ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA E POETISA ESCREVE O POEMA /**O PROTELAR**/, PENSANDO NO AFORISMO /**A ARTE NÃO É APENAS PARA LOUCOS**/
O Protelar…
Ambiciono raciocinar que tudo sou idónea,
desejo velejar em uma imensidão serena ,
eleger a superior entoada.
Presentemente observo meu espírito isento,
desejo repousar plácida essa escuridão,
meditar no pináculo dos feitos.
Essa minha melíflua e antinómica existência.
Equivoca-se quem verbalizar que entender-te é um agrado
Os verbos por ocasiões alvitram felicidade no arejo,
insinuado que já não devo manifestar, não consigo conceber ,
Tão -só remanesce meditarem!
E quando desligo-me, posso adejar elevado...
no pináculo da mais elevada serrania .
o que hei a desaproveitar?
Nesse caso arruíno-me nas reentrâncias
da minha alma fragmentada,
no interminável do meu intelecto,
esbanjo-me galgando meu “eu”
e afagando minha demência.
Profiro que é preferível ser alienada
do que não avizinhar a local algum,
não habitar integralmente.
E assim caminho, assim sou usufruindo
os exíguos momentos de deleite
e aventurando protelar o que concebe-me padecer…
Ana Júlia Machado.
(VIANA DO CASTELO, PORTUGAL, 29 DE ABRIL DE 2017)
"Protelar", "Procrastinar" - informa-me o dicionário
o sentido ser "adiar", numa linguagem vulgar "deixar para
depois". O homem tem péssimo hábito de adiar tudo, com isso dizendo que o
tempo é sábio e dará a resposta solene e patente. Se não fizer algo para as
respostas serem dadas, quero, não, não, não, pago para ver o tempo dizer,
responder. Alguns homens se curam dessa doença, o "comodismo", ousam
desafiar o tempo, suprassumi-lo e superá-lo, as obras respondem pelo desafio.
O ir-adiando-até-não-se-ter-consciência das coisas... Dever-me-ia
padecer.
Seria que nós os escritores e poetas houvéssemos de "pintar"
as situações e circunstâncias que a Literatura, como as Artes em Geral, está
vivendo em nossa contemporaneidade, levada à bancarrota, à sarjeta por
espíritos malignos, para que compreendam e entendam? Desde tempos imemoriais a
estética, a beleza são sine qua non na Literatura através da linguagem, do
estilo, da forma, da língua, e é justamente, serve de luva, o covil onde reside
a questão, os que se denominam livremente escritores e poetas, vangloriam-se,
não sabem o que é linguagem, estilo, forma, língua, não tem conhecimento algum
da Literatura ao longo da História. E você, eminentíssima escritora, Ana Júlia
Machado, enfatiza isto com excelência: a questão da erudição. A Literatura
requer conhecimentos. A Semana de Arte Moderna de 1922, São Paulo, trouxe-nos
um tesouro: o valor inestimável da Arte, a sua Liberdade, mas sem retirar a sua
essência, a estética, a beleza. Os modernistas romperam com os dogmas e
preceitos da Literatura, a sua classicidade, e abriram as portas para outras
idéias acerca da Estética, do Belo. Hoje não... a farsa e a falsidade do poder,
mostrar-se uma coisa e ser outra, está levando a Literatura à morte.
A Literatura não é para loucos. A Literatura é para ela mesma. Ela
escolhe os escritores, os poetas, escolhe a dedo, não conhece a hipocrisia.
Escolhidos, resta ao beneficiado pela sua escolha escolhê-la. Efetivamente, a
Literatura não escolheu estes homens para re-presentá-la. Estão se auto
escolhendo. A bancarrota é inevitável.
Até quando protelar a denúncia rasgada sobre os que estão tornando as
letras objeto de chacota, de galhofas. Até quando protelar dizer-lhes, com toda
diplomacia: "A História é justa nas Artes... Amanhã vocês serão anônimos
por todo o sempre." A Arte não é apenas para loucos, seria loucura insana
não levantar o porta-estandarte contra os bufões da Literatura. Alfim, somos
co-responsáveis pelas Letras, é de nosso dever insofismável defender a sua Integridade
Ética e Moral, restituir-lhes as perdas, resguardar-lhes os valores. No
encontro das decisões, foi-se escolhido para ser escritor, poeta, aceitou-se a
escolha, o homem e a arte são verso-uno da busca da Consciência-Estética-Ética.
Se ec-sistir é de fato a tentativa de equilibrar entre as decisões e as
consequências, por que não levantar este Porta-Estandarte em nome da Verdadeira
Literatura? Seria que houvesse de dizer não haver neste "Levante"
quaisquer níveis pessoais, o respeito às pessoas vigora, o que não vigora é
onde estão querendo chegar com a farsa das Letras? Creio não ser preciso, mas
está pintado com as cores que merece.
Sem as Artes não há o menor indício de sensibilidade no homem.
Manoel Ferreira Neto
(**RIO DE JANEIRO**, 29 DE ABRIL DE 2018)
ARTE NÃO É APENAS PARA LOUCOS**
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Não é a loucura que vejo e observo num quadro de Van Gogh, a sua
esquizofrenia, ou a epilepsia num romance do mestre Dostoiévski - o único que
me administrou as lições das máximas mínimas da contingência, ipseidade,
facticidade, em termos e perspectivas o símbolo, o signo da alma humana, mas a
expressão livre de um homem, o dizer espontâneo de um indivíduo, a expressão
livre de seu ser – só assim numa obra de arte me re-conheço, pro-jecto-me a
outras visões e consciências do que sou, de quem sou, só assim numa obra de
arte sou capaz de trans-cender e ver além de minha contingência, dores e
sofrimentos, alegrias e felicidades, de meu estar-no-mundo, de sonhos e
esperanças da eternidade, do eterno da morte e de cinzas, só assim numa obra de
arte posso sentir que a criatividade me eleva e me real-iza, transforma-me,
torna-me outro na outridade de meu íntimo e de todas as suas dimensões de
êxtases e prazeres, na alteridade dos recônditos e regaços dos instintos ávidos
de poder e liberdade, desejos e vontades, querências outras. Além de que nem
todo o louco ou epiléptico, esquizofrênico é artista, a arte não é apenas para
loucos, epilépticos, esquizofrênicos, esquizóides, hipócritas e imbecis,
bufões; na arte, porque na escrita qualquer um deles pode fazê-lo, os
hipócritas e os imbecis são os que mais têm livros nas estantes das livrarias,
os esquizofrênicos mais se ajuízam os imortais, os que mais se aproximam da
verdade, embora se lembrem de que o real só exista na imaginação fértil.
Toda a real-ização, por superior, implica o estar-no-mundo, ou seja a
presença de um corpo nele. Pobre bocado de carne tão perecível, tão degradado
na miséria que a cada instante o corrói ou ameaça.
(**RIO DE JANEIRO**, 22 DE ABRIL DE 2018)🕵️
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