**PÓRTICO PARTIDO PARA O IMPOSSÍVEL** - Manoel Ferreira
Liberdade... A morte na alma, o baldio no terreno dos desejos e
querências, o caos nos becos sem saída das ilusões e fantasias, sarapalhas de
margens ao longo de campesinas estradas de solidão e silêncio...
A vida pulsa os ardentes sentimentos e emoções de con-templar a
distância, sabê-la, senti-la, conhecê-la, segui-la de sonhos e esperanças,
solitário vivenciá-la, a alma prazerosa, momento, instante de sentir, assimilar
éritos e éresis do in-fin-itivo, tudo atrás é lendário, causos, mitos, adiante
outros confins e arribas, outras miríades de luzes vagalumeando, outras
neblinas, neves, garoas a cobrirem as serras, a impedirem a visão além...
Cor-agem, ousadia, deambular no des-conhecido, perambular no in-audito,
devanear nos mistérios e enigmas do verbo e do ser, vagabundear nos becos
escuros tendo apenas a lua e as estrelas como capachas da desolação e abandono
no mundo velho e sem porteiras...
Signos, símbolos, linguísticas, semânticas, metáforas nas bordas,
fronteiras, cancelas e essências da vida que numina suas novas perspectivas.
Solitário, sozinho, verdadeiro re-presentante do vagabundo, andarilho, jogado
nas circunstâncias das náuseas con-ting-enciais, o mundo caindo aos pedaços, a
terra des-fazendo-se, dilúvio de absolutos, efêmeros, eternos, até mesmo dos
etéreos, mas, todavia, contudo, a querência do "sou" no verbo das
eidéticas do tempo, nas elipses das ipseidades das trans-cendências, amanhã
será outro dia, mesmo que os pretéritos de ontem antes de quaisquer ontens e
pretéritos tenham sido o caos da alma na morte, a morte da alma no caos,
apocalipse de genesis...
Liberdade... Os contrários se encontram no in-finito, os iguais
entre-laçam as mãos nas prefundas do inferno onde se aquecem dos invernos do
mesmo e mesmidades. Quiçá ninguém entenda e compreenda que as letras nascidas
no movimento da esfera da pena, jorrando tinta, sob o sabor delicioso de uma
bebida, transeuntes observando, ad-mirados, surpresos, espantados,
estupidificados - vale a pena tanta solidão, apenas com uma pena na mão? - sob
o sabor delicioso de uma bebida, negligencie, subestime os valores eternos, mas
as letras bordadas de góticos ornamentos são verdades do trans-cendente,
sentimento íntimo do ser livre verbalizando ausências da perfeição, a falta da
verdade incólume e insofismável, a falha das etern-itudes do bem e do mal...
Liberdade. Solidão. Sozinho. Solitário. Deserto. E me disseram:
"Não sabe o que vai lhe acontecer!" Resposta simples: "O mundo
pode cair aos pedaços, não choro."
Sentimentos, sensações, emoções. Tristezas, angústias, medos. O que são?
Nada, nonada. Cumpre-se seguir, trilhar as alamedas, nada é eterno, tudo é
efêmero, breve sorriso no rosto, o sentido é ambíguo, as perspectivas foram
re-versadas, in-versaram-se as semânticas. O in-verno no ser, carências, frio,
nalgum sítio do in-finito lenhadores aquecem-se com as chamas das lenhas que
colheram na floresta de confins na lareira do tempo, quiça com um cachimbo ou
charuto no canto da boca...
Lierdade. Abertas as venezianas da noite, o vazio ao longe, claridade
diáfana, abertas as janelas da madrugada, luzes e raios de sol - amanhecer?,
aurora de um novo tempo? alvorecer de outros sonhos e esperanças? Nada disso.
Janelas da madrugada abertas. Silêncio.
Liberdade não é fazer o que se quer, mas querer o que se faz. Frase de
efeito, lugar-comum. Ser livre é trilhar as alamedas da solidão, seguir só s
sendas e veredas do nada, nada é eterno, tudo é efêmero, alfim a sabedoria de o
In-finito ser o porto de onde à distância sente-se profundo as estradas
trilhadas, a consumação dos feitos queridos, os éritos tornam-se legendas do
tempo, tornam-se lendas do não-ser, abrem-se as frestas e frinchas, pórtico
partido para o impossível...
Manoel Ferreira Neto.
(24 de dezembro de 2015)
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