogarmos se verdadeiramente
os sujeitos possuem a liberdade que asseveram possuir, se presentemente os
meios de comunicação (internet, TV, rádio, etc.) faculta ainda a independência
de ser ou somos regulados a adoptar estabelecidos paradigmas que são forçados.
Para Sartre a independência é a circunstância da sabedoria do ser em
sentido lato que, encarando o ser em si mesmo, o alberga como independente, não
se interessando com o jeito pelo qual ele se exterioriza, do ser humano,
desigual de outros seres o indivíduo é antes de tudo independente, isto é, o
homem é nentes antes de afirmar-se como algo, é completamente independente para
afirmar-se, seduzir-se, enclausurar-se, esvaziar a si próprio. O tema liberdade
é fulcral em todo o entendimento sartriano e segundo ele a liberdade deve ser
completa senão ela não existe.
É relevante finalizar, que devemos sim usar a nossa liberdade mas
incessantemente com sensatez para que nossas posturas não conduzam sinais
contraproducentes, liberdade sim mas devassidão nunca.
Liberdade com senso para o homem poder sentir a sua expectativa do
perene. Bom texto amigo Manoel Ferreira Neto e que dava para pano com muitas
mangas...
Ana Júlia Machado.
#AFORISMO 887/
SÓ O HOMEM SABE DE SUAS CONTINGÊNCIAS#
GRAÇA FONTIS:
PINTURA
Manoel Ferreira Neto:
AFORISMO
"Dizem que a Verdade, a Vida pertencem a Deus, Ele revela os
caminhos. Não. A verdade, a vida pertencem ao homem nas suas caminhadas nas
estradas de pós, poeiras e metafísicas."
O que é isto - O NOVO?
Seria que existe, ou que não existisse, o novo em si mesmo ou é ilusão
da contingência sempre à espreita de outras realidades, horizontes e uni-versos
que lhe a-nuncie dimensões do ser, do verbo in-fin-itivo ao ser in-finito de
felicidade e compl-etude?
Em verdade, situações e circunstâncias da vida re-velam possibilidades,
probabilidades, chances de a vida ser diferente, de sonhos e esperanças serem
realizados, degustar outros sabores da maçã, desfrutar outros sentimentos de
buscas e desejos, outras emoções da alegria, mas depende da entrega absoluta ao
que se revela "tempo novo", com lutas, labutas, dificuldades,
facilidades, da consciência do que significou o passado dos volos e desejos
futurais.
O tempo é sábio, e só revelam oportunidades e possibilidades, se as
experiências e vivências do homem tornaram-lhe consciente da necessidade de a
vida ser, do verbo do ser dever ser construído com dignidade e honra, se está
mesmo decidido a ser outro. Caso contrário, nada a-nuncia, nada manifesta, o
mesmo existencial será eterno e absoluto. Outra oportunidade não haverá, se o
homem se não entregar ao que será o "novo", a vida.
O verbo da vida, realizá-lo, não é somente construir a obra que será
fruto para os descendentes, valores éticos e morais, para outras gerações,
valores eternos e imortais, bens materiais; o verbo da vida é a sabedoria de o
ser ser a pedra angular da vida, só podendo ser desfrutado com a liberdade,
esperança e sonhos. Sem o verbo da vida, o homem apenas residiu na terra,
arrastou-se no solo, nas sarjetas, nos terrenos baldios, nas calçadas, acabou
cinzas no sepulcro coberto de terra. Não frequentou o mundo. Nada obtuso.
Às vezes, a grande oportunidade de o verbo da vida ser instituído surge
quando o homem já está maduro, e se olha, mesmo que de soslaio, esguelha, para
o futuro sente que não lhe resta muito tempo para o verbo da vida, para a
sabedoria, nada assim pode ser simples aventura, aquilo de "se não for
agora, será noutro tempo", a entrega deve ser total, plena, sem dúvidas,
incertezas, óbvio com questionamentos inda mais profundos e abismáticos, o ser
é sempre a continuidade do desejo de ser, é sempre o silêncio à busca da voz da
verdade.
Se, neste instante em que sinto o tempo se me a-nuncia a possibilidade
real e verdadeira de o verbo da vida ser concretizado, tornar-me homem, ser o
outro de mim, realizar a vida, cuidar dos prazeres e alegrias, amar amando o
amor, amar conciliando e comungando o "eu" e o "tu"
sin-crônica e harmoniosamente, penso e sinto, vice-versa, a vida é-me solidária
e compassiva, está-me colocando, em mãos feitas esperança, a derradeira
oportunidade de conjugar os tempos do verbo ser, não se trata mais de resta
esta oportunidade com espírito de um caminhar na estrada, sujeito a curvas,
aclives e declives, mas a jornada nas sendas e veredas do campo, campo porque
sou cônscio das poeiras e pós das estradas em que trilhei, da areia que piso
hoje...
Novo tempo. Tempo de verbalizar o ser. Dizem que a Verdade, a Vida
pertencem a Deus, Ele revela os caminhos. Não. A verdade, a vida pertencem ao
homem nas suas caminhadas nas estradas de pós, poeiras e metafísicas, nas suas
andanças nos caminhos do campo.
Só o homem sabe de suas contingências, só o homem sente a sua esperança
do eterno. Só o homem é a humanidade do ser.
(#RIODEJANEIRO#, 20 DE JUNHO DE 2018)
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