#AFORISMO POEMÁTICO 705/ VIRTUDES ETERNAS À LUZ DO TEMPO E DA MORTE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO POEMÁTICO
Seria que ec-sistisse somente um Tempo - tempo das passagens, tempo das
travessias, o tempo objetivo. Tempo da descoberta do mundo, tempo das
brincadeiras, diversões, ilusões do tempo. Tempo longo elaborando con-versas e
diálogos. Mas vai passando, vai passando. Transforma-se no tempo dos sonhos,
das utopias da vida, das buscas do amor, da felicidade, da alegria. Tudo são
volúpias, êxtases, o mundo é mágico. Este tempo vai passando, vai passando.
Transforma-se em tempo de preocupações, de desejos de realizações, a vontade
viva da conquista do Ser. Estas transformações parecem brincadeiras sem graça,
não deixa a mínima chance, agarradas ao pé sem largar minutinho sequer.
Peço ao tempo tenha paciência, largar-me o pé, deixar-me viver,
deixar-me degustar a vida, deixar-me livre para voar por todos os horizontes e
uni-versos, sentir-me a mim mesmo. Quando chegar a hora - a hora de despedir-me
da vida, do mundo -, que ele, o Tempo, realize a sua missão. Enquanto não chega
esta hora, quero liberdade, liberdade de ser, liberdade de viver, liberdade de
conquistar os sonhos, as esperanças.
Seja o tempo objetividade, mas é pura subjetividade, e desejo mergulhar
nesta subjetividade e aflorar o "ser" que habita, sem o objetivo no
encalço. Só correspondo na verdade, na verdade, a um instante do transcurso
dramático da paixão.
Da morte, a fonte mais bendita,
o regaço mais mágico - uma voz de contralto,
profunda e poderosa,
como se ouve às vezes no teatro, e por falar nisso,
resta-nos o "Teatro da Re-versão e In-versão",
quando possível, atores, atrizes, diretores contra-cenarem a in-versão e
a re-versão?; da vida, a origem mais divina, almas sublimes, heróicas e reais,
capazes de réplicas, de decisões e de sacrifícios grandiosos, atitudes
paradoxas e cor-agem ilimitada, ações de deuses corruptos, a con-tingência mais
hadisíaca; da eternidade, o silêncio último do mistério, mistério das parcas
seren-itudes, mistérios dos pórticos cócitos das plen-itudes, a solidão primeva
do desconhecido,
da imortalidade, imortalidade dos dogmas, dos preceitos,
dos princípios retros-pectivos do absoluto,
a con-templação da verdade, da esperança,
o enigma das coisas simples, puras, inocentes, ingênuas da fé.
O indizível da redenção e ressurreição,
o in-audito e in-expressável do espírito e trans-cendência,
da alma é imanência da finitude,
o retros-pectivo do in-verso e o re-verso das tristezas,
na contra-cena do in-dizível e o visível da alma das criaturas,
o in-terdito dos projectos e dos sonhos, vistos à luz
da indiferença da vida com os seres.
O que penso ser não o sou, o que sinto ser será o que sou,
a língua de volta para um estado originário no qual ela
quase não pensa em conceitos, no qual ela ainda é poesia,
imagem e sentimento,
cuidando de conscientizar-me do que é a vida para mim,
da raiz íntima de mim, a beleza que se pro-jeta para o que
há-de ser, há-de vir, para o que há-de se perder, esvair-se,
esvaecer-se, para o encontro de outras metas e rumos,
outras labutas e dificuldades, para a construção de valores
e virtudes eternos à luz da espiritualidade,
algo que "faça a vida valer a pena",
de outros propósitos e interesses, na rarefação de mim,
o tempo salta para além, na música de outrora,
tudo se re-vela e acontece, nada se manifesta e morre.
Faço versos e conjugo verbos do in-dizível e sondável, do dizível e
im-palpável, do sensível e im-pensável. Deixo fluir a morte, ser o outro de
mim, ser o que em mim sou, ser o "eu" que de mim não sou, ser o
"outro" que de mim vive, não ser a vida de mim; re-flito nas estrofes
as querências do amor e sentimentos de compaixão - passarinho verde
sussurrou-me no ouvido que andam investigando a musicalidade na estrutura da
poesia, dizem que nascera das sofrências dos homens... sei lá!...
Pensar sobre a essência do mundo nos acontecimentos, filosofar em
melodias, ritmos, acordes, o que restou de intencional tem em mira as
apreensões últimas. Quem é digno o suficiente para saber o que se passa, o
"acontecendo", qual é o diálogo por vezes, noutras monólogo, sons do
silêncio que travo comigo mesmo na mais sagrada escuridão de minh´alma, o olhar
alquebrado, derreado de moribundo com sua aspiração dulcíssima e insaciável aos
mistérios da noite e da morte, bem longe da vida que ilumina o mal...
Medito, nos ritmos do sentido e desejo, as in-fin-itudes do tempo e ser,
as in-fin-itiv-idades do uni-verso do saber e conhecer. Con-templo a terra de
céu sem nuvens, de nuvens sem céu, vales sem abismos, vice-versa, vis-à-vis.
Espero o amanhã para outras idéias, pensamentos que me in-diquem as poeiras da
metafísica, efêmeras e etéreas, as fumaças da antropofagia, da carne viva, da
antropologia da passagem, travessia do ser ao conhecimento, da cultura à
consciência, do nada de trevas à luz do nada.
Oh, Anjo da consciência idiota, dizei-me com a idiotice toda que vos
habitais o mais íntimo do ser, sabendo eu que a regais com as vossas novas
experiências e vivências, desde a aurora ao crepúsculo, a questão de ainda não
terdes aprendido que a ignorância é irmã gêmea do atraso. e o atraso vive
colado aos pés da corrupção, reclamando-lhe os dezessete e setecentos de boa
ação? O atraso é amancebado com a miséria e a criminalidade. E que juntos, -
mesmo que não podeis perceber isso claramente, a conservação e preservação dos
princípios morais e éticos, espirituais e históricos, culturais e artísticos
eliminaram-lhe toda e qualquer possibilidade de visualizar o outro que lhe
habita – de mãos dadas, somos parceiros con-templando um ao outro.
Para exprimir com a insolência e irreverência que me são presentes e
fortes,. encontro novo meio: destaco certos níveis de minha trajetória e os
inter-preto com grande determinação, de modo que possam adivinhar todo o
per-curso.
O que se faz tarde demais para salvar a vós e o futuro de vossa
excelentíssima prole.
Portanto, digníssima prole do futuro morto, escuta meu rogo! Aproxime-se
de mim, toca em meu rosto! Porque ele, o meu rosto, é tua imagem de gente
apaixonada, irada, enquanto for humano à eterna busca da sublimidade. Ele, o
meu rosto, agora, é seu espelho exoticamente insurrecionado, reluzido no cio de
um sentimento chamado raiva pulcra e imaculada, por causa dos dramas de vossos
sonhos traídos e usurpados pelo explícito e vil desprezo político dos homens do
crime, do roubo e da corrupção do Estado.
Anjo, eis-me aqui. Por sobre a terra podeis ver-me a caminhar com o
amor, dentro do fogo e de por baixo da água. Tragédia e espetáculo, que vieram
a mim e que por vós estão por virem.
(**RIO DE JANEIRO**, 26 DE ABRIL DE 2018)
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