#COMENTÁRIO DA MINHA SECRETÁRIA, POETISA E ESCRITORA ANA JÚLIA MACHADO AO TEXTO /**CORAÇÃO DE PENA E TINTAS#/
CORAÇÃO DE PENA E TINTAS
Manoel Ferreira
Será que serei escritor ou Trovador
da casualidade
Afinal o que serei? Dúvidas sempre em
mim….
Uma resina utopia, desalento,
suplício
Será que sou alguém sempre à procura
do “ser”
Ou muito “eu”
Eventualidade trovador, jovial,
infeliz
Na tinta insiste, no instante redijo
Sofrendo o padecimento, das locuções
que meu espírito elege
Procedem, resvalam em preto
isolamento.
Prendo o pojo desta minha alma
destruída
que fustiga ainda na alma
Seguramente escasso resistirá, mas o
relevante é que eternamente quererá
Desde o original dia em que emanei,
habito a querença
tão descomunal sensibilidade
como que cessasse naquele instante
em que adorei brutalmente, loucamente
Assistente
Alienado
Mas que ludibria-me constantemente
Quem sou eu…
Casualidade trovador
Casualidade pessoa
Serei alguém…sim, sou
Somente existe-se uma ocasião
A idade tudo transporta, tudo causa
omitir, cada espírito possui uma exclusiva possibilidade na existência,
remanesce erudição quando é esse instante que ás vezes só aflui quando não consideramos,
não aguardamos, compete a cada um de nós eleger e sentir que esse é o trilho
correcto, ou jornadear num diferente à eleição, só se mora uma ocasião, só se
adora uma vez.
O desnudo na meia-luz do lado que
possuímos intimamente só nosso, absoluto e a desnudo, exibimos apenas a quem
pretendemos que nos avistem sem ninharia, apenas nós próprios, quem consiga
avistar, com os olhos invulgares que inscrevem ao detalhe o que de mais
recôndito nos incumbe.
E como diz o ilustre escritor Manoel
no final do seu texto
Que ambiciona conceber alegrar o
espírito infindo da pacificação, do bem-querer e da expectativa. No seu
espírito de sanção e seivas viverão novas exultações, experimente-se -à ditoso
por ter nele conhecido o vastíssimo éden da querença e expectativa. A
luminosidade de cada dilúculo conceberá simulacros na reminiscência e do seu
ser, assentarão clarões em todas as auroras, reluzirá ao isolamento dos oceanos
o seu espírito de sanções e seivas.
Ana Júlia Machado.
Em verdade, em verdade, Aninha Júlia,
escrevi este texto no final do ano de 2009 - havia acabado de sair do hospital
com mais um enfarto -, princípio de 2010. Nunca publiquei sequer uma palavra
deste texto. Achei-o sobremodo hipócrita, pois que mensageia alegria,
esperança, felicidade, e eu vivia a infelicidade do casamento havia nove anos.
Agora, resolvi publicá-lo: os leitores e amigos merecem conhecer a minha obra.
Não tem sentido guardar na gaveta para sempre.
E, conforme confiro agora pelo seu
comentário de excelência, nada há nele de hipocrisia.
CORAÇÃO DE PENA E TINTAS
31 de dezembro...
A cada dia as suas tintas.
Por que, então, assumir a pena de
amanhã? (Manoel Ferreira Neto)
Se as esperanças de amor e paz se
fazem continuamente, esperanças de amor e paz dentro de outras esperanças de
amor e paz, dentro de outras esperanças de amor e paz, a continuidade delas
construindo o “SER”, esplendendo-lhe e elevando-lhe aos auspícios das origens e
passos ao destino e liberdades, como artificiara, contingenciara e
espiritualizara a idéia da continuidade do Ser, através da dialética do
espírito e do tempo, o meu eterno e imortal guru, o “tau” da amizade e do amor,
por inter-médio do mergulho profundo na fé cristã da espiritualidade
teológica-filosófica, nas entregas e buscas, sofrimentos e dores quotidianos,
sendo o mais feliz nas suas letras e projetos de vida e realizações, embora o
garrancho de sua caligrafia – o que é uma caligrafia difícil de ser lida,
devido ao ninho de guaxo, se a idéia da verdade está caracterizada com perfeição?,
simplesmente nada, não há quem para isso possa apresentar argumentos
contrários, se houver, apresento de imediato as minhas defesas em seu nome,
argumentos tenho-os às dezenas nas mãos feitas concha, não havendo quem possa
degustar a batatinha frita, com sal e catchup, da vitória, por mim não é
crítica, apenas uma simples brincadeira carinhosa, eu poderia fazê-lo, não
ad-mito que ninguém o faça, alfim a vida nova que sonhei e tive esperanças de
vivê-la iniciou com essa idéia, há quinze anos, a cada dia nascem outras
alegrias e felicidades, a cada dia nova tinta para a pena de meu coração -, as
realizações acontecem ao longo do cotidiano, através de entregas e árduas
lutas, acompanhadas de esperanças e fé, buscadas no mergulho profundo na vida,
no íntimo do espírito, nas profundezas dos sentimentos, emoções, desejos e
vontades latentes que habitam o ser, mister é acompanhá-los de esperanças e fé,
de amor e ternura, regá-los com a água viva e cristalina da busca de novas
trilhas ao longo dos imensos caminhos do campo que se estendem aos horizontes
de todos os infinitos, olhando os longínquos espaços que necessitam ser
ocupados, preenchidos de vida, ser e não-ser, carinho, dedicação.
