**NOSTALGIAS E MELANCOLIAS DA VIGÍLIA** - Manoel Ferreira
Na manhã de luzes e pré-núncios, a-núncios em imagens brancas de nuvens,
em reflexos de níveas trans-parências, à luz dos raios de sol, desenhando
miríades emolduradas de sonhos e quimeras, saudar o místico momento da fresta
no horizonte imortal e divino da lua na noite calada, quiçá glorificar a
frincha do além no panorama in-finito das estrelas no silêncio da madrugada.
Infinito do uni-verso numinado de “harmonia de cores”, sin-cronia de
traços a pincelarem imagens geminadas, sin-fonia de pers-pectivas a res-plandecerem
de beleza as sendas perdidas, signos de esplendor e eterno nos liames do
espírito, desde o sentir do sono, do êxtase, desde o sonho ao sono, instante de
sedução, brilho das estrelas e da lua, “pedras sagradas”, cristais, diamantes e
ouro que rimam palavras sutis com o éden de luzes e lilases, inspiradas na rede
que balança nas gerais “utopias cristãs”.
“A sina de ser”, o destino de cont-ingenciar o quotidiano, o elo de
todas as coisas, élan de todas as manifestações mundanas e contingenciais,
flores são espetáculos da natureza, liberdades são cenas eivadas de ternura e
carinho, “instante de sedução”, efêmeros gozos de eterno po-ematizados, querer
brincar com estrelas, correr campos, velejar, beber a sede das ruas, queimar a
luz do luar, lavrar o corpo no grito.
Signo de metáforas nascidas de vigília e palavras a pincelarem imagens
do imortal e divino a preencherem os vazios da falta de ser, “manque-d´être”,
da ausência de alegria e prazeres, pedras sagradas, diamantes profanos que
rimam palavras sutis, que ritmam dores são sentimentos de luz inspirados no
brilho das estrelas e da lua mineiras.
Sou feliz por me esquecer das horas TODAS!...
Busco ritmo de árias antigas. Desejo a melodia de harpas à luz da
cintilância das estrelas, ao brilho intenso da lua - quem sabe não me inspire
para o alvorecer de outros idílios do efêmero, novas fantasias do amor! Só me
recorda o modo demasiado imperfeito, o estilo sobremodo irregular. A fim de me
não entristecer, interrompo-me. A fim de não vagar pelas sendas e veredas do
campo à busca do silvestre das margens do rio que desliza lento rumo aos
cócitos do além. Intenciono resgatar-me nos caminhos do rio sem margens,
pressa, ser-me inteiro. Intenciono re-colher e a-colher a terceira margem,
segui-la, simples assim.
O desejo de amor inter-penetra a lembrança do labirinto cujo estranho e
patético rumor chega através do êxtase, permanece à mercê da volúpia da
travessia das nonadas do instante às arribas do eterno. Esquecimento do abismo
cujas estranhas vozes e sussurros chega-me aos ouvidos. Busco transmiti-lo,
desejando-lhes amenizar a dor no aconchego de luzes incandescentes,
acompanhadas de sombras.
Ouvir o sussurro que fere as cordas sarcásticas... Balbuciar o murmúrio
que dedilha as notas irônicas da esperança. Por que não o faria? Toda a vida me
entrego em mãos. As palavras, voz dócil e meiga! O corpo são saudades da
vertigem do despertar. O olhar são as nostalgias e melancolias da vigília.
Ouvidos dão passagem aos ritmos presentes que são outros.
Dou corda aos sentimentos de felicidade de me esquecer das horas TODAS.
Compreendo por que rios estou a navegar. Dizem que quem navega por ali e acolá
jamais chega a porto seguro, vaga pelo infinito das águas. Correspondência
anterior e interior: tesouros dos campos, luz nas trevas.
Não levo em mira recompensa, cedo-me às carnes do ócio. Não projeto
troco de dois e trezentos aos vinte mil réis com que paguei o meu vôo pelos
mares, florestas e rios da vida. Levando-me à solidão, onde falarei ao coração?
A solidão responde aos compromissos, tece desculpas. O silêncio estende as
dimensões reflexivas aos horizontes do amor e desejos de felicidade. Compreendo
ou me persuado maduro estou para linguagem nova. Entendo ou me convenço livre
estou para me entregar inteiro ao universo de outros estilos de trilhar os
caminhos do campo.
As palavras, penduradas no tempo, vão desfiando novelos de linha,
tecendo letras de compreensão e entendimento. Cada instante é insubstituível;
faz-se mister concentrar-me. A cada nova fase da lua con-templo o in-finito da
luz que ilumina a terra e os sonhos humanos. Quisera-me difuso. O amor
espera-me. Conheço-o sempre e jamais o reconheço inteiro.
As letras, suspensas no tempo, vão imprimindo no espaço imaginário do
papel a lingüística do instante. Os versos, tecidos às chamas das volúpias da
carne, vão inscrevendo os desejos trans-cendentes do verbo-de-ser. Há certa
intensidade de clímax que o homem mal pode ultrapassar, e não sem umedecer os
olhos. Há nesgas de nuvens, terras e poeiras a trilharem. Há metafísicas nas
estrelas, mata-burros e córregos da estrada.
Metafísicas de meiguices insolentes do inferno
Comungadas às sorrelfas de idílios compactos
Metalinguísticas da floresta que bebe o rio
Aderidas à terceira margem do rio que bebe a fonte originária,
Metassemânticas do sonho do verbo amar
Conciliadas ao rio que bebe a floresta
Onde a lua ilumina a dança, a roda, a festa
Metafisicas da estética do eterno
Em sin-thesis com o efêmero que o tempo consolida
E os ventos sopram as esperanças do in-finito.
Manoel Ferreira Neto
(30 de maio de 2016)
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