**SURPRESA DE AMAR O VERBO** - Manoel Ferreira
Amo as surpresas que me surpreendem, deixam-me suspenso entre o ser e o
nada, levam-me a questionamentos profundos, levam-me a sentir os interstícios
da alma con-templando o universo, o além.
Há tempos que nada me surpreende, tudo mais que quotidiano, atingindo o
limite do tédio, alcançando a dimensão do vazio. Surpresa é o que não estava
por acontecer, não esperava pela presença. Desejar algo, ser realizado, não é
surpresa. Surpresa alguma.
Era seguir a estrada do quotidiano, do mesmo, con-viver com as coisas,
aquilo sim de "Seja feita a vontade de Deus...", "Quem não tem
cão caça com gato", em suma, "Antes pouco do que nada".
De repente, não mais que de repente, se é que nisto se possa acreditar,
tomando em consideração as coisas acontecem no seu devido tempo, a surpresa
que, no ato de surpreender-me, não em termos de suspender-me, mas enfiar-me
inteiro no íntimo para sentir a veracidade, investigar a profundidade. Tanto
tempo sem surpresa, a imaginação, fantasia, sorrelfa, quimera criam senão para
justificar as carências, para tripudiar com as esperanças.
Não sei como não me escafedi do mundo tal fora o mergulho, até o corpo
foi junto, nada de me surpreender, o corpo estava carente, inteligível,
concebível, fosse eivar-se de algo que lhe preenchesse as necessidades.
E a surpresa se velou em palavras, ditas com tanta verdade, sinceridade,
seriedade, com a alma, os interstícios dela, com o espírito e o ser, que
acordou, despertou o que estava escrito teria de se
pres-"enrt"-ificar na minha vida, o para quê havia nascido, a água
que me saciaria a sede, sedes outras nasceriam, mas seriam saciadas
Até pensei com as casas de meus botões: "Desde não sei quando isto
estava por acontecer, escrito na vida por se tornar real, e só agora é o
momento" E quais foram as palavras que tocaram tão profundo, que fizeram
tanto rebuliço no meu ser, retirando-lhe as contingências, trans-elevando-lhe
às abism-itudes da vocação? Dizendo-as, são simples: "Gostava de receber
você em minha vida." Eu e meu ser sermos com tanto carinho e ternura
recebidos, amor, na continuidade do tempo a felicidade sendo construída, o amor
sendo pres-"ent"-ificado" nas situações e circunstâncias, por
inter-médio das dialéticas e contradições, o que fora escrito desde a
eternidade se tornando verdade. Tais palavras arrancarm-me de dentro a vida
minha que tinha de ser. Sem metáforas, sem re-presentações, sem eidos
poiéticos, sem a alma do espírito, sem o espírito da alma, a mim próprio no amor
que me habita. Almas gêmeas se encontravam, enlaçavam-se, entrelaçavam as vidas
à busca do absoluto contingente do ec-sistir. Senti. Entreguei-me por inteiro,
corpo e alma juntos.
Mesmo que não nos conheçamos pessoalmente, a distância entre Minas
Gerais e Alhures seja enorme, vamos nos amar verdadeiramente, usufruir nossos
desejos e esperanças, mas sempre o sonho do encontro real, nossas vidas juntas,
vivermos em conchinha nossos sentimentos de amor, nossas vidas.
Manoel Ferreira Neto.
(28 de abril de 2016)
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