Sinto, penso que a vida pode ser um
sonho, é um sonho, contudo as letras não são sonhos, são pro-jetos e utopias.
As letras por si só não são poesia, as palavras não versam, não estrofam, os
sentidos não transcendem, não se elevam; moro na elasticidade, flexibilidade
delas, faço guerra, causo polêmica, armo barraco, solto os cães, rodo a baiana
dentro do silêncio. A poesia corre, brinca, faz palhaçada, pula e chora,
con-templa o sonho que não é definitivo, há uma fábula e um chão que se
multiplicam, há uma lenda e um abismo que se multifacelam, há um rito e um mito
que transcendem. A dor e o gozo comprazem-se em mim. Navego sem indiferença: o
sol e a lua. Meu corpo tem movimento, os dedos de minhas mãos performam a dança
dos dígitos, ossos e carne movimentam a cadeira de balanço. Nada de inanimar a
poesia, fazer dela o estático e o esquecido. Poesia desde a prosa à criação,
poesia desde a idéia à iluminação, desde a tese à inspiração, desde o nada de
todos os tempos da história às esperanças das circunstâncias ad-versas dos
avessos re-versos, outro que não é história, mas a-núncio de Apocalipses.
Quiçá descanse o meu coração,
vislumbre o gavião e a andorinha, enquanto não sonhe em ser águia, tampouco um
belo e dourado cisne ou homem-pássaro denunciando, sóbria e solitariamente, as
ruínas da ecologia. A sombra do imenso arvoredo à margem esquerda do rio
cristalino de águas ternas e suaves cantará tenras canções de ninar às flores,
às folhas da árvore que emurchecem, caem, são húmus de outras que ad-virão. Não
haverá sopro que apague as chamas pueris e o amor em maioridade. Reflexo e
esperança, re-talhos de fantasia apenas! Rodas infantis, canto de forte
sin-fonia e sin-tonia com o uni-verso esplendido e de vasta alegria, com o
visionário infinito de nuvens e de divino êxtase.
Pensara, re-pensara inúmeras vezes,
desde o amanhecer, quando fui comprar pão e cigarro na padaria, o que faço
todos os santos dias do ano, antes das oito horas, depois do banho e das
vaidades dos cremes, perfume e desodorante, nesse itinerário muitas letras
nasceram e renasceram, felizmente lidas pelos leitores e amigos, à tarde, no
botequim Pôr do Sol, registrando-as, regadas da cerveja gelada e o aperitivo
amarelo, até à noite, assistindo a filmes diversos pela televisão,
especialmente os antigos, Rastros de Ódio, John Wayne, O Grande Território,
Gregory Peck, que me legaram vários objetos de reflexão acerca do ódio, em nada
escrever nesse último dia de ano, promover-me um dia de férias, re-festelamento
na rede dos sentimentos que ante-cedem a verdade da vida e do ser, por vezes me
sinto mentalmente cansado, em conseqüência des-inspirado, re-começando, melhor
dizendo até, re-iniciando assim que a aurora do novo tempo se re-velasse no
infinito dos horizontes e uni-versos, considerando a primeira palavra
registrada, criei-a, era inédita desde a eternidade da língua e do seu sentido,
estava trans-parente em todas as dimensões sensíveis, “DESEJO...”, não motivado
e inspirado pelo inconsciente coletivo das esperanças de amor e paz de fim de
ano, esquecidas ao longo do de-curso dos meses, a-núncio de outro, mas pela
continuidade do ser ao longo do ano inteiro, do não-ser fazendo a travessia ao
ser, vice-versa, abrindo um hífen para dizer explicitamente, o que acontece,
quando sinto ser a-nunciação de verdades por virem, o tempo revelará: “eis a
primeira palavra que registro nessa manhã de primeiro dia do Ano Novo, peço e
rogo a Maria Santíssima a cada dia outros nasçam e re-nasçam lívidos, serenos,
e possa tornar-lhes reais, todas as coisas sejam re-(n)-ov-adas e in-ov-adas,
pre-cedendo-lhes esperanças e fé, a vida se torne outra, embora as “marcas do
que se foi”, sejam em termos de crescimento e amadurecimento, sejam em termos
de buscas e querências que não foram tornadas reais, ficaram suspensas no fio
tênue das circunstâncias, apesar das sombras que me acompanham os passos, mesmo
com as dúvidas e questionamentos que se tornam manifestos por inter-médio das
experiências e vivências, mesmo com as angústias e tristeza – mais triste que a
tristeza é a vida sem pro-jetos e vontades, a miséria de estar-no-mundo - que
se tornam presentes através dos medos e relutâncias de estar diante do
desconhecido.”
