(TESE) - EFÊMERO E O NADA - ENSAIO POIÉTICO DOS CAMINHOS DA LUZ - Manoel Ferreira
IV CAPÍTULO - O NADA E A ARTE LITERÁRIA
4.
4 - NA VIAGEM DAS VIAS DE UMA PAISAGEM
Há-de existir ternura, singeleza,
carícias nas imagens. Quem nunca sentiu enorme prazer, alegria, numa viagem
con-templar a paisagem? É um prazer indescritível.
Poesia não é um fazer. Nem o fazer do
dis-curso nem o fazer da língua nem o fazer da gramática e suas
trans-formações. É um con-sentir-se enviar pela Linguagem na viagem das vias de
uma paisagem. O envio é o avio da Linguagem. Con-sintamo-nos viajar na viagem
do nada ao Vazio, con-templando a paisagem do horizonte, do uni-verso. Somos
enviados ao In-finito. Deixar a viagem ser este envio por todas as vias da
paisagem é a poesia dos viajantes.
O poeta nesta viagem ao In-finito deve
re-colher o discurso da liberdade da paisagem, liberdade sensível, deixar a
paisagem se expressar livre, dizer-se espontaneamente. Assim, re-colhendo o
discurso, deixa a paisagem vir a si própria na Linguagem. O poeta não vai além,
não ultrapassa, mas se re-colhe no que escolhe. Só colhido pela Linguagem é que
a verdade da paisagem o faz a-colher o dis-curso na poesia. Ser poeta não é
construir um outro discurso ao lado ou além ou aquém das estruturas narrativas
de uma gramática fundamental. É restituir peso ao dis-curso da língua na
gravidade da Linguagem.
O poeta é poeta por des-cobrir-se tão
imerso no mistério da Linguagem que toda a poesia, sendo a impossibilidade de
falar sobre a Linguagem, o leva a sentir nesta impossibilidade a Linguagem de
toda poesia. A Linguagem é ela mesma. Ser ela mesma é re-colher sempre o
viajante na viagem da impossibilidade de discursar sobre a Linguagem. Deixar-se
colher pelo re-colher da Linguagem torna o viajante poeta nas vias da paisagem.
É o pensamento precursor que descobre o espaço de jogo onde o poeta re-encontra
na língua e na gramática de seus discursos a poesia da Linguagem. Ser todo
pre-cursor é, pois, a própria essência do pensamento poética na terra
linguística.
Nesta viagem do nada ao In-finito, sendo
enviado pela Linguagem às vias da paisagem, ouço música, con-templando a
paisagem do horizonte, do uni-verso, re-colhendo em mim o dis-curso da
liberdade da paisagem.
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