*ZERO DE ÂNGULO OBTUSO* - Manoel Ferreira
EPÍGRAFE:
Zero de ângulo obtuso... Custa a própria vida sê-lo, andar solitário por
entre os homens. (Manoel Ferreira Neto)
Dizem somos os homens párias de nós mesmos. Quem o diz deve ter
mergulhado bem profundo em sua alma, in-vestigado suas atitudes e ações,
assumindo-se assim, é pária de si próprio. Quê bela consciência! Teve a
cor-agem de se re-velar, confessar-se, o que é digno de louvores. Mas entre o
louvor que está merecendo e a glória que está esperando receber, a grande
medalha, há uma diferença enorme. Assuma-se pária, confesse-se como tal, mas
jogar todos os homens dentro de seu saco de farinha, isto é inconcebível, em
alguns homens há o "nós" deles mesmos, não precisam de serem jogados
em sacos de farinha, assumem-se a si mesmos, vivem de quem são. Tudo bem -
continuem a jornada deles, jogando todos não apenas nos sacos de farinha, nas
sarjetas, nos "bayou", onde pensarem ser mais conveniente, onde lhes
aprouver.
Não digo a ninguém, digo-o a mim próprio, investiguei com todos os
métodos de que disponho, com a verdade que me habita, e não me deixa justificar
ou explicar o que está mais do que lúcido e nítido, com todos juízos, todas as
forças presentes no meu superego. Não posso deixar de estar deprimido, a alma
encontrar-se agitada, pois condições tive-as às pencas para ter dado outros
rumos à existência, tê-la construído de outros modos, estilos, tê-la realizado
noutras dimensões da realidade, mas preferi investir nas coisas fúteis,
medíocres, imbecis, ser nada, viver o nada, por sentimentos de revolta,
ressentimento, mágoa, raiva... Era bem fácil. Não pensei no futuro, no que
haveria de vir, dia haveria que todas as realidades vividas e vivenciadas
estariam à minha frente, a vida me mostraria as verdades, e nada poderia dizer
em minha defesa.
Sou zero de ângulo obtuso.
Julguem tais palavras simplesmente "dramalhão", desejo de
chamar atenção, ser digno de pena, dó, comiseração, sensibilize os corações
piedosos, humanos. Haja até quem, inspirado em mim, de imediato, jogue todos no
meu saco de batatas, dizendo que somos todos "zero de ângulo obtuso",
o que vou discordar plenamente, pois a consciência do zero é minha, o ângulo
obtuso é também meu, conforme a perspectiva com que analisei, conforme as
verdades da vida vividas e analisadas que fui acumulando, os juízos que me
habitam. Sou o único "zero de ângulo obtuso". Não o digo para
defender a minha diferença entre todos os homens, afirmando assim a minha
personalidade, caráter, a minha identidade. Digo-o apenas para ser sincero e
verdadeiro comigo mesmo. Posso não haver sido homem digno, honesto comigo no
concernente a ter dado rumos virtuosos à vida, destino pelo menos plausível,
mas aprendi no de-curso e per-curso a ser verdadeiro comigo próprio. Não
importa o que fiz de mim, importa o que faço agora de mim. Tomei a decisão
peremptória e radical de tomar outras trilhas, mudar de estradas, à busca de
minha dignidade, fazer jus às palavras de alguém querido e amigo "A vida
tem muitas coisas lindas e maravilhosas para ser vivida". Vou rasgar os
zeros na jornada, instituir outros ângulos de posturas e condutas.
Sozinho no mundo, diante de minha vida... Não jogo os homens no meu saco
de batatas, cada um sabe de si próprio, investigue-se, assuma-se, isso é com
qualquer um.
Só sei de mim, só sei de mim, só de mim...
Manoel Ferreira.
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