**UMA HOMENAGEM A CASTOR(SIMONE DE BEAUVOIR) - 09 DE JANEIRO DE 1908/14 DE ABRIL DE 1986)**
A memória mais nítida que em mim trago dentro de Castor - assim Sartre
chamava Simone de Beauvoir - advém de Sartre, quando ele a encontrou na
Sorbonne onde estudavam. Sartre disse-lhe: "A partir de agora, tomo conta
de você!"
Quê tomar conta! Mais de 50 anos de uma grande, inestimável amizade,
exemplo de entrega, carinho, amor. Nunca se casaram, nunca tiveram relações
íntimas, não viveram de por baixo do mesmo teto. Amigos inseparáveis, juntos em
todos os cenários mundiais, em todas as estradas intelectuais. Um casal livre.
E juntos modificaram as idéias e os ideais do mundo. Sartre nada publicava se
Castor não lesse antes, não aprovasse. Se necessário, Sartre escrevia outro
texto. E Castor também. Quê exemplo de grande amizade. Quê exemplo de respeito,
reconhecimento mútuo. Nos últimos tempos da vida de Sartre, Simone sempre ao
lado dele, dando-lhe todo apoio e carinho. Escreveu CERIMÔNIA DO ADEUS - uma
narrativa dos últimos anos de vida de Sartre.
Esta frase de Sartre: "A partir de agora tomo conta de você"!
Desde então, aquele desejo de encontrar a minha Castor, a minha companheira por
toda a vida. Na USP, 1992, encontrei-me com a estrudante de Letras Tânia
Izabelle Moser, com quem viveria quatro anos, com quem tivera dois filhos. E no
nosso encontro, 17 de novembro de 1992, dissera a Tania: "E partir de
agora tomo conto de você!" A busca da grande amiga, a companheira da vida
e das letras continuou. Casara novamente, vivera treze anos de vida conjugal, e
a ex-mulher nunca lera única página de minha obra. Não disse a ela: "A
partir de agora tomo conta de você".
Todos os sonhos são realizáveis a partir da vida mesma. De modo
diferente. Encontrei a mulher de minha vida, encontrei a amiga intelectual, a
companheira da vida intelectual. A mulher e a amiga das letras. Com a mochila
nas costas, uma de um lado, a outra do outro lado, seguimos as nossas estradas
juntos.
O que é isso, não é verdade? Todos precisamos do ídolo. Os ídolos da
amizade e do amor sincero foram Castor e Sartre. Desejei muito esta amizade e
este amor recíproco, entrega absoluta. Os sonhos são realizáveis. Não fora em
vão o sonho.
E hoje, 14 de abril de 2016, 30(trinta) anos faz do falecimento de
Castor. Deixou suas idéias, seus ideais, sonhos, esperanças, e deixou como
exemplo a amizade e o amor a um companheiro de estrada.
Saudades, Castor!
Manoel Ferreira Neto.
(14 de abril de 2016)
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