#COMENTÁRIO DA MINHA SECRETÁRIA, POETISA E ESCRITORA ANA JÚLIA MACHADO AO TEXTO /**ENTRE RE-VERSOS PILARES E HORIZONTES**/
ENTRE RE-VERSOS PILARES E HORIZONTES
Manoel Ferreira Neto.
Eu não me importo se você lamber janelas,
Jogar pedra em avião, ou querer bater prego com a testa,
às vezes eu também cometo umas loucuras...
Mas lembre-se, todos os sessenta segundos que você gasta irritado,
perturbado ou louco, é um minuto de felicidade que nunca mais vai
voltar!!!
Pare, liberte-se das energias negativas, escute uma boa música e dance!
A vida é curta, quebre as regras,
ame verdadeiramente, ria incontrolavelmente, e nunca deixe de sorrir,
por mais estranho e pequeno que seja o motivo.
A vida não pode ser a festa que esperávamos todos os dias,
mas enquanto estamos aqui, devemos procurar dançar sempre que der...
Se formos esperar somente aqueles momentos mágicos, grandiosos e super
raros, desperdiçaremos a capacidade de nos alegrarmos com as pequenas coisas do
dia-a-dia, a felicidade parecerá algo distante e raro.
Borboletas são tão belas o que seria delas
Se não pudessem voar?
O céu e as estrelas não poderiam vê-las passar
Lá fora eu vejo um mundo
E sinto lá no fundo
Que aqui não é o meu lugar
Eu sou pequenininha e fico aqui sozinha a sonhar
O meu coração me diz
Que um dia ainda vou ser feliz
Voar para bem longe como eu sempre quis
Um dia eu tive a chance de ter ao meu alcance
O que fez transformar
Sonho em realidade, escuridão em brilho no olhar
Eu vi que na verdade
A dor um dia pode ter fim
Achei a liberdade, ela tava dentro de mim
O meu coração me diz
Agora eu já sou feliz
Voei para bem longe como eu sempre quis
Uma pessoa em constante metamorfose…
Difícil é se descrever,
fazer com que palavras definam quem você é,
ou deixa de ser.
Acredito que eu seja uma pessoa de grande importância.
Assim como pode ser qualquer uma,
com certos defeitos,
porém acompanhada de qualidades.
Posso ser constante, inconstante,
ou até mesmo os dois ao mesmo tempo.
Em grande parte do tempo,
sou previsível, admito.
Mas o imprevisível me acompanha de perto,
quando necessário.
Consigo ser o bem e mau,
o certo e o errado,
a tristeza e a felicidade.
Eu posso ser tudo,
ou simplesmente nada.
Com certeza eu sou
um conjunto de sentimentos e atitudes.
Tudo ao mesmo tempo.
Sou o que eu quiser!!!
.Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei…
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem…
Tem gente que está
Do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar…
Tem gente enganando a gente
Veja nossa vida como está
Mas eu sei que um dia
A gente aprende
Se você quiser alguém
Em quem confiar
Confie em si mesmo…
Quem acredita
Sempre alcança…
Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei…
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem…
Nunca deixe que lhe digam:
Que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos
Nunca vão dar certo
Ou que você nunca
Vai ser alguém…
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia
A gente aprende
Se você quiser alguém
Em quem confiar
Confie em si mesmo!…
Quem acredita
Sempre alcança…
Habituar-me a determinadas realidades, não exequíveis
a sojornar sob inalterável insensibilidade.
Não amargar na polpa o tormento dos factos,
A gustação doce-amargo da inspiração, das realidades.
Factos desmesurados.
Pretendo a claridade, a chama
e sua abrupta ablepsia.
Que persista um instante, ou a existência integra.
Sem me economizar de mim própria.
Sem me aclimatar com a usança.
Sem que a fogosidade seja trivial, impudica, desejada.
Arrogada ou mascarada, débil, ilimitada.
Elejo a mágoa da alvura na tina.
Decido eleger a pigmentação veemente sem agonia.
Nente de hinos furtivos, de despiedade.
A mágoa resignada do retiro.
Que todos vislumbrem que elejo a luminosidade,
Quer seja a do lince ou a minha
Que por momentos apenas remanesce-me eleger
Entre a obscuridade e as trevas.