Lembrou-me, na verdade, na verdade,
intuíra profundo que o último dia do ano ficaria vazio nas páginas dos sonhos,
desejos, sentimentos e emoções, vontades e querências, nas linhas e
entre-linhas do verbo de esperanças, da carne de amor e utopias, nos ditos e
inter-ditos dos temas e temáticas da con-jugação do tempo em suas manifestações
de encontros e des-encontros, nos re-versos, in-versos e avessos de abertura às
frestas e grimpas do verso uno de silêncio e solidão, de incólume fechamento às
luzes que esplendem através das trevas e sombras, abrindo e a-nunciando as
nuvens brancas de além, perpassaram-me, con-templei isso e aquilo no per-curso
do dia, dúvidas e inseguranças rolaram-me dentro, solidão e desolação estiveram
presentes, o que sinto não é exterior, é íntimo, olhando e ob-servando o
passado - sem esse registro, à mercê de linguagem e estilo nascidos e
re-nascidos em mim dentro – lembrou-me até de alguém haver-me dito acerca de
sua leitura: “Tudo o que é escrito nasce de dentro de sua alma, eis porque é
esplendido e maravilhoso” -, e mesmo nas ad-jacências da razão e arribas do
intelecto, nas redondezas do cogito, no ergo das proximidades, no sum das
long-itudes e distâncias, como iria conseguir, ser possível assistir à
continuidade do que se foi, avaliando, in-vestigando as trans-formações,
trans-mutações, antíteses do passado, outroras de algemas e correntes, ontens
de inseguranças e medos, teses do presente de olhos brilhantes que vislumbram o
que há-de vir, o que há-de ser, o que há-de esplender de êxtase e volúpia,
haverá-de ser na cotidianidade, não apenas do tempo, mas também das novas
experiências adquiridas, vivências que aflorarão outros questionamentos, dos
projetos alcançados, atingidos, utopias concretizadas e suprassumidas, e dentro
deles outras esperanças e fé, outros sonhos, a vida se fazendo e re-fazendo, se
constituindo outra, os uni-versos do amor e da paz nítidos, límpidos,
cristalinos, a felicidade sendo verdade, a verdade sendo a felicidade límpida,
o templo aberto e escancarado ao AMOR E PAZ que afago com carinho e ternura,
amor e dedicação, e que desejo aos amigos mais íntimos, companheiros de estrada
e vida, aos amigos que percorrem comigo as trilhas das ilusões e quimeras, dos
sonhos e utopias, desejam fortemente o encontro do ESPÍRITO SANTO em suas
relações com a vida e os homens. E mesmo aos inimigos, insatisfeitos,
ressentidos, envio-lhes a flor de cactos, convidando-lhes a saberem de si, a
saberem de tudo.
Os caminhos estão cheios de
tentações, os meus pés arrastam-se nos buracos de todas as ruas, alamedas,
becos, avenidas, miséria de uma cultura, pobreza de uma civilização, fim de uma
apoteose de orgulho e bem material, tendo até que criar performances de pisar aqui
e ali, qual ator que ensaia a sua atuação e re-presentação para o avant-premier
daquilo que está escondido dentro de sete chaves e que no íntimo a-nuncia-se o
desejo da VIDA na espiritualidade de todos os momentos em suas volúpias,
êxtases, evitando atolar meus pés nas águas sujas, na lama dentro circundada
pela ilusão de ótica de asfalto.
