**NÉCTAR DA POIÉSIS POIÉTICA** - Manoel Ferreira
O sagrado tem mais poesia, guarda nos versos dos cânticos o divino e
eterno, nas estrofes, os cristalinos esplendores do sublime e puro, nas
metáforas a cintilância dos sentimentos, e emoções, no ad-vir e a-nunciação do
verbo eidos da alma, nas entrelinhas, a transparente magia da verdade.
O esplendor da beleza é raio criador: derrama a tudo a luz que evoca a
lembrança casta, a recordação virgem, a memória hímen do fundo amor do que não
ama, não sente o lívido suspiro da felicidade, não intui a nitidez pura da
alegria, não con-templa o prazer no brilhar dos olhos, não percebe a
trans-parência lúdica na pronúncia ipsis da litteris palavra. Quando houver em
mim um eco de saudade, sussurro de sibilo melancólico, balbucio de nostalgias
distantes, pestana de sonhos por virem, beijarei com sofreguidão e êxtase esta
prosa de versos que escrevo, sentindo reavivar a chama do amor que lacera,
palpita e soluça.
Virá um dia de sol ardente, de chuva fina, de inverno ou primavera, de
vento ou frio, em que mais sagrados e cristalinos esplendores espelharão nas
nuvens as estrelas brilhantes do uni-verso, na luz da lua pro-jetarão
esperanças e fé da Verdade, na escuridão da noite utopias da Cáritas, Koinonia
do sensível e do espírito.
Divagarei de desejo em desejo, de vontade em vontade, de volo em volo, à
busca de um sonho ou verbo que aspire(m) o aroma da poesia, o néctar da poiésis
poiética, o perfume da linguística poemática, a última harmonia que desejo
sentir pulsar no coração, vivendo de luz mais viva, de espírito mais cristalino,
de alma mas resplendente, de ardores e caliências da carne.
Minhas ilusões fizeram-me, talvez, criança. Pretendi dormir nos braços
de um querubim, à sombra do mistério das estrelas e do infinito, cheio de amor,
vazio de esperança. Mas eu que posso contra a verdade da vida? Minhas verdades
fizeram-me, quiça, senil. Desejei tocar na harpa do eterno a canção da
sabedoria do verbo e do ser, à soleira do entardecer, miríades de segundos
antes da noite, completo de felicidade, alegria, prazer, contentamento.
Minh´alma adivinha a origem de meu ser, a raiz de minhas venturas e
dores, a semente de meus júbilos e glórias, eidos de meus sofrimentos e
devaneios, esperanças de felicidade e alegria. Quero cantar os versos dos
cânticos, melodia, ritmo criados por mim, re-velando o desejo do sublime que em
mim habita. Quero sentir os êxtases do belo divino perpassarem-me o corpo,
deambularem entre a carne e os ossos, perpassarem-me a medula com calafrios e
sentimentos/sensações de cócegas. Quero amar e viver os sagrados e cristalinos
esplendores de colher a flor pura na solitária fonte do horizonte, na ilusão de
que deliro de vida e juventude.
Quando voarem as esperanças de amor profundo, na existência calma, por
que verto tantas lágrimas e prantos, por que pronuncio tantas palavra
mergulhadas nas metáforas e verbos da defectiva linguística do anti-poema, como
um bando de andorinhas no céu aberto de nuvens brancas e azuis, só me restarem
pálidas lembranças, do que fui, do que sonhei, do que desejei, encherei os horizontes
de minha primavera com letras e palavras de sagrados e cristalinos esplendores,
abençoarei minhas desventuras e completarei minha tristeza. A minha alma não é
pura, como era pura na tenr-idade da infância, quando o verbo não era “ser”,
era “brincar” á luz do sentir e sonhar a vida. eu sei, se sofro agora por
sabê-lo não sei,
Finjo saber para sentir, represento saber para escrever; tive choradas
agonias, lacrimosas angústias, lacrimejantes tristezas, de que conservo algum
nó górdio inaudito.
Não sei - quem sabe por sagrados e cristalinos esplendores – que fogo
interno me impele à conquista da luz, do amor, do gozo. Não sei de que
movimento audaz de um desusado êxtase minha alma se enche. Nada sei nesta
madrugada de frio agradável, músicas românticas.
Manoel Ferreira Neto.
(20 de maio de 2016)
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