Que me abriga, de mim inerente e dos distintos.
Que me estrangula, constringe, alicia.
No espaço pardacento, o qual incumbo,
Exalo ao meio vítreo, cintilante.
Esfarrapado de quebranto.
Amontoando os fragmentos,
Ainda intactos, uma realidade somente.
Perambulo de indizíveis resplendores,
Que a lua ocorre aclarar.
Criatura ou facto. Ainda não assimilo.
Manoel diz, que a sua solidão é mais que peculiar, é a sua natureza, é o
seu ser. Emudece- s e dissimula. Falseia sem simulação, pois que assim
experimento que não usa subterfúgios o que em si habita, não exulta com as
realidades em que acredita herege mente, não sacode a epístola da deportação,
aguardando ser perdoado do equívoco de amor ser irrepreensível, alegre – a cada
coração o exclusivo benefício de ele poder ser dele.
É problemático achar algo para se consolar,
só as folhas de seus blocos,
onde pode redigir seus cantos
atestados de realidades e nostalgias,
e cantos enodoados por aljôfares imprevistos.
Ana Júlia Machado.
ENTRE RE-VERSOS PILARES E HORIZONTES
É mais fácil ser feliz do que escrever;
Não troco a felicidade pela escrita,
É escrevendo que artificio
a felicidade que desejo. (Manoel Ferreira Neto)
Vacilo entre querer e não querer, entre ficar e arrumar as trouxas para
escafeder-me sem deixar vestígios, sem deixar os passos nas pedras das ruas, o
adeus insofismável na algibeira, “hasta la muerte” no alforje, no dia do
apocalipse estaria presente para soltar os fogos de artifício, comemorando a
alegria de assistir ao sepultamento de todos, o espaço vazio no mapa, jamais em
todas as dimensões da alma, quem dera pudesse, não veria re-fletido no espelho
a tristeza e a desolação na minha imagem, a boca fechada, em silêncio
irrestrito e irreversível, há as suas vantagens, observo com mais percuciência
as mazelas e hipocrisias individuais e da história, entre o que se foi e o que
haverá de ser – na verdade, na verdade, não sei se foi mesmo, parece confundido
com o que está sendo, o que haveria de ser é o que se foi, o que está sendo é
uma ilusão do sonho que se anunciou instantes atrás, tudo parece entrelaçado
com certas inconsciências, concebidas e nascidas dos instintos voltados para as
justificativas e explicações fundadas e fundamentadas nos interesses espúrios, súcias
ideologias, pergunto-me como o que há-de ser será possível, se o presente está
amasiado ao passado, não tendo qualquer resposta, inda que inviável;
pergunto-me ainda se haveria possibilidade de silenciar onze anos de minha
vida, três me foram bem fáceis, mas era garoto de oito anos, apesar de quando
em vez alguma perspectiva se me a-nuncia, cuido logo de devolvê-la ao catre;
jamais poderão figurar em qualquer espaço, levo-lhes comigo para os sete palmos
de terra, não havendo quem possa tecê-los de modo a representá-los, quem
conhece esses três anos de minha vida não irá dar com a língua nos dentes,
respeita-me o último pedido de não fazê-lo, tudo o que disserem serão criações,
invenções, frutos da imaginação fértil; é na carne mesmo que trago esses anos
-, o que penso e os sentimentos que me vão no íntimo, entre a verdade e a
in-verdade – insegurança e medo, suponho, - que me diz: “O indivíduo, sob
qualquer perspectiva e ângulo que se considerar e analisar, está sujeito a
todas as mudanças, é uma lei a mais, uma necessidade a mais para tudo o que
está por vir”. Pensando e sentindo isto profundamente, é que segui a minha
jornada no mundo, realizo o que desejo, sinto-me feliz e alegre, saltitante. Se
não me engano no momento, fora Fagundes Varela quem escrevera num poema: “Vim,
vi e venci”, a aliteração mais famosa de nossas letras brasileiras.
