#OBTUSO À FEIÇÃO DE PERA MÁGICA...# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO ***
Encurto o
canto nessa subjetividade estéril...
Re-duzo
os cânticos nessa sensibilidade impotente...
Restrinjo
os provérbios aos instintos efervescentes
De sagas,
mangofas ao estilo dogmático, preceituoso,
Sensações
de que o corpo estremelica-se,
Embainho
de ritmos e melodias as inspirações, intuições,
Devo sair
pela porta dos fundos,
Por lá, o
sustenido das levianas idéias,
De
frívolos pensamentos das condições humanas,
Amplia a
voz das ruminâncias dos medos e fugas,
Uivos de
tristezas, nostalgias,
Silhuetas
de ideais nos braços do tempo sendo
Som a
ninar os sonos nos sonhos que se fazem solitários,
A gaita
continua a música o gaiteiro toca...
Vozerio a
acalentar as modéstias da sabedoria,
As
vaidades analfas de tantos betos e gamas do poder.
****
Ando
destemperado de chiliques
Por
des-confiar das maledicências que enobrecem,
Das
indecências que glorificam,
Das
virtudes que denigrem a imagem,
Dos
valores que subestimam as lógicas e razões,
E no
entanto, chiliquento com direito a estrelas,
Consinto
com as verborreias que crio e invento
Cujo
objetivo único a penas do tempo
É
livrar-me dos limites que a própria natureza permite-me
Com os
leros-leros da língua destrambelhada
Em
afirmar sua inocência diante das situações presentes,
E não
consigo interromper a erupção de sentimentos
Ambíguos,
dúbios da pobreza de espírito, o esbulhado,
Roubado e
defraudado do fruto do saber
E de sua
dignidade, eis o retrato na moldura da parede,
Contudo
apelando para o amor cristão,
Não
apenas para aliviar o fardo aviltante
Da
pobreza pobre de espírito,
Mas para
criar condições de superação desta situação,
Chiliques
não vão me persuadir
De ser
mais aconselhável desconhecer maledicências,
Indecências,
virtudes e valores,
Preocupar-me
com a fragilidade psíquica,
O medo do
juízo é a sua vertente súpera.
***
Qual a
razão de eu ser assim tão enigmático? Desperto ser homem de inteligência, mas
não me expresso, crio tramoias para não mostrar-me. Que justificativa ou
explicação - bem não sei qual vernáculo é o mais apropriado - houvesse de ser
para estirpe tão con-sumida nas trevas dos pensamentos, das perquirições sobre
o sem-respostas? - daí tirar deleite e volúpia? Seria que não haja concebido a
luz que iluminará os passos, inda não haja desejado e querido ver com
transparência as coisas obscuras residem-me, saber os segredos e mistérios de
minha inconsciência, enigmas da alma? Ou ainda seria que não houvesse lenda ou
causo destituído de senso que me impedisse de postar-me diante das
circunstâncias e dizer o que penso e sinto pianinho, pianinho, como se tem
costume dizer, sem deixar pedra sobre pedra, houvesse algo mais alto que os
monumentos erguidos ao sublime....?
***
Refugio-me
em versos vagos,
estrofes
vazias de sentidos e linguagem,
poemas
esvaziados de sabor do vinho
em
palavras in-versas de sentido e ritmo,
em razões
re-versas de musicalidade e enredos,
que se
quebram nas lamúrias,
re-clamações
e rogos,
que se
dobram nas penitências e arrependimentos,
suplícios
e cochichos,
choramingos
e sussurros,
que estão
aquém das liberdades,
da arte
de amar, dos segredos do caminho,
na viagem
de todos os sonhos,
além das
transcendências e metafísicas,
metáforas
e contingências aquém de ventos anunciando,
de tempos
envelando a visão do bosque na ilha,
nas gulas
íntimas que estão aquém da fome,
das
ausências e querências,
das
faltas e saudades,
por todo
o sempre e antes do nunca,
onde
Judas amarrou o cadarço de sua bota,
a sede da
cólera, a fome da culpa e do remorso,
os
prazeres criaram raízes,
o retrato
não me dá res-postas,
fita-me e
se con-templa nos meus olhos nublados,
em tudo
será pelo contrário meu fado extra-ordinário,
minha
polka ultra-inédita,
minha
cracovia desnaturada,
performado
o vale sinistro onde não mais haverá
solicitude,
onde não mais haverá algemas e correntes,
a vaca
Comprida dará leite no curral vazio
para o
menino de coqueluche...
Não me
envie correspondência
dizendo
que leite com conhaque é
santo
remédio para esta doença....
Senão com
selo gravado em plano dionisíaco,
a
desdobrar-se, tal fogo enigmático e sinistro, incerto,
Mostrando
o ser deserto,
nutre-se
das chamas do próprio nada....
***
Ando
soturno de eloquências
Nas
tangências de razões e conhecimentos,
A cada
instante tomando parte em disparates
Inimagináveis,
embrenhando-me em descrenças
De
insanidade, se sou desmiolado ou aprecio espetáculos
Para
re-vestir-me, cobrir remorsos dos equívocos Patenteados, e não possuo noção
qualquer
De como
remediar, pisar o chão com prepotência,
Arrogância,
insolência,
Enveredar-me
por outros rumos,
Nada
restando das andanças soturnas
Senão
consentir a condição irremediável de
Indivíduo
a quem se deve atribuir jaça de caráter,
Em quem
deve depositar todo descrédito,
Assim a
cada passo torna-se-me complexo inda mais
Carregar
o peso na consciência de que entreguei
A vida
inteira ao descabido e por nada,
Como
posso agora despedir-me do mundo
Sem
tristeza?
***
Ando às
cegas,
capengando
no escuro,
usando
bengala nas sombras,
boné para
cobrir o teto de minha cabeça,
calvície
mais que exposta a leste e oeste,
óculos
escuros ao estilo James Dean,
no sol
escaldante,
Quê
figurão! Qualquer senso de ridículo
É pouco
para definir, conceituar
O que
posso fazer, - a esquisitice habita-me;
Ando
claudicando passos,
mãos
postas, cabeça baixa
observando
as pedras da rua,
a poeira
que cobre as calçadas,
areia
tampando os buracos da rua,
antigamente
areia fina,
um modo
de evitar tropeções e quedas, o progresso e o desenvolvimento não chegaram inda
neste buraco de mundo em que resido, e nunca chegarão, pois que os únicos
valores que tem são os do passado, contra todos os meus desejos e vontades,
observando o movimento das pernas, nem das trevas retiro um drama sério,
tragédia pujante.
***
Ando me
arrastando no esquecimento
de
aceitar e compor, avaliar o frio vespertino na orla marítima, ver a cor do
entardecer ao longe na montanha,
ver o
silêncio, outra palavra que goteja,
palavra
esperada na dúvida e no cacto,
na
insegurