SONIA GONÇALVES ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA COMENTA O ENSAIO /**ASSIM NASCE UMA ESCRITORA**/



Vixeee! Te cuida, Manu!!! Graça Fontis chegando e chegou com maestria dos grandes poetas, filosofistas, estreou bem demais, nesse texto diga-se, porque já tive oportunidade de lê-la antes e ela escreve muito bem! As dificuldades mencionadas por ti, agonia, angústia não lhe cabem, também não a mim, isso é coisa de poeta e filósofo, é coisa de você, Manu, que escreveu super bem todos os detalhes referentes à autora/pintora Graça Fontis, ela está apenas deixando fluir a poesia que habita em seu ser, pois não fosse ela uma poeta não pintaria com maestria como faz, aliás que obra perfeita essa que emoldura o não menos perfeito texto do querido Manu. Muita ternura e relevância é o que o poeta marido lhe presta homenagem e admiração, homenagem e admiração que faço eu questão de endossar. Arrasaram meus queridos! Textos lindos!!! Estou aplaudindo a duplinha da boa cultura. Bjos


Sonia Gonçalves


Uma in-vestigação das origens, mergulhada na alma, no inconsciente, à busca dos princípios que norteiam não apenas o início de uma vida literária, de uma prosadora, mas dos caminhos que trilhará deste momento em diante.


Não interfiro em nada que ela pinta, muito menos que escreve. Nem perto dela fico: temos nossos lugares diferentes. Só depois que ela escreve é que fico conhecendo. Não esperava mesmo que no seu terceiro texto prosaico fosse se mostrar tão primorosamente, numa prosa poética sem precedentes. Não a homenageio, não a protejo, digo o que a sua Arte revela. Só uma coisa exijo dela radicalmente: a honestidade e dignidade consigo mesma, ser ela própria no que pinta e escreve. Sou exigente ao extremo nestas circunstâncias. Não quero ninguém dizendo que ela segue os meus passos, como disseram sobre Simone de Beauvoir no início de sua carreira: "Segue os passos de Sartre". Em 1997, orientei uma Monografia em Sartre, para aquisição do Diploma do Curso de Filosofia, Licenciatura Plena, no Seminário Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus, Diamantina, e o estudante Renato Diniz Magalhães Filho, após tirar 10 na Banca Examinadora, disse-me com estas palavras: "Estive por desistir de ser orientado por você, devido às suas exigências radicais. Mas aprendi a escrever". Exijo mesmo, e exijo muito.


Não sou quem a dizer sobre as dificuldades da escritura, agonia, angústia, desespero no ato da criação, Graça Fontis afirmou isto radicalmente, inclusive ela levou três dias para escrever isto. Concordo com você no que concerne a dizer que angústia, desespero, agonia no ato da criação são coisas de escritor e filósofo. Pura verdade - não há contestar. Contudo, como você mesma, Soninha Son, afirma: ela estreou e estreou bem na prosa, estou embasbacado com esta obra dela, identificou com sabedoria a prosa poética que lhe habita conciliada à pintura - ah, se eu houvesse investigado tão profundamente, quando iniciei, hoje estaria muito distante do que estou, mas iniciei muito criança a escrever e tal investigação não seria possível, ao longo do tempo cuidar de refletir, meditar sobre as minhas letras, consumei a reflexão, meditação com os cursos de Letras e Filosofia.


Nasce a escritora, a grande escritora, e estou muito orgulhoso dela. Disse-lhe quando me mostrou o texto: "Daqui a algum tempo vou aposentar as letras e deixá-las para você continuar a jornada".


Beijos nossos, querida. Gracias muchas por seu comentário.


#ASSIM NASCE UMA ESCRITORA#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: ENSAIO


Pro-jectar-se significa abrir outros horizontes, outras trilhas a serem palmilhadas.


A pintora, escritora e poetisa Graça Fontis assume pro-jecto diferente à sua Arte da Pintura. Envereda-se pela Literatura, Prosa.


Se para o iniciante - quem começa a escrever, não pertencendo a outra dimensão da Arte, como ela -, escrever é angustiante, desesperador... imagine quem pertence à Pintura embrenhar-se pelos caminhos das Letras é ainda mais angustiante, desesperador, de arrancar tufos de cabelos, encontrar a Linguagem, o Estilo, tornar o pensamento linguagem, a linguagem pensamento, tornar-lhes transparentes, nítidos são tarefa de Sísifo, leva-se a rocha até o cume da montanha, cujo objetivo é instalá-la no topo, mas ela rola para baixo, assim continuamente, a rocha jamais instalada no cume.


A artista não se intimida com esta travessia. Deseja realizá-la não apenas a contento, mas radicalmente. O seu objetivo sine qua non é comungar a Imagem e as Letras, arrancar da Imagem as Palavras, tornar as Palavras Imagem.


É de ad-mirar-se a sua entrega. No seu terceiro texto prosaico, quer mostrar a que vem. Outra vereda para esta realização não seria senão o mergulho profundo na sua sensibilidade, no seu "eu-poético", "eu-plastico". Numa con-versa nossa, após a produção de "NAS SENDAS DA CRIAÇÃO", dissera-me que, para criar um texto, ela traz tudo o que traz dentro de si no momento da pintura, e isto é extremamente complexo, dá vontade de arrancar-se de dentro, é uma dor no peito sem limites, e esta passagem elucida com primor o instante da criação literária: "... à busca da razão concebível, não perecível no tempo e no devir...", a busca da racionalidade da prosa, não havendo alternativa senão "... deixo-me arrastar pelo indomável portento a abrigar-me nas matas brutas, caverna de prisco odor neste influxo intrépido sem que se me extravie das ondas indômitas irreverentes a emitirem uivos em desespero nas sendas da criação..."


Diz ela que a Poesia é mais fácil de criar, é deixar os versos e estrofes nascerem à luz da sensibilidade, intuição, percepção, criatividade. Sente-se livre com a Poesia. Mas ela não quer esta liberdade, quer se sentir presa, amarrada, aguilhoada à razão, quer pensar o pensamento que pensa, quer espremer os miolos.
Quê metáfora esplendorosa cria para revelar como a prosa se lhe manifesta: "... São árvores, ninhos, raízes, montados no tempo, néctar dos desejos transcendendo passado, ventos e limites arquitetônicos na ressuscitação densa e casual destes instantes aflitos, impacientes..." A prosa é isto mesmo e transcende a isto, vai muito além. Para mim, a prosa é uma verdadeira floresta fechada e hermética, em todas as suas sendas corre-se riscos, está-se ameaçado de todas as intempéries, o que salva de ser engolido por ela é a criatividade conciliada ao pensamento, às idéias, plagiando as suas palavras reveladoras: "... tropicália mental dos sonhos voadores".


E para identificar com categoria esta "tropicália mental" inicia a sua jornada na Filosofia, lendo autores filósofos. Aliás, chegou a afirmar-me que desejava muito fazer faculdade de filosofia, embrenhar-se nas idéias, pensamentos.


Este texto é histórico, é um documento primoroso para se conhecer não só a artista-plástica, mas também a escritora, uma viagem adentro a alma, a inconsciência, ao inconsciente artístico. Para se ler e entender Graça Fontis mister a leitura deste texto. Conheço, no real mesmo, alguns escritores e poetas de primeira viagem que não se dignaram a esta reflexão, deixando que o tempo cuidasse de mostrar-lhes o caminho a seguir. A escritora Graça Fontis não. Já se dignou a fazê-lo na sua terceira criação prosaica, o que mostra o seu compromisso, responsabilidade com o pensamento, com as idéias. Por onde passar nestas alamedas prosaicas haverá passos flexíveis, a in-ovação, a re-novação, isto é a Liberdade da Criação em questão, em jogo, à busca do Ser.


Manoel Ferreira Neto


GRAÇA FONTIS: TEXTO(AUTORIA)/PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA


#NAS SENDAS DA CRIAÇÃO#


Ao meu Esposo e Companheiro das Artes Manoel Ferreira Neto com muito amor e carinho.


Busco-te onde és estranho, no trapézio de minhas idéias, com singular volubilidade o meu pensar, experienciando no subterrâneo do meu cérebro fascinação, persuasão, notificação, íntimas sensações, ímpetos misteriosos, páginas a virem à luz, verdades remotas no tempo a serem discernidas, exprimindo-as no presente, restaurando o passado tangível às instabilidades do momento na indelével edição da vida a cada estação, e com o caminhar prosaico na terra dos homens a sabedoria ficou prenhe nos relevos macios do coração predileto, nas lancinantes e derradeiras horas, portador da alegria a cravar as melhores imagens justificativas da minha absurda transitoriedade à busca da razão concebível, não perecível no tempo e no devir, nestes disciplinados instantes o luzir dos olhos na dourada noite voluptuosa, em frenesi insignificantes mãos intensificam traços intermitentes, castanholando figuras inéditas, desconhecidas no trânsito do além, outras lembranças de ruas quaisquer, esquinas, praças, alimentadas pelos céticos executores maléficos, dentes brilhantes e voz enternecentes no perder da noite. Já os dedos acompanham o ritmo acelerado atentos na compreensão antes que os personagens em fuga açoitem o chão dos sinuosos caminhos, terra batida com os seus cabelos volantes tornem-se aos lugares devidos, olhares astuciosos, incindindo frieza, escárnio, ora fascínio.


Oh corpos fisionômicos estilhaçados em trânsito! Bebo-os em taças de cristal com abissais ares de reprovação e incredulidade, aquando atraída e enlaçada na velocidade dos ventos, face mordiscada por sutil sorriso, deixo-me arrastar pelo indomável portento a abrigar-me nas matas brutas, caverna de prisco odor neste influxo intrépido sem que se me extravie das ondas indômitas irreverentes a emitirem uivos em desespero nas sendas da criação à mercê do rubroso crepuscular arco-irisado; cenário incidental na formatação excedente sem domínio nesta dança no jardim oculto da vida, onde passo há passos flexíveis sobre a tropicália mental dos sonhos voadores.


Só sonhos! Acordo, no sentido de gente dentro da gente... Não de hoje nem de ontem. São árvores, ninhos, raízes, montados no tempo, néctar dos desejos transcendendo passado, ventos e limites arquitetônicos na ressuscitação densa e casual destes instantes aflitos, impacientes, emergidos como coriscos eletrizantes a banharem o branco mundo submisso com a tecitura fantasmagórica a eternitude dos ternos amantes atingidos e tingidos pelas cores dos devaneios. Na expectativa da vida, a próxima ou a última edição! Aos vermes, não à exultação, não à consagração, no mundo que não tem dono.


(**RIO DE JANEIRO**, 14 DE ABRIL DE 2018


Comentários