ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA ENSAIA ADORNO NO AFORISMO 681/**SILÊNCIO ÚLTIMO DO MISTÉRIO**/
Atrever-me dizer que as palavras essenciais neste aforismo “SILÊNCIO
ÚLTIMO DO MISTÉRIO# serão a Verdade, Enigma, Estética, Adorno, Arte, Crítica,
Aparência, Negação, Afirmação, Belo, Sublime.
A existência feriu, feriu, volveu sebo. Isso foi antigamente; agora nem
sabe mais do que é feito. Uma única laranja ácida pode o avinagrar. Parece que
permuta, mas é idêntico.
Uma vela que ateia outra vela, que ateia outra vela, que acende outra
vela. Uma sucessão de cofres de carga fixados um no outro, uma coisa depois da
outra, e mais outra, como as que sempre se ocorrem, sem armistício, sem um lago
sereno no meio deles, sem estadia. Tudo se bisa e bisa, limitado a somente meia
dúzia de réplicas; meia dúzia de vincos metidos na campina estarrecida e alva
das nossas faculdades. Meia dúzia de circunstâncias prontas a nos aprisionar;
fintamos aqui, fugimos ali e sem nos darmos conta, resvalamos para o fosso
comum da inconsciência.
Reiniciar ou bisar?
Trepamos vulgaridades, impelindo colina acima pedras colossais,
compactas, grossas como são os nossos temores e nossas expectativas. E nos
depauperamos porque o aguardado jamais se executa, e do oco do empenho não
ressarcido, vem o ímpeto de arriscar novamente.
É merecedor e maduro ensaiar, assimilar com o engano, ir em dianteira,
dar a volta por cima. Mas só sustendo a obscuridade do instante presente com
afabilidade, na tentativa do tom que ele pode nos presentear, sem diligenciar
culpáveis pelos nossos desalentos, sem crer em firmezas imaginárias, e
finalmente renunciando, mas renunciando até nos experimentar enjoados de tanto
pretender renunciar, só assim, e só aí, é exequível reiniciar.
Invocar meramente verbos, é bom, mas para isso é necessário que haja cerejas.
Mas é preciso amá-las.
O Autor debruça-se inclusivamente sobre o pensamento estético de
Embelezamento e procura elucidar aquele que é quiçá o seu desafio mais
deliberativo: a captação e a exploração análises do teor de realidade de obras
de arte. Que a realidade da arte, segundo Adorno – para quem esta questão se
decai no singular, a deferência de obras de arte concretas –, seja indivisível
do seu latente analítico, da sua negatividade, é insofismável. Contudo, esse
potencial revela-se inabalável à lógica de uma arte claramente astúcia e não é
praticável pensá-lo omitindo da inerência dos processos artísticos. Em
concordância com a perseverança de Adorno de que o virtual crítico da arte e a
sua autonomia não se adversam, a lógica entre «verdade» e «aparência» ocupou um
lugar central na recepção da estética de Adorno. O «teor de verdade» seria
então a «aparência do não-aparente», ou seja, a aparência da reconciliação de
contradições que, sendo as do real, penetraram historicamente na esfera
imanente das artes., o âmago da estética adorniana moraria nas divisões dos
efeitos analíticos de uma tal prática do «enigmático». Ou seja, cabe realçar
que, para Adorno, a arte, encarando o seu potencial analítico, não se confina a
acusar o real – sob a figura do «obtestação» – ou a antecipar um outro real por
vir – sob a figura da «sob a figura da «utopia» – mas, enquanto «enigma»,
arroja a razão numa carência de compreensão que abala as espécies de
compreensibilidade do real e, previsivelmente, da sua possível modificação.
Assim, no sulco da exploração das vertentes negativa e afirmativa da arte em
relação ao «carácter enigmático», afluirá a hipótese de que, por maior tanto da
captação da sua singularidade quanto do enfoque na sua actualidade, cabe
diferençar na estesia extremamente bela o conceito de «enigma» – em prejuízo
dos de «belo» e de «sublime» – e pensá-la como uma «estesia do enigmático»
Se focarmo-nos bem no texto, descreve sempre o belo e o enigmático de
variadíssimas formas…quer na natureza, no amor e na morte… Anseio sulcar tuas
insónias com verbos alvos,
com cantos translúcidos e ser, inesperadamente, carpos no solo.
Como sempre, textos muito complexos para decifrar.. bem ou mal vou
tentando à minha maneira decifrar como eu entendo e percebo nas entrelinhas…
pois não são textos em que se vê tudo de imediato e se tira uma conclusão. Com
certeza que divagarei…é natural…tento ir a várias facções para tentar entender.
Ana Júlia Machado
Adorno fascina-me - e é muitíssimo complicado como o são todos da Escola
de Frankfurt. Adorno preenche muitos vazios de meus ideais estéticos,
identifico-me bastante com ele.
A sua análise e interpretação, crítica, como sempre divina, Aninha
Júlia.
Abraços nossos, querida!
Manoel Ferreira Neto
#AFORISMO 681/SILÊNCIO ÚLTIMO DO MISTÉRIO#
GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Neptuno,
Em seus instantes de éritos do tempo e do espaço...
Visto da Terra,
Netuno apresenta uma alta magnitude
(quanto mais brilhante o astro, menor sua magnitude),
sendo impossível
observá-lo
a olho nu,
Tritão,
De longe o maior,
Tênue e incomum sistema de anéis também existe,
exibindo
Estrutura irregular com concentrações
de material
que formam arcos,
À soleira da Oliveira, nos auspícios da montanha,
Ovelhas perdidas
Comprazendo-se dos raios e fulminâncias do sol
Que se esconde nas retrógradas traseiras,
De por trás dos mitos e mitologias,
No espelho re-verso das in-versões dos deuses
E das tempestades, maremotos, tsunâmis marítimos...
Quando pelo saber
o corpo se purifica,
é procurando o saber
que ele se eleva.
Para o sabedor, ante-sábio,
todos os instintos
tornam-se sagrados...
Entre os milagres, os demoníacos,
menos concordam com a razão;
e no tangente aos milagres divinos,
a razão poderia ter ainda,
próprio para seu uso,
sinal negativo:
se alguma coisa é re-presentada
como ordenada por Deus,
numa aparição imediata d´Ele, ,
opõe-se diretamente à moralidade,
embora tendo toda a aparência
de milagre divino,
Enquanto Safo,
Escreve sobre as próprias dores e prazeres,
é perceptivo em seus poemas
uma linguagem autônoma,
feminina e fluída...
Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
Da morte a fonte mais bendita,
Da eternidade, o silêncio último do mistério,
Da esperança, o mistério das coisas simples,
Da raiz íntima de mim, a beleza que se projeta
Para o que há de ser, há de vir.
Na rarefação de mim, o tempo salta para além,
Na música de outrora, tudo se revela e acontece.
Faço versos e conjugo verbos
Do indizível e sondável
Deixo fluir a morte,
Ser o outro de mim,
Ser o que em mim sou.
Vou singrar teu sono
feito veleiro louco
e ancorar de repente
no teu ventre virgem e livre;
o mar lúcido de teu olhar,
pouco a pouco,
amainará o peixe de minha vertigem.
Desejo arar tuas vigílias com palavras claras,
com versos transparentes e ser,
subitamente,
fruto no teu chão,
searas e prazeres que me eram
raros por tua causa
hão de brotar nessa canção silenciosa,
que componho e musicalizo
à mercê da criatividade e ilusões
as mais diáfanas
e também as mais obscuras.
(**RIO DE JANEIRO**, 09 DE ABRIL DE 2018)
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