COMENTÁRIO DA AMIGA, ESCRITORA E POETISA ANA JÚLIA MACHADO AO TEXTO /**ADEUS, GRACIAS POR TANTO CARINHO**/
**ADEUS, GRACIAS POR TANTO CARINHO**
Manoel Ferreira Neto.
Verbalizar adeus não é acessível, mas surge um instante em que é
necessário. É necessário verbalizar até à próxima! Instruir a colocar termos,
encerrar trechos, acuar etapas da existência… Mas para isso, é necessário
possuir audácia e certeza, porque verbalizar partida é se desgrudar daquilo que
um dia já afiançamos, e de todas as esperanças que alimentamos. Mas pronunciar
despedida é igualmente se desprender do que já está sumido ou do que não já
merece o esforço, e compreender que é momento de principiar um outro estádio na
existência.
Admitir o termo e verbalizar despedida pode ser uma aparência de culto
de independência. A mágoa de desperdiçar algo em que se confiava pode ser
enorme, mas o lenitivo de se ver independente de hesitações e dubiedades e saber
rigorosamente qual é o momento verdadeiro da condição é essencial para
equilibrar novamente as sensações.
Na existência, assim como numa contenda, para acudir-se é necessário
perceber a ocasião correcta de retroceder. Só assim, é exequível desenvolver com
mais alento e com mais talento em demanda de novos desígnios, novas contendas,
e novos triunfos.
E é isso que deseja o Escritor Manoel, ao verbalizar “Adeus”Como
profere, Manoel, se não o compreende, percebe por pretender abalar, que pula de
satisfação e exultação com as expugnações e execuções que dispôs, versejou,
trovou, poematizou.
Acha-se um indivíduo tão esquivo que a dita na duração, trajecto,
decorrer do tempo finda por o enojar, mortificar, sentir-se enfadado, a dita
pincel, incessantemente sentiu que o selvático dos trilhos e sémitas são
compostos de eventualidades e pesquisas, sofrimentos e torturas, e
constantemente a representação da vida retratada no reflicto do infinito,
cumpre convertê-la o rosto da alma, vulto do ser, semblante do poema único.
Ana Júlia Machado
**ADEUS, GRACIAS POR TANTO CARINHO**
No mais estou indo embora, em mim a memória de instantes os mais
preciosos, alegrias, sentimentos e mais sentimentos fluindo livres, e tantas
aprendizagens outras que modificaram a visão das coisas e do mundo, vislumbrei
outros ideais e desejos, alumbrei outras perspectivas de re-fletir as
travessias para a vida de querências de completudes, desejâncias das volúpias
do prazer. Muitas aprendizagens sim.
Se senti a presença da vida com as aprendizagens assimiladas,
experiências e vivências que des-abrocharam outras idéias e pensamentos, por
que ir embora? Não deveria desenvolver e amadurecer o novo homem que se
presentificou? Inscrever a felicidade no tabernáculo dos verbos eternos?
Por mais que hoje seja outro à luz do vivido, estou contente, mas além
há outra vida, novas perspectivas, novas sorrelfas de vontades, novos projetos
para a realização de quem sou. Não diria que nada me satisfaz, o pouco é
tiquinho, pensar grande é o tesouro da plen-itude; digo sim que viver está
sempre além, quanto mais se vive mais se tem para viver, é nunca perder a
ousadia de se entregar a outras buscas, nunca perder a volúpia de outros
conhecimentos.
Estou indo embora, mas deixo a minha sinceridade, a dignidade das
atitudes e gestos sensíveis: não havia conhecido inda o que é o sentimento de
felicidade, sentir sempre o impulso de regar o verbo do tempo com as águas, com
as lâminas das águas das esperanças do eterno perene que orvalha a alma de
outros confins da verdade, do perpétuo imortal que sensibiliza a memória do
verbo-espírito à continuidade do etéreo...
Aqui conheci as dimensões da alegria, os volos do prazer, a felicidade
dos ideais e sonhos, acima de tudo a sin-estesia da vida que se compõe com
idílios son-éticos do amor aos ritmos e melodias da canção do sublime, e esta sinfonia
só se presentifica com a lírica das andanças, hoje aqui, amanhã ali...
Não me entende, compreende por estar indo embora, que saltito de
felicidade e alegria com as conquistas e realizações compus, versifiquei,
versejei, poematizei.
Sou um homem tão estranho que a felicidade no de-curso, per-curso,
trans-curso do tempo acaba por me nausear, angustiar, sentir-me entediado, a
felicidade brocha, sempre senti que o silvestre das sendas e veredas são feitos
de contingências e buscas, dores e angústias, e sempre a imagem da vida
re-fletida no espelho do além, cumpre torná-la a face do espírito, semblante do
ser, fisionomia do verso-uno.
Manoel Ferreira Neto.
(29 de maio de 2016)
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