TRIBUTO À PEQUENEZ** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA AUTO-SATÍRICA $$$
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Fez-me tão pequeno que a grandeza disto se faz presente a todo instante,
pequeno para sempre, mas de cabeça erguida, orgulho resplandecendo sob todas as
luzes do que mais pequeno que a vida, o sorriso aberto, ser pequeno é grandeza,
sinto-me na vida, percebo o que se revela acima, nem precisa subir degraus de
escada. Sem juízo, o orgulho, ser pequeno abre-me as cancelas das estradas
sempre de poeiras por que trilho.
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Ademais,
não será necessário trabalho árduo para cavar a sepultura, os coveiros não vão
verter suor contundente, não vai gastar muito espaço, o caixão também será
pequeno, as cinzas misturadas na terra serão poucas, não enchem um copo francês.
Na verdade, aventura de um ser tão pequeno não cria paixão, não in-venta
idílios, não deixa traços, marcas, nem sente a ventania das alegrias,
felicidades que tocam a carne, seduzindo os sentimentos, seguir a jornada
passageira, fugaz, efêmera. No além, o espírito menor ainda não vai preencher
muito espaço. Inverno de pensamentos, ideais, primavera de idéias, utopias. Não
há saudade, melancolia, nostalgia do tempo que fui grande, tive de abaixar a
cabeça para passar nas portas. Digressão, sempre pequeno. De altura, metro e
quatro, se houver métrica de caráter e personalidade, o primeiro seria de 30
centímetros, a segunda de 24 centímetro.
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Esperanças
e sonhos de na continuidade do tempo permaneça pequeno, assim é a minha vida,
fora-me dada para honrá-la, dignificá-la, reconhecendo com idoneidade o nada
ser dez centímetros maior que eu. Na tarde pálida de inverno, sequer possível
tocar as folhinhas do pé de pitanga. Ser pequeno não sente calor, não sente
amor, ainda bem porque não é necessário padecer pelas coisas que a vida
oferece.
Aliás,
não sou poeta, não faço de versos e prosas grandezas, alturas, as palavras
seriam pequenas, bem menores que o ser pequeno que sou.
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Podem
dizer que tudo o que digo de mim pequeno, de minha alma ser mais pequena que eu,
que isto não é outro recurso senão levantar-me todas as bandeiras, de súpera
importância no mundo, no caos do século XXI, mas imagino que ninguém diria isto
de mim, pois que sabem qualquer mínima atenção que me dessem, reconhecessem
alguma coisa de meus instintos, seria muito para a minha pequenez, iria
esperdiçar muito deste único reconhecimento.
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Aqueles
que andam nos meus sapatos por todos os cantos e recantos, sabem de todas as
picuinhas, pitis, mazelas de meus comportamentos, atitudes vulgares, podem
inclusive dizer que estou enviando um recadinho malcriado a José Pastell de
Abranhos por ele haver dito que sou pequeno, não há como negar isto,
negligenciar, nada de preconceito, discriminação, sou pequeno, mas tenho
conteúdo quando rasgo os verbos pelas praças públicas, re-presentando discurso
de profeta, até ganho moedas e moedas pela apresentação teatral, com que
sustento o vício de comer chocolate compulsivamente, ele não tem conteúdo
algum, o que entendi como sendo da parte dele falta de respeito, a minha
inteligência é mais pequena que os instintos de analfas e betos.
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Cometi
todos os erros, enganos, equívocos, mas este de poetizar, versificar, versejar
para fugir à minha pequenez, isto não fiz, mesmo porque encontrar palavras para
conversar com as pessoas não é fácil, minha alma é menor que eu, não tenho
assunto, mas se me chamarem para um arrasta palavras sobre o silêncio, o nada,
o vazio, usarei apenas pequenas palavras para conceituá-los. Amar, viver um
grande amor, tocar a felicidade, alegrias, como quem toca, acaricia um objeto
íntimo, aquele por que traz sentimento ininteligível, isto é conversa para boi
dormir, jamais possível. As mulheres podem até suportar certas laias de homens,
mas não admitem de modo algum homem pequeno, com efeito a coisinha não faz
cócega.
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Não amei,
não tive amores efêmeros, voláteis, volúteis, para justificar o tamanho mínimo
de minha vida. Em todos os níveis sempre pequeno. Acredito que a vida mesma, em
si mesma, pena, sina, saga, sente-se frustrada, decepcionada, fracassada por
ser eu vida, por ser tão pequeno. De joelhos aos pés do paráclito numa
Basílica, Santuário, Santuário-basílica, jura jamais dará a luz até a
consumação dos tempos, não dará a luz a outra vida como a minha, rasga os
verbos na cara herética de Deus.
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Pode a
vida sentir-se decepcionada comigo, mas vou seguindo a minha estrada, não trago
em mim sonhos, esperanças, fé, utopias, o pequeno são o meu sorriso, o meu
riso, as minhas lágrimas sinceras e furtivas, seguindo o padre sábio de uma aldeia
ou arraial, dançando sob o som da matraca, todo aquele ritual pagão e cristão,
o paraíso é para os humildes e pobres, não para um homem tão pequeno como eu, é
até para os milionários, poderosos, doutores e mestres em universidades e
faculdades, cientistas no laboratório que dão continuidade à guerra biológica
com suas invenções assassinas, menos para um Mané da pequenez.
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Já ouvi
dizer que Deus é cinico, sarcástico, irônico, pois dá a luz aos canalhas e
idônios, pulhas e dignos, perfeitos, lindos, maravilhosos, inteligentes, no que
transcende a mim, dizendo-me respeito e tangência, Deus mostrou a sua
verdadeira face, indo além de tudo, mostrou a perfeição do pequeno.
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Amanhã,
no mais tardar mais-que-longínquo, estará a minha vida de pequeno de por baixo
da terra. Deus tomará vergonha na cara e não dará a luz a um homem tão pequeno
como eu.
Vou fumar
uma bituca de cigarro, o pulmão precisa de só pouca nicotina nele, antes que a
minha voz se cale.
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Pequeno.
Pequeno. Pequeno. Minha mãe jaz numa sepultura, nesta em cujo mármore de
sepultura estou sentado, tendo sofrido o diabo que o pão amassou, estou aqui
apenas para descansar o traseiro nesta pedra fria, mas seu maior sofrimento foi
gerar um homem tão pequeno, tão nada, tão vazio, e hoje somos sete, éramos
oito, todos felizes e realizados.
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- Mãe, no
meu casebre nem me caibo direito, menor que eu, a miséria é o pretérito,
presente e futuro de meu nada.
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Sou
pequeno, não tenho palavras, mas neste pergaminho do verbo do nada de mim, este
que agora derrama lágrimas alegres por ser ser, rebeldia e revolta, arrasto-me
nas sarjetas de todos o tempos... pequeno para sempre.
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 12 DE JULHO DE 2020, 13:51 p.m.#
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