Dizer-me: “Muda a minha vida” seria desejar a transformação de tudo, até
mesmo uma transformação de banda, de esguelha, em última instância, para
trás... Não nego facilmente, honra-me afirmar, apesar de sujeito a todos os
enganos e erros, sujeito a todas as rejeições, perseguições e discriminações.
Meus olhos se abrem sempre mais para os horizontes que necessitam e que sabem
servir-se de tudo o que a santa sem-razão, a razão doentia rejeita, a alegria e
o contentamento nesse caso são mais presentes e fortes, a felicidade mais
verdadeira e real, o coração conhece bem percuciente o que é isto – o sangue
que por ele passa e repassa a todo momento, sente-lhe o calor efervescente,
vivo e pujante, o sangue quente, que sobe por nada até, é da minha origem e
estirpe, não há como negar ou subestimar, aliás sinto-me orgulhoso dele, não
levo desaforo para casa, se tiver de levar algum, com efeito, passo a viver nas
ruas da cidade, carne e ossos lhe agradecem sensivelmente a vida e os fervores,
que abrem os horizontes para todos os futuros do espírito e do ser.
Paro um instante, deixo-me balançando na cadeira à mercê da música que
ouço, a perna direita se movimentando ao seu ritmo, o salto do sapato batendo
no chão, The House of the Rising Sun, desde que a conheci, há longos anos,
apaixonei-me, quando ainda não a entendia, amor após entendê-la, olhando,
através da janela, a chuva que cai, os pingos que deslizam no vidro lentamente,
o tempo nublado – mas tem chovido, hein, sô!, uma mineirice para brilhar
sempre, quanto mais por surgir de supetão, sentidos inusitados e excêntricos,
inéditos, afloram, transcendem o meramente contingencial -, esperando que no
íntimo se re-vele um vento de renovação, se não possível, pelo menos olhar
diferente as coisas e o próprio mundo, visão-{de}-mundo outra, a que me habita,
em termos bem vulgares, está enchendo o raio do saco, está caindo aos pedaços
de tão velha, não tenho vocação para velharias, épater le bourjois, para usar
uma expressão francesa, inédita em quaisquer outras páginas, com significado e
sentido que trans-cendem a razão, intelectualidade, até mesmo todas as
dimensões do espírito, quisera conhecê-los com percuciência, isso não é de minha
alçada, deixo a quem quiser fazê-lo, se lhe aprouver dizer-me, fico-lhe
sobremodo agradecido. Não é verdade, contudo, que sou em absoluto inconsciente
do sentido que atribuo a essa expressão, é histórica, nasceu em um período
dificílimo da história francesa.
Há dias os sinos tocavam e repicavam os ares de um firmamento azul do
dia como se fizesse pazes com o mundo, saíam pombos da pequena igreja,
esvoaçando baixos, preenchendo os espaços da pracinha, pessoas paradas,
observando, no peito ad-miração e felicidade por cena tão mágica e maravilhosa.
São momentos de lembranças, são instantes em que a sensibilidade se apresenta
sedenta e ávida de vôos profundos, aproveito o ensejo para tecer em palavras o
que presenciei naquele dia em que o povo do lugarejo invadiu o templo como se
fossem canibais de um mito; os pássaros cantavam suas músicas que no tempo e
este integrava na perfeição de um espaço distante, a brisa da manhã era como o
espelho dos reflexos humanos. Sonhei e naquele sonho supus as mais lindas histórias
de um conto de fadas e como numa fábula resplandecia a paz que mais uma vez
julgava intermediária dos próprios homens.
As criaturas... pequenas grandes criaturas que formam mito salva uma
frase inerte e insensível aos ouvidos, memorizam uma expressão latina que
suscita incólume verdade... à loucura... São elas o fulgor de uma estrela de um
ponto que esconde e trans-parece lá bem distante, são o brilho atrás da lua que
reflete para trás a sua luz branca e resplandecente, incidindo nos campos
silvestres, nos chapadões solitários e íngremes, nas corcovas de serras e
montanhas, onde as estrelas sinuam por outros trajetos e itinerários, não é
negócio velarem os seus osssuários. As criaturas da noite são apaixonadas.
