(TESE) - EFÊMERO E O NADA - ENSAIO POIÉTICO DOS CAMINHOS DA LUZ - Manoel Ferreira
IV CAPÍTULO - O NADA E A ARTE LITERÁRIA
4.8
– PAISAGEM DA LINGUAGEM
Por que deslocar e descolar o poeta do
"eu poético? O poeta é o escrevinhador, quem empreende a longa viagem pela
paisagem da linguagem intencionando um ser espiritual divinizado, viagem
intros-pectiva, o conhecer o que habita as entranhas da alma a partir das
situações e circunstâncias vivenciais e vivenciárias, dores e sofrimentos
ocasionados pelo efêmeros existenciais, felicidade, prazeres, realizações,
fracassos, glórias e frustrações, verdades e in-verdades, projetos e intenções,
utopias e sonhos, o artista é a origem da obra. Nenhum caminho está dis-ponível
para se in-vestir nele, se o poeta não se conhece, sabe de suas con-ting-ências
in-conscientes e conscientes, sua autenticidade e suas mentiras, suas condutas
e posturas irresponsáveis e responsáveis, mauvaises-foi e manques-d´êtres.
Assim o "eu poético" se a-nuncia, iniciando a viagem para o seu
conhecimento que só acontece com o exercício da prática poética, o escrevinhar
poesias em harmonia com o quotidano das con-tingências.
Ao invés da re-velaçao do ser e dos
entes na linguagem, tem-se buscado a adequação instrumental da semântica aos
pers das esperanças do verbo e do espírito, do signo à sua designação, a linguística
às pectivas do verbo que des-vela os mistérios da busca do ser espiritual
divin-izado. A concepção do ser essencial da linguagem enquanto um dizer como
mostrar guarda uma predominância implícita da visão como o sentido intelectual
por excelência.
O dizer não é algo meramente adicionado
aos fenômenos, mas sim a aparição radiante deles. O pensaamento não é um a
priori nem um a posteriori da linguagem mas ambos estão intrinsecamente
ligados, um sendo a condição necessária de existência do outro. É a linguagem,
enquanto casa do ser e moradia do homem, tendo por guardiães o pensador e o
poeta - outra razão por deslocar o poeta do "eu poético", estabelecer
um diálogo entre o pensador(o poeta) e o "eu poético"(o ser que busca
a espiritualizada divinizada -, que possibilita e torna necessário o encontro
do pensamento teórico com o texto poético. . Aquela érita questão de saber se a
crítica (por pensar o pensado, transcendendo-o e, portanto, colocando-se num
estágio superior da evolução do espírito) tem uma dignidade maior que o próprio
texto, ou se a literatura e o escritor são superiores à critica e ao crítico
(pelo fato destes serem parasitários, vivendo da vida e da morte do texto)
acaba por tornar-se ridícula, pois pressupõe a imposição do monólogo, seja do
crítico sobre o autor, seja do autor sobre o crítico, impedindo o diálogo
possibilitado e neessitado pela linguagem. O encontro do pensador com o poeta -
na minha obra ambos estão intrinsecamente entrelaçados, ligados -, o encontro
do pensador que sugere o seu não-dito ao procurar re-velar o não-dito do poeta,
acaba sendo não só o mero encontro ocasional da personalidade de um pensador
com a personalidade de um poeta, mas o encontro mais fundamental e originador
que é a linguagem, e especialmente o não-dito ou não-ouvido da própria
linguagem, a linguagem enquanto inter-pretação do mundo, enquanto relação do
homem com o ser e com os entes. É o encontro dos guardiães - o poeta e o
pensador - nada casa do ser: a linguagem. Aqui, pode-se endossar com excelencia
as palavras de Mia Couto: “Cada um tem duas margens: uma em cada lado do
tempo". As duas margens que me habitam são o poeta de um lado, o pensador
do outro.
O diálogo entre o pensador e o poeta é
possível devido à relação fundamental e diversificada de ambos com a linguagem.
Todo pensamento verdadeiramente re-flexivo é poético, e toda poesia é um modo
de pensar. Ambos estão necessariamente juntos, próximos entre si, sem se
confundirem - como duas paralelas que só se encontrarão no infinito. Na tensão
entre ambas há o movers-se. Uma não deve reduzir-se à outra. A aproximação
possibilita o diálogo: este se mantém enquanto não o ocorre o encontro redutor.
A aproximação do filósofo com o poeta não é ocasional: pertence à própria
natureza do pensar e do poético, sendo também condição necessária ao
desenvolvimento de cada um deles. O dito "poeticamente" e o dito
"pensativamente" nunca são o meso. Ambos podem tentar dizer de modo
diverso o mesmo, ambos podem tentar encontrar-se num in-finito, mas não são o
mesmo: querer que o pensamento se torne poesia, e a poesia, filosofia, é querer
anular a diferença entre ambas, a diferença que possibilite eventualmente o
avanço para um infinito. .
Retalhos de liberdade elaborando a
colcha de escolhas entre o pret-érito das volúpias da glória nascida de
conquistas das querências de as virtudes serem a luz do ser, o in-fin-itivo dos
êxtases da cor-agem de des-envelar, des-vendar o oculto do que trans-cende das
intempéries da con-ting-ência do bem e do mal, do inaudito e o clarividente, a
neblina que cobre a montanha e os raios de sol que in-cidem nas margens do
terreno baldio da alameda que leva ao pampa de orquídeas e lírios, a gnose do
saber a sabedoria que vela a omnisciência do absurdo, omnipotência do vácuo, é
que tudo acaba onde começou, a contradição do nada que não é o efêmero e o
efêmero que não é o nada, a dialética do não ser o que se é e se ser o que não
se é...
A poesia é o nomear que instaura o ser
e a essência das coisas, não é um dizer caprichoso, o "eu poético" cria,
re-cria, inventa pers e pectivas da linguagem para revelar do verbo do espírito
a espiritualidade, o poeta e o escrivinhador da poesia e do "eu
poético".
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