#AFORISMO 910/ LAREIRA DO VENTO E DO SILÊNCIO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
E agora, José, que as minhas perguntas a você são diferentes das que
Carlos Drummond de Andrade lhe fizera, você acha que vão me crucificar?
E agora, José, que o uni-verso come com linces do olhar os in-fin-itivos
de confis e alhures?
E agora, José, que o instante-limite do nada é o absurdo das
facticidades?
E agora, José, que as páginas em branco dos ideais do belo permanecerão
vazias de letras?
E agora, José, que a vida é somente a última esperança da eternidade?
E agora, José, que o tempo silenciou os sibilos do vento?
E agora, José, que o vento espalhou as folhas secas ao longo da colina?
E agora, José, que os janeiros do rio passam de por baixo das pontes
partidas?
Trevas. Sombras. Vazios. Nonadas.
Silêncio. Vento. Solidão. Nada.
Tempo. Silêncio. Náusea. Verbos.
E agora, José, as esperanças iluminam o ad-vir.
E agora, José, os sonhos a-lumbram perspectivas do In-finito.
E agora, José, as utopias verbalizam as con-tingências dos ideais e
volos do póstumo.
E agora, José, as estrelas velam o ossuário da terra.
E agora, José, a lua brilha no horizonte inspirando o in-trans-itivo
verbo de amar.
E agora, José, as ausências do ser re-fletem nos terrenos baldios da
alma.
E agora, José, a sede de conhecimento aquece as vontades de con-templar
as dialéticas do efêmero e o eterno.
E agora, José, as dialéticas da iluminação crepitam na lareira do vento
e do silêncio.
E agora, José, as luzes da ribalta cintilam raios de cores na moldura do
mundo suspensa no cabide do absoluto.
E agora, José, as sendas silvestres são trilhas para as perpétuas buscas
do Ser.
E agora, José, as mauvaises-foi são anestésicos para as impotências da
sensibilidade e inteligência.
E agora, José, os manques-d`être são os prazeres e êxtases da
libertinagem conciliada às heresias à luz da morte.
E agora, José, o pórtico partido para o impossível reverencia as
imperfeições do pretérito, aplaude com veemência os efêmeros silêncios do nada.
E agora, José, a poética do espaço espiritualiza os re-versos e
in-versos da razão.
E agora, José, as in-verdades da morte e seus delírios do eterno
projetam as sorrelfas compactas ao auspício da colina dos insurrectos.
José, foi-se o tempo daquelas perguntas de Drummond, embora continuem
sem respostas plausíveis, só elucubrações vazias. Se inda não respondeu as
daquele tempo, responderá as que lhe faço hoje? Sugiro-lhe que curta uma noite
de inverno no limiar da lareira do vento e do silêncio, contemplando as achas a
crepitarem, e reflita, medite.
(#RIODEJANEIRO#, 29 DE JUNHO DE 2018)
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