Fazem anarquia. Uma farra que descobre sentimentos, que envela dores e
sofrimentos, que omitem mágoas e ressentimentos. Que amam a madrugada, o latido
dos cães. Que cantam com fervor cânticos os mais di-versos na esperança de a
aurora nascer performando novos passos de dança, à luz do corpo, constituído de
carne e ossos. Que somem sem deixar quaisquer vestígios.
Ali, à face da montanha, vejo sumir-se, nos pingos dágua, expressando de
outro modo asco e náusea que me habitarão, enquanto for vivo, mesmo debaixo de
sete palmos, mesmo por toda a eternidade até a consumação dos tempos, e serão
sentidos por qualquer indivíduo, embora a sua sensibilidade seja apenas para
sobreviver no mundo, a mentalidade bem menor que o salário do egregíssimo Prof.
Raimundo, o milagre da obra humana, a magia das esperanças de algo ser
construído à luz da verdade e do amor. Na minha voz tranqüila, impérios ruíram,
orgulhos e vaidades escusas desmoronaram, ostentações de moral e ética
indevassáveis quedaram sem direito a único suspiro, até as letras, em
princípio, uni-versais e eternas conheceram o nada e o vazio do nascimento da
razão, uma luta de morte pré-cede todas as mudanças, no sil-êncio da ordem
uni-versal rigor da razão cobre o tempo novo, a fé nova que nasceu, as velhas
que se transformam, mudam de fisionomia, mudam as faces.
Todo dia, faça chuva ou faça sol, há o jogo de luz e sombra, jejum
repleto de gula, o réptil subreptício com sua gosma de íntimo. Quem não sabe
dos buracos negros nas profundezas do poeta? Quem não conhece os vazios e nadas
nas pré-fundas do escritor? No observatório do coração alucinado, perdido nas
costelas das constelações, nas costas das estrelas e da lua, de sonhos e
atônitas realidades, o escritor, o poeta são galileus no breu das inquisições.
Todo cair da tarde a toada de medo, de insegurança, poema ou prosa de merda,
merda de prosa poética, o morrer que começa feito cócegas nos dedos.
Ouço, só, só no ser e verbos entre todas as ad-jacências do amor aos
sonhos e utopias, quimeras e fantasias, o silêncio, silêncio afogado e úmido
como um longo suor frio, na medula espinhal ou no joelho que separa a perna da
anti-perna, silêncio branco e sepulcral. Quero amanhã lembrar-me que fui
embora, larguei o passado à mercê do esquecimento do tempo, da indiferença e
desprezo humanos. Jamais me esquecerei do olhar do ator John Wayne no filme
Rastros de Ódio, o olhar perfeito do desprezo, só por ele merecia um Oscar
inédito na história do cinema, o Oscar do Olhar verdadeiro e sincero, e nenhum
ator senão John Wayne seria capaz de mostrar-lhe nas telas mundiais. A Academia
não dera a mínima para este filme. É com esse olhar que olho a hipocrisia
humana, a história de certo povo. Na face dos prédios alastram-se manchas de
água, o rodar dos carros estruge no enlameado da rua feita de pedras, o meu
bafo quente coalha nos vidros turvos – disse-o nalgum instante de minha vida,
em circunstâncias e situações de que não me lembra, mas agora expilo a fumaça
do cigarro à mercê do vento que se dirige ao leste do paraíso celestial,
naquela época a diferença de sentido e sentimentos reside aqui, hoje o éden
está muito íntimo, entrelaçado em mim, comungado a todas as dimensões de minhas
re-versas razões e in-versa sensibilidade, avessa intelectualidade e intuições
do cogito ergo sum, lembrando-me do filósofo Descartes, apesar de que não
tenhamos quaisquer semelhanças nos interesses e objetivos, nas idéias
desfaço-lhe as seguranças e certezas do que há-de vir, o por-vir tranqüilo e
sereno, sem quaisquer dúvidas, a ciência pura e absoluta da vida, acompanhada
da intuição, percepção, imaginação, inspiração, enquanto que o paraíso
celestial ao leste está bem distante de mim, só mesmo na imaginação o concebo,
e o desejo é de me aproximar dele, saber-lhe. E imerso assim em umidade, quase
alcançando a lod-icidade, com os pés frios, esmaga-me um cansaço sem tempo, um
abandono absoluto da vida e da morte.