Todas as coisas imóveis se desenham
mais nítidas no silêncio. A língua está inerte dentro da boca, a respiração
comedida na passagem dos sentimentos e emoções, comungados à transcendência do
bem e do mal, o coração pulsando forte, esperando a a-nunciação do instante
outro na proximidade do segundo etéreo e efêmero. O vento verga as árvores, o
vento clamoroso do crepúsculo, o vento que a-nuncia a noite, a lua que ilumina
a dança, a roda, a festa...
Desejo o céu! Aqui, censura-se amar a
noite, gozar nas estrelas, sentir clímaces na escuridão, conversar simplesmente
sobre os orgulhos da estirpe, vanglórias da raça, vaidades da laia, e mesmo
acerca das virtudes, valores morais e éticos da vida e ec-sistência, e assentar
no passeio público de shorts, camiseta, descalço, cigarro de palha no canto
esquerda da boca – fumo cigarro de palha só em casa, para não despertar as
línguas venenosas para suas considerações arbitrárias de diferença e
excentricidade -, observar os transeuntes perambulando por aqui e ali, vagando
por lá e acolá; as musas envidraçadas nas janelas, a perereca da vizinha presa
na gaiola (o que é uma injustiça notória e pública, por que não deixar a
perereca livre para fazer tudo o que desejar?, a morte ser-lhe-á inevitável;
livre poderá divertir-se à beça).
Desejo o céu! Recolher as palavras e
levá-las sufocadas no último ônibus, fazê-las dormir ternamente no travesseiro
de algodão, em que acontecem os sonhos mais profundos da plenitude e
serenidade, acordo na aurora livre para outras tintas em meu coração. É
tarde... Épica razão in-versa dentro do relógio da igreja central da cidade em
insônia, cujas costas estão à luz da praça de águas iluminadas, a frente voltada
para as origens da civilização e seus tabus, o princípio, RUA SANTO ANTÔNIO DA
ESTRADA. Não poderia tirar um dia de lazer das letras, que habitam o meu
coração, são as frutas deliciosas que como, chupo todas as manhãs, lábios
molhados da saliva de volúpias e êxtases, língua ávida de pronunciar única
palavra que divinize as con-tingências trans-cendentes do nada, as travessias
do não-ser sejam aberturas às querências de buscas e desejos, do ser sejam as
verdades dos mistérios e enigmas da vida, embrulhando as miríades do tudo,
oásis do nada, ensacando os grãos e sementes das perspectivas, ângulos, visões
de esguelha e banda das circunstâncias da busca e do medo de encontrar, ficam à
mercê da vida que se estende desde os horizontes do infinito aos uni-versos dos
confins e arribas do olhar ao longe e à long-itude, sedentos de amor, paz,
felicidade e alegria, o sangue que nele corre deseja, através das veias, imenso
a liberdade de percurso e it-inerário, e inerário do it, pensando, sentindo,
re-pensando e re-sentindo Água Viva, de Clarice Lispector, perpassá-las, pena e
tintas mostrar-me-iam no futuro as veredas trilhadas, as folhas soltas de minha
árvore que pairam no ar leves, levadas pela brisa suave da manhã que se
a-nuncia no in-finito da terra e do mundo - quê imagem e panorama de ser visto,
memorizado e desfrutado no passar de instantes de re-flexões, meditações, de
orações em prol da felicidade e alegrias, em nome desse pássaro de amor e paz
que vislumbra a portinha de sua gaiola aberta!, aquele pretinho que dá saltinho
e outra vez pousa no galho e canta; conheci-o no it-inerário, no inerário do it
de outros sonhos e utopias de letras cordiais, para a padaria, hoje mesmo,
estava pousado no arame farpado da cerca de terreno baldio, em cujo espaço
aconteceram várias queimadas, e só preocuparam o proprietário de pousada e
moradores próximos, os bens materiais estavam em xeque, interrompi os passos e
fiquei con-templando os seus saltos -, e outras sendo concebidas, geradas, nas
suas raízes, nos interstícios da terra o sentimento verdadeiro e forte,
acompanhado das emoções das novas des-cobertas, encontros, querências de abrir
os horizontes con-templando os versos e estrofes do soneto do infinito,
decassílabo de sons e quimeras, de bateria e angústias das sorrelfas que
envelaram os medos da realidade, em outras linguagens sensíveis e
transcendentes, no re-verso das palavras o sentido nítido de todas as ilusões,
utopias, acredito mais nelas do que nas certezas da razão e de seus in-versos,
nas ad-jacências do avesso de minhas perguntas insolentes, de meus
questionamentos à luz do inferno das meiguices, de minhas respostas à luz das
mentiras, fugas, justificativas, que me escondem a luminosidade e numinosidade
de meu dia de amanhã, do panorama de meu querido e estimado sertão, das
pers-pectivas de suas utopias cristãs, da correnteza do Riacho Fundo passando,
soube que se transbordou, felizmente não causou tragédias, levando a flor de
meu ser que floriu nos primeiros instantes da aurora, prolongou-se por horas
linda e cheirosa, quando um belga entoou o seu cântico à natureza, à divinidade
da vida.
