*GARATUJAS DE UMA VERDADE* - Manoel Ferreira
Começo...
Engraçado, amor, não me passa na mente, o que é isto - começar, a mínima
ideia, ínfima noção.
Imagino, contudo, nenhuma experiência, vivência, qualquer indício no
passado de uma situação, zero redondo nem à esquerda, nem à direita, e algo
agora que se revela real, vou vivê-lo, primeiro gesto - agulha e linha para
fazer a barra de calça, enfiar a linha no buraquinho da agulha, dar nós na
linha, enfiar na calça, primeiro ponto. Difícil até descrever isto de agulha e
linha para costurar pela primeira vez. Isto sei fazer - a mamãe era costureira.
Assim me sinto... Jamais conheci o amor, vivi relações de aparência,
sabendo não era amor, não criei imagem dele, acreditei ser real, apenas uma
convivência a partir de um sentimento de relação. Sinceramente dizendo, medo da
solidão, pensava ter alguém ao meu lado não me sentiria sozinho, estava
acompanhado de alguém na vida; e também as carências que eram tantas. Carinho,
afeição improvisados, servindo a instantes e momentos, entregas carnais
servindo aos instintos de prazer e gozo, lutas para garantir a sobrevivência,
construir alguns bens materiais, respeito, lealdade, fidelidade, seguindo
preceitos, dogmas, valores sociais e religiosos, nada de sensibilidade íntima,
tudo ao nada da superfície e supérfluo. Solidão e carências ainda mais
pujantes. Coloco a mão no rosto, cotovelo sobre a mesa, olho através da janela
aberta a distância e penso comigo haver sido tantas vezes hipócrita que a
solidão não é a ausência do outro, sim a ausência do "eu", não sentia
solidão, e o que mais sentia em mim, o eu em mim era o "amor" verdade
a ser vivido, o verbo do amar sincero a ser conjugado.
E agora o real sentimento de amor, a realidade do verbo ser-com-o-outro,
carícia, afeto, ternura, afeição, respeito, dedicação, entrega em nome da
felicidade, da realização, de comunhão da alegria e prazer, o desejo do
"ser" entre-laçado ao espírito, ser-espírito de vida a dois,
espírito-ser de verbos à busca do pleno.
Tomando da pena para manuscrever estas "cartinhas" o projeto é
sim dizer-lhe as verdades que me habitam, por mais que fazê-lo doa um pouco ou
muito, mas tornar-me conhecido de você, por você, as verdades no começo são a
agulha e linha para tecer a vida, sonhos, utopias. Quem realmente ama revela
seus mistérios, desvencilha-se de seus medos.
A vida do amor começa no olhar, quando um e outro se olham mutuamente e
contemplando no brilho das pupilas a verdade do sentimento e o lince da
projeção ao futuro da entregar ser do verbo.
O começo... Então, é entregar-se a este momento, explorar todas as
manifestações nos instantes primeiros do tempo deste verbo, sejam emocionais,
carnais, transcendentais, o prelúdio do amor projeta o horizonte do ser, as
preliminares do amor lançam o universo da alma ao além à busca do sublime. Eis
o amor sublime, encontro de dois sentimentos puros, a pureza são as verdades
que habitam o íntimo, em todos os níveis, desejos e vontade de superação dos
sentimentos contingentes que ferem, magoam, entristecem o outro devido às
arbitrariedades e gratuidades.
Não sei, amor querido, se me faço entendido, mas sinta bem profundo em
você o desejo de mim é a nossa vida em harmonia, sintonia com os laços eternos
de nosso ser, sermos uma vida projetada à verdade de nós.
Como nunca senti o amor em si, mostrou-me você, senti-o, deixei-o
revelar-se, não imagina o quanto desejo a nossa relação em nome de nossa
felicidade, de nosso ser. Desde o nosso primeiro encontro, gostei muito de
você, não tive medos inomináveis, mas ao longo de nossos encontros fui sentindo
a sua sinceridade, deixei-me entregar a você, o amor verdadeiro de mim nasceu
saudável.
Não me apaixonei por você. Paixão desconhece o "ser" do
"verbo". Amei você no ser de nós dois, conheço os meus desejos por
nossa alegria. Mostrar-me não em letras ou palavras numa "cartinha",
mas nas a-nunciações do amor que nasce verdadeiro, eivado de sonhos reais...
Começo... Sonhos reais de um amor que transcende...
Querida, garatujei estas palavras para lhe enviar este mimo dos meus
meus sentimentos, de minhas verdades, mas o escrito mesmo só nos seus braços
serei capaz de dizer.
Beijos no rostinho lindo que amo tanto.
Manoel Ferreira.
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