Sempre um sepulcro sutil debaixo do edredom e cobertor, altas horas da
madrugada, minutos antes do canto do galo, na arapuca de Morfeu os pesadelos de
Sísifo, assim ou assado, em si mesmo petrificado – narsísifo en-si-{mesmado}.
Vomito finalmente o mito repelente, o mito indecente e indecoroso, o mito
refutável e descartável: ad-mito ser gente, con-sinto em ser humano, estar à
mercê do tempo, estar sujeito a trans-formações, estar sujeito a ser o outro de
mim, envolvido em todos os princípios e verdades do final.
Três horas da madrugada: reclamam as asas da alma espaço para voar além
do corpo e do catre, além do bairro e da praça, além do chapadão e dos
córregos, quer a alma excitada voar além da cidade, além das florestas
silvestres, apesar dos morangos e pêssegos deliciosos e apetitosos, que tanto
aprecio, além dos mares que se perdem no infinito, confundem-se com as nuvens
brancas e azuis, deixam olhos extasiados e voluptuosos de prazer com a beleza e
magia do uni-verso, universo que des-lumbra o barroco de sua apoteose, que
a-lumbra o expressionismo dos sofrimentos e dores da alma, suas tragédias
homéricas e ulisseanas. Pois que voe a desalmada, voe mais que águia, deixando
o corpo em soluços, dissolvido sonrisal, alka-seltzer num copo de solidão.
Sempre uma dose de angústia sobre o acrílico do medo no barzinho da periferia
onde, amargo, me exilo, penso e sinto o que me convém, o que está de acordo com
a minha alma e ser, as saudades indescritíveis e indizíveis de minha querida
Pitibiriba se me anunciam todas, sou todo saudades, sinto-me sendo o outro de
mim, e mando o resto para a “tonga-da-mironga-do-cabuletê” ou pentear macaco no
pálido crepúsculo das montanhas...
Apesar de tudo quanto mais latir mais assustarei, deixarei os ouvidos
sensíveis, até paranóicos, a alma em alvoroço com todas as dores e sofrimentos.
Apesar de tudo quanto mais discriminado e perseguido mais o que latir irá ser
inscrito nas laias e estirpes da história das hipocrisias e falsidades da raça
humana. Apesar de tudo quanto mais perdido mais encontrarei as veredas por onde
trilhar os passos em direção aos infinitos da eternidade e imortalidade. Apesar
de tudo quanto mais traído mais resplandeço, mais a minha estrela brilha no
espaço sideral – sensível e espiritualmente envio beijos a amiga muito querida,
quem num cartãozinho dissera-me da minha estrela que brilha. Apesar de tudo
quanto mais responsável e compromissado com os ideais de liberdade e
sinceridade mais me sentirei disposto a seguir a jornada que a mim foi
vocacionada desde toda a eternidade. Apesar de tudo quanto mais unido às buscas
mais menos serei. Minha memória eriça a fúria das ondas e nas profundezas do
coração, lá nas suas pré-fundas, uma velha bandeira de pirata.
O céu, forrado de estrelas, é um olho arregalado na penumbra do alpendre
onde sombras se apalpam. Onde sombras se fazem de carne, cheiro de vida, de
carne sendo mordida, de carne, luz encarnada. A lua, em quarto - minguante, é
um seio de soslaio que uma língua procura.
Sigo a jornada dos obedientes, sabendo que no meio do mundo há quem
empurre a pedra com dinamite nos olhos. Montado num jegue, saudando sertão a
fora com os braços desenhados no ar. No canto, peças do cangaço que se paira, e
paira o sertão nas sombras ócias da noite, nos vultos preguiçosos da madrugada.