01 de janeiro...
“Será apenas mais um dia de
esperanças e alegrias de um calendário? Um dia que a vida passa, passa, e não
se consegue segurar? Mais um dia de emoções batidas, lembranças de decepções,
mágoas e revoltas? Mais um dia do inexorável tempo que passa tampando e tudo
arrastando?
Mais um dia de dores, seqüestros,
petróleos perdidos na baía? Mais um chato dia de chuva, frio e ventania? Frio
na alma e não se pode sair, sair de si, passear, andar, virar outra sem dores,
mágoas, pensamentos depressivos, tristes?
Não, não serão agora dias pesados
como os que foram, serão gritos de alegria, muita alegria, gritos de festa, de
recomeço no Ano Novo. Gritos de libertação, mudança, viver de novo o querido e
lindo dia e encher de festas as noites. A riqueza virá trazendo tudo de bom.
Deus dará felicidade, alegria, paz no novo dia e ano. Esperanças mil de ano
novo, o que passou passou, os restos viraram cinza, viraram pó. Só restaram a
alegria, a coragem de recomeçar, “inicializar as origens do nascimento e a
continuidade da vida.”
Guerreira do dia da vida, dos amores,
ganhadora das coisas que desabrocharão e farão do novo ano esperanças de vida
plena e sadia, ”dos novos sonhos e poesia o espírito do ser, a síntese da
esperança e do amor de novos sentimentos e emoções na sinfonia da magia e da
verdade”. Amo, amo, amo o novo dia. Feliz, feliz Ano Novo?”
Desejo – eis aqui a palavra singular
do primeiro dia do novo ano, sentida no mais profundo do espírito,
ad-mirando-me sobremodo por transcender os sentidos contingentes que lhe
atribuí no cotidiano das circunstâncias, dos verbos que me habitam, ansiando
por se tornarem carne, que começa chovendo, clima agradável, continua até agora
às dez e cinqüenta dois da manhã, prometendo prosseguir por todo o dia, ouvindo
Stand by me, inter-pretada por Lennon, que, aliás, à meia noite, antes, minutos
antes, ouvíramos músicas românticas italianas e francesas, horário da passagem
do ano, tomando champagne com a doce-companheira-e-esposa, não o tradicional
espumante, custa onze mil reais a garrafa, se tivesse esse dinheiro todo,
teríamos ido passar o Ano Novo em Pitibiriba; ceando, ouvimo-la, impossível
elencar tudo o que me habitou nesse instante, o agradecimento e consideração
espirituais por ela haver semeado em mim, com seu amor, dedicação, ternura e
carinho, as sementes de outras realizações e felicidades, estar ora
desfrutando, curtindo verdadeiramente o outro que é manifesto, posso olhar à
distância e saber para onde estou indo, o que estou construindo, diria que meu
espírito alçou vôo profundo por todos os cantos do mundo e uni-verso, amor e
ternura no peito, segurança e confiança, amar, ser amado por ela, pelos íntimos
de minha família de consideração, abriram-me as janelas de frente ao infinito,
suas asas de penas alvas movimentando-se livres e espontâneas, tecendo imagens
vivas e brilhantes no percurso, ouvindo as palavras ditas e expressas pela
humanidade, assistindo às comemorações de passagem de ano, queima de fogos de
artifício, sorrisos e alegrias várias, faces esplendendo de esperanças e
sonhos, no peito, coração pulsando, o ser se mostrando límpido, transparente,
sendo objetivos e projetos a cada anoitecer sentir bem profundo que mais um
desejo foi tornado real, felicidade e alegrias perpassando todas as dimensões
da sensibilidade, ser, espiritualidade, sendo a verdade inconteste do coração
de ano novo – neste ano melodias de letras no meu coração, compostas de
sensíveis notas das experiências e vivências, ritmos criados a partir dos
pequenos acontecimentos, problemas e sofrimentos, que nasceram e re-nasceram de
ilusões da verdade, daquela querência trazida, desde a eternidade, desde a
