(TESE) - EFÊMERO E O NADA - ENSAIO POIÉTICO DOS CAMINHOS DA LUZ - Manoel Ferreira
1.4
- HÚMUS PARA OUTRAS CON-TEMPLAÇÕES DO HÁ-DE SER
Se amanhã houvesse de recitar versos e
estrofes das utopias do belo e eterno que extasiam, impulsionam a caminhada na
metafísica de poeiras da estrada, incentivam a re-criar e criar outros
horizontes em cujos cernes esplendem desejos e vontades das perfect-itudes,
verdades, inspiram a in-ventar e re-in-ventar as esperanças das sublim-itudes
do perpétuo, sin-cronia, sin-tonia, harmonia do efêmero e nada,
cor-respond-ência entre náuseas e vazios, o peito em estado de gloria, euforia
com a alegria de as nonadas intersticiarem os recôndito baldios da alma,
absurdos e absolutos, instantes-limitites perpassando as ausências e faltas do
ser, sem quaisquer dogmas, preceitos, valores e virtudes, simplesmente a
jornada de estar no mundo circundado, circunvagado de manque-d´êtres,
florclusions, abismo e solidão plenos, hoje não comporia poema para tudo isso
re-velar, alfim são merecedoras de ternura. carinho, em suma, amor em todas as
suas dimensões, e serem registradas para re-velarem esta condição do homem no
mundo é des-respeitá-las, a vida sem sentido e significado isto é com quem a
vive, com quem blefa, tripudia com as circunstâncias e situações,
mauvaises-foi, fugas, covardias, incapacidades de debulhar o terço das buscas e
desejos do eterno apesar do efêmero que vai acompanhar por sempre, a metáfora
do séculoXXI será cacófato do XXII, e este, o vício de linguagem do XXIII, mas
eterno porque nas trevas a luz se a-nuncia, vice-versa.
Se amanhã houvesse de acender uma vela
na janela, do lado de fora, começando, assim, um ritual para o alvorecer ser
feliz, para a felicidade ser plena no espírito do verbo sonhar, hoje com todas
as letras em riste diria ter estado louco, varrido, doido de pedra, pois que
homem algum é vocacionado à plen-itude de felicidade, não saberia con-viver com
ela, vomitaria os bofes, náusea absoluta, dores e sofrimentos lhes são
inerentes. Aí o incólume e insofismável questionamento : "Por que a busca
desatada da verdade, se as in-verdades são eidos de minh´alma? Não seria de bom
tom viver as in-verdades com grande amor e paixão?" Quê tristeza:
impossível para a felicidade plena, impossível para as in-verdades perenes.
Simplesmente com este idílio de amanhã houvesse de acender vela no canto da
janela, princípio de ritual para a felicidade ser perene, cobrir-me-ia de
nostalgias, melancolias, saudades de pretéritos e passados, idílios, quimeras,
fantasias de gerúndios e infinitivos do vazio, mas não me trans-portaria,
trans-elevaria, trans-cenderia ao amanhã, alfim o amanhã é elucubração, rima
pobre de soneto saudando o vira-a-ser, o vir-a-ser só se me re-vela no
instante-limite de aqui-e-agora, só me vejo sendo o outro de mim na consciência
e sabedoria do que estou sendo. O verbo do presente ilumina-me, numina-me para
outros efêmeros que re-velarão eidos, essência, cerne do vazio, e só este pode
re-colher, a-colher o múltiplo, absoluto, divino, que nada mais são que húmus
para outras contemplações do há-de ser.
Se amanhã houvesse de me redimir dos
pecados capitais da carne e ossos, por haverem interferido nas sorrelfas do bem
e do mal, tergi-versado de prazeres e gozos, fazendo de mim unicamente
instinto, jogando-me no beco sem saídas das coisas fúteis e fortuitas, na
madrugada de ontem para hoje não teria dormido um instante sequer, pesar-me-ia
a consciência, sentir-me-ia o mais vil da laia humana.
Se em consequência de amanhã houvesse
de, haveria de hoje enfiar o rabo entre as pernas, seguir o meu itinerário de
cabeça baixa, preferiria o passado de ontem, ontem de quaisquer ontens, pois
que nada disso se me re-velou, se me a-nunciou. Era livre e não sabia, a
liberdade estava nas minhas mãos feitas conchas e não a conhecia.
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