**VIDA E VERDADES DO SER** - Manoel Ferreira


Quando eu era mais jovem, utopias e ideais do mito na Literatura, do sucesso. Quando eu era mais jovem, a esperança do amor eterno, o sonho da verdade plena. Quando eu era mais jovem, angústias e náuseas as mais insofismáveis, nada simples e claro. Quando eu era mais jovem, carências e profundo abandono no mundo. Quando eu era mais jovem, vivia com o vazio na alma, um perfeito sem lenço e toalhinha para enxugar o suor da testa e do rosto.
Agora que estou mais velho, o mito na Literatura não faz o menor sentido, o sucesso não é valor, o que faz realmente sentido é a vida feita de letras, não me pertencer, ser-para o outro. Agora que estou mais velho, o amor eterno habita-me, a etern-idade do amor é a vida de só entregas e doações. Agora que estou mais velho, o diamante das certezas e convicções de para onde estou indo, o vazio de angústias e náuseas, seren-idade, calma, tranquilidade. Numa tarde de sol forte, meu amor me perguntou: "Agora que está com sessenta anos praticamente, o que é a vida para você?" Respondi: "Sentir a importância de tecer o ser com as linhas de quem sou". Agora que estou mais velho, não sinto mais carência - a carência do passado não era a do outro, sim de mim próprio -, sinto agora a profunda presença de mim em mim mesmo. Agora que estou mais velho, sou imperfeito, ponho as minhas cartas na mesa da vida que sou eu. Agora que estou mais velho, a morte não existe mais para mim, apenas os verbos de meu in-fin-itivo que se encontrarão no uni-verso das estrelas. Criança, contemplava as estrelas recostado no parapeito da janela de meu quarto de dormir, e pensava que um dia iria estar com elas no in-finito. Mãe-Dinha olhava-me circunspecta como quem indaga: "O que Pretinho - meu apelido familiar - está pensando?". Depois, fechava a janela, colocava-me na cama, acariciava-me a cabeça até eu dormir. Agora que estou mais velho, sigo os passos de todas as minhas con-ting-ências, e na minha mochila desejos e vontades da vida eterna para todos os homens.
Acho mesmo que vou dispensar isto de ser escritor, poeta, assumir sou letra viva de todas as esperanças e sonhos.



Manoel Ferreira Neto.


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