Cangaceiro é lua cheia no sertão, e vem a noite, vem a brisa; no sono, a
recordação. Na verdade, na verdade, a lua não se interessa pela conversa baixa,
cochicho, sussurro dos gatos, dos ratos e dos homens – uma fraude fatal a favor
de fulano de tal e cicrano bis. As paredes de cores e cores e cores estão
imitando o poeta dos versos livres/oprimidos, o escritor de prosa
re-versa/inversa, o homem de silêncio/latido; estão imitando o filósofo das
revelações e averiguações do porque da vida obscura, misteriosa e seus
desencontros; estão imitando o apenas e o tudo/nada sem igual, sem raiz de um
touco morto pelo progresso, pela indiferença, pela modernidade que enfim
assumiu que morreu, caiu vez por todo no chão duro e trincado pelos raios do
sol, seu esquife está sendo levado para o sepulcro no pálido crepúsculo da
primavera, em verdade final dela.
A vida, uma alegoria ou um pó que grita, que passa, explode e mofa? Hoje
sinto a emoção verdadeira de uma entrega, e com tantos dissabores e enganos,
uma entrega que se torna um fruto delicioso de sentir o seu gosto, pois reguei
a semente até ver a árvore dando os seus frutos. Não digo que chegou o instante
de chupar os frutos de minha árvore. É instante de ver os frutos amadurecerem e
caírem da árvore – isto é muito bom, excelente, maravilhoso, mágico, pois que é
a-núncio de que outros virão, ainda mais deliciosos. A árvore sente e repele,
rejeita a nudez crua do boêmio não original, farsante da boêmia, vestiu a
camisa, o corpo encolheu, diminuiu, tornou-se nada, de ouvidos elétricos.
Re-nascer é inevitável. Re-nascer como homem, ser humano é um privilégio,
ser divino-contingente é uma dádiva. É o único estado que permite realizar o
despertar de nossos pecados e culpas. O raio almíscar e gelatinoso de nada,
esvoaçante nas dobras de uma cortina adocicada: um vôo, um alçar vôo no tudo,
no nada, na imensidão de uma brisa serena e simples, em sua pequena asa
esvoaçante. Uma bailarina passando no fundo azul e dilacerante de asas e gritos
e sussurros, de uma leve brisa de nada e de silêncio. Um gemido na noite do
nada e do absoluto. Uma pausa. O eco. O eterno profundo.
O que se ergue, desabrocha, floresce e dá frutos, sorrindo ao Sol e ao
uni-verso é a semente que virou árvore. Mas somente pode triunfar porque o
húmus, rico e fecundo, lhe deu generosamente os nutrientes, ingredientes.
Triunfa a águia porque abre caminho para frente, triunfa o homem porque
transforma suas dores em esperanças e utopias. A cada instante se muda não
apenas o instante, não só o lugar do ponteiro do relógio, mas o que se crê
nele, espera-se dele, deseja que ele realize, a vida passa entre viver e ser,
entre re-versos pilares e horizontes. Quiçá a vida seja inglória, não sei se
deveria pensar assim, pois que há instantes em que é pura glória, é puro
resplandecer, outros há que não, é inglória, mas, com efeito, conhecê-la é
inglório, a sede de conhecimento transcende o próprio conhecer. Se recordo o
que conheci de mim, sentindo-me contente, prazeres e alegrias perpassando-me,
outrem me vejo, e o conhecimento de antes, o passado é o presente que me habita
a lembrança. Quem fui é alguém que amo, contudo somente em sonho. Feliz aquele
a quem a luz do conhecimento se lhe a-nuncie, mas não todo. Que pesa o
escrúpulo do pensamento na balança da vida?
Estou só. Luzes acesas, sombras corporais. Paredes encortinadas, cantos
semi-áridos. Janelas entreabertas, roupas, objetos e jornais. A vida faz teias
nos vastos murais... Vai no meio em romaria, está no fim do verbo amar, é a
razão de haver a ilha, aí de mim, eu morreria se parasse de remar essa barca
redondilha. Ninguém o sabe, não porque não o permita, não o con-sinta, tudo
faço para não me deixar ver nas percuciências de minha alma, simplesmente
porque esta minha solidão é mais que particular, é a minha essência, é o meu
ser. Silencio-me e finjo. Finjo sem fingimento, pois que assim sinto que não tergi-verso
o que em mim habita, não tripudio com as verdades em que creio impiamente, não
jogo a carta da proscrição, esperando ser absolvido do erro de querer ser
perfeito, feliz – a cada coração o único bem de ele poder ser dele.
Manoel Ferreira Neto.
(13 de abril de 2016)
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