gênese do tempo, por inter-médio dela a vida se re-velar outra, o outro de mim
perpassar a minha linguagem e estilo, o que neles se manifesta indizível,
inexpressável, inaudito, trans-cender a mera cotidianidade da forma e do
conteúdo, seja através de metáforas ou símbolos, aliterações da verdade e veracidade
do verbo vero; notas de sombras passadas que regam as sementes que encontro nas
andanças por veredas ao longo dos passos, que abrem esperanças do nascimento e
da continuidade na vida, líricas de sentidos e significações, compostos de
sentimentos de paz, de emoções de entregas às re-flexões do finito e da
in-finitude, em cujos alicerces de verdades incontestes das travessias do
não-ser ao ser nas veredas do sertão, vice-versa, me inspiro em todos os
instantes solitários em que mergulho em mim em busca de alimentos espirituais
que saciem a fome secular e milenar, a sede de águas cristalinas, quero a pena
registrando com sua tinta as ilusões, quimeras, fantasias do amor pleno e
absoluto, a fé que afaga o coração na pujança de suas pulsações, quando as dores
e sofrimentos são inúmeros e indescritíveis em gestos e palavras, inseguranças,
medos, indecisões, quando o tempo vai passando, deixando no coração a inércia
da pena, a tinta ávida de prosseguir sua jornada de impressão na página branca,
deixando as suas marcas indeléveis, deixando seus traços e rastros de amor pela
vida, pela humanidade.
É um dia de domingo, tudo tem a face,
a característica, a fisionomia dele. É um dia de domingo, o tempo ensimesmado
em decorrência da chuva que caiu de madrugada, parece com os olhos dele. É um
dia de domingo, o peru assado no forno assemelha-se com ele. È um dia de
domingo, a garrafa vazia de champagne sobre a pia tem a cara dele. É um dia de
domingo, a doce-companheira-e-esposa prepara o café da manhã, tudo tem a sensibilidade
e espiritualidade dela. É um dia de domingo, a cidade (cansada) da correria de
fim de ano descansa nele. É um dia de domingo, o céu plúmbeo brinca com ele. É
um dia de domingo, o sino da igreja apenas está nele. É um dia de domingo, a
esperança e o amor buscam incansavelmente a paz ao longo dos dias e meses que
se passarão, ficarão para trás, cumprindo não olhar, cumprindo seguir em
frente. È um dia de domingo, primeiro dia do ano, dia da Confraternização
Universal.
Instantes solitários,
Travessias do não-ser ao ser
Veredas do ser ao não-ser,
Descampados do sertão.
Abrem esperanças de origens,
Sementes, nascimento,
Em aliterações da verdade e
veracidade
Do verbo vero,
Eufemismos do coronelismo à luz
Da comunhão espiritual ainda que
tardia dos homens,
Prolongamento do “ver”
Na bonanza do inter-dito nas letras
dito,
Do dito nas entre-linhas das palavras
expressas;
Líricas de águas cristalinas,
Na continuidade da vida,
Em gestos e palavras,
Ações e atitudes,
Compostos de sentimentos de paz,
Da aurora ao crepúsculo,
Emoções outras compõem
As notas ávidas de ritmos e
musicalidade
De entregas e re-flexões das verdades
Que espiritualizam os alicerces do
amor
E esperança de re-nascimento,
Re-fazenda do ser;
Querências de buscas e desejos
Não são sonhos, são utopias,
Melodias de letras no meu coração,
Que alçam vôos profundos
Nos versos e estrofes da verdade
E do ser nas asas abertas,
Pairando nos horizontes do vento
As esperanças da continuidade da vida
e espírito,
Liberdade de per-curso e it-inerário,
No it do inerário notas cadenciadas
de quimeras e utopias,
Nos uni-versos do silêncio,
Das águas cristalinas,
Compor os verbos do novo amanhecer,
Na aurora de novo tempo,
Do homem que planta a semente,
Rega-a de água cristalina,
Para saciar sua sede
De felicidade e alegria.
Desejo nesse novo ano que ora inicia
compor a música de meu coração de pena e tintas, e que ela seja uma
re-presentação de Skyline Pigeon, de Elton John, nos bastidores de Stand by me,
a lírica de meu ser na continuidade dos instantes, versos e estrofes do
quotidiano de buscas e desejos, não apenas da vida e espírito, mas também da
essência do corpo e dos ossos na continuidade do tempo e suas intempéries, de
meus simples olhares às efemeridades e fugacidades do presente feito de
interesses e ideologias, de meus ouvidos ouvindo os cânticos de glória
ad-vindos dos horizontes de uni-versos infinitos, que são estercos de outras
pré-senças de paraísos terrestres e con-tingentes. Desejo aquele sorriso
esplendoroso e magnífico de meus leitores-amigos, amigos-leitores, quando lhes
entrego a nova edição, dizendo, como uma amiga paulistana,“as suas letras tocam
o mais profundo da alma, faz a gente buscar a sensibilidade dos sonhos, os
sonhos da sensibilidade, da espiritualidade, da carne tornada verbos do amor e
da paz”, que suas vidas seguem as veredas de suas utopias, sentem-se alegres e
esperançosos da verdade e amor puros, singelos, serão outros com as sementes
que planto em seus corações sedentos e esfomeados de fantasias, de outros
alvoreceres. Desejo desfazer as mãos em concha, que real-izei em prol de
con-templar as coisas, que nelas coloquei, das alegrias e questionamentos,
indagações, perguntas, sentindo forte e pré-sente que se fazia mister andar o
caminho sem margens, estar aberto e exposto à amplitude e infinitude do
quotidiano livre do sim e não, doando-lhes como sementes de outras realidades,
de outras verdades. Desejo que as pessoas percam o sentido, as coisas percam o
sentido, os gestos percam o sentido, o passado perca o sentido, o presente
perca o sentido, o futuro perca o sentido, o sentido (tudo ou nada) perca o
sentido. O amor no seio de todas as coisas, o som rock ou clássico na imensidão
delas, a busca de Cristo na confraternização delas.
02 de janeiro...
Andar o único caminho sem margens...
Não é fácil ficar sem metáforas, é
ficar sem água no deserto real, aos raios incandescentes do sol, alfim elas
cobrem e en-velam as incapacidades de dizer de modo nítido e transparente o que
habita as dimensões con-tingentes da alma, o que perpassa a veia, quando o
sangue nela corre e segue o seu itinerário, o que na retina dos olhos observa
as perspectivas das buscas do belo por inter-médio de todas as mazelas da vida.
Julguem-me ilusionista, o que isto
importa? - ilusório, um reflexo de nada, até mesmo um reflexo baço de uma
cericória, como desejam alguns que seja assim, a realidade seja inconteste, a
verdade seja divina, o sentido dela seja ab-soluto, não suscite
questionamentos, desconfianças, por mais absurda seja esta idéia, por mais
verdadeira, questionável, merecedora de pequena atenção, sem fervores nem
ardores, não merecedora de qualquer observação, mas, podendo afiançar e
asseverar que a ilusão, o nada consomem a ilusão e o nada, a cericória consome o
reflexo baço, por mais que o contra-senso se revele, de imediato, diante de
afirmação até sem sentido algum, “a ilusão e o nada consomem a ilusão e o
nada”, havendo sim sentido envelado, as palavras amam ocultar-se e revelar-se,
mas nas entrelinhas, deixe-me dizer logo, antes que efemerize no tempo, há
coelho atrás do mato, há outras perspectivas e ângulos a serem intuídos e
vislumbrados, des-lumbrados e a-lumbrados; isto querendo significar o caminho
sem margens continua sendo virgem, puro, inocente e ingênuo, sob os pés, sob a
imaginação das mãos, dos dedos performando os caminhos do ser, sob a razão da
cabeça, quanto mais o meu coração de pena e tintas deseja abrir os uni-versos
de palavras e ritmos, mais notas se a-nunciam dentro em si, quanto mais ando,
tenho de andar mais ainda, sem andar sou é nada, ser alguma cosita quantas
léguas se fazem mister pisar? Para chegar a essas letras aqui registradas nesse
início de ano e de outros olhares às sementes da vida e de suas luzes de amor,
andei por cinqüenta anos, engatinhando, tropeçando, arrastando, seguindo em
frente, caindo, levantando, acreditando, desacreditando, perdido e confuso
diante das discriminações, pré-conceitos, invejas e despeitos dos que nada são
e ostentam valores insofismáveis, sendo, aliás, agora em janeiro, aniversário
das letras, meio século, merecedor de ser comemorado, sem champagne, sem
entre-vistas concedidas, com outras letras trazidas da essência de meu coração.
Desejo a folha em branco deixar de
ser branca – olhei sobre a mesa da sala de estar uma folha em branco, minutos
antes da meia-noite, ouvia Zingara, passara a mão direita na face esquerda de
minha doce-companheira-e-esposa, sorri, beijei-a na boca, senti o gosto de sua
língua molhada da saliva, engoli-a, senti-lhe profundo no corpo – deixará de
ser branca, em homenagem à prosa-poética; dela, a mensagem e a palavra – a
vida. A folha em branca fotografará a paisagem sertaneja e os mistérios da
fecunda fé em Deus, a força viva da criação. A gota de orvalho expandir-se-á no
silêncio contemplativo da folha em branco – prosa poética.
Vai passando a noite, vai passando o
luar, vai chegando a madrugada, madrugada despertar. Despertar e trabalhar e
pedir ao Salvador: Senhor do meu sertão, Oh, Senhor do meu sertão, molhai esse
chão sem vida, para os homens plantarem e colherem bons frutos, espalhando a
gratidão, divulgando louvores e glórias.
Meia-noite! O mundo inteiro sonha com
a paz, renova as esperanças de realizá-la. Nas montanhas, pairam-se os ecos
desesperados da humanidade. A lua perde um pouco do brilho milenar, as águas
fixam-se inertes. As estrelas, brilhando no infinito do céu, despertam o
esplendor e maravilha da metafísica da gênese da felicidade, da dialética do
ser e da continuidade na busca incessante do amor e da felicidade, que brilha
no ar, como a gota d’água que descobre no ar os oxigênios que entram e penetram
no pulmão.
Poesia, uma simplicidade cheia de
segredos. O poeta faz da arte um emblema que roga outros amanheceres, outros
crepúsculos, não se arrepende de ser o que é, não se orgulha de estar sempre à
busca, por vezes encontrar, por vezes des-encontrar. Sou a procura da solidão,
do silêncio, de sua ópera mágica e misteriosa, performado de espetáculo musical
como o era na era áurea do cinema, a oitava maravilha do mundo, o deserto vai
imenso dentro de mim. Minha existência, em corpo e alma, universalmente,
fortalece o meu grito, simbolizando mil segredos distantes de mim.
Chove torrencialmente no instante
presente. Enxurradas rindo carnavalescamente da fraqueza do estado das coisas,
da força do estado de calamidade pública, da sensibilidade dos miseráveis que
choram compulsivamente por elas levarem o que conseguiram construir e adquirir
com tanta dificuldade. A pequena flor do pé de tamarindo por um triz. De repente,
quebra-se, tenta resistir e cai, vai teimosamente arrastada; agiganta-se em
vão.
Serei o amante eterno do amor, nesse
ano que ora se inicia, e não me limito na liberdade dele. Percorrerei a cidade
sem celebridade, mas tenho o infinito para alcançá-la. Meu passado brinca nos
campos silvestres; quê verdes ramos, quê vaga-lumes, quê inocência, quê
saudade! O rio de águas límpidas silencia-se, ao cair da tarde nublada. Não
terei a pretensão nem o mistério de ser o que sou perante a estrela –
invariavelmente fixa no céu. Desejo fazer sorrir o coração infinito da paz, do
amor e da esperança. Percorrer as curvas da plenitude, oferecendo um livro novo
e um dom transcendental: viver por outra vida.
Acordei nessa manhã chuvosa
des-abraçando o in-finito, com o meu olhar varando a distância e a minha
inspiração reluzindo, no céu, um vasto horizonte. Desejo fazer sorrir o coração
infinito da paz, do amor e da esperança. No meu coração de pena e tintas
ec-sistirão novas alegrias, sentir-me-ei feliz por haver nele des-coberto o
imenso paraíso do amor e esperança. A luz de cada aurora criará imagens na
memória e no meu ser, pousará reflexos em todas as madrugadas, cintilará à
solidão dos mares o meu coração de pena e tintas.
Manoel Ferreira Neto.
(13 de abril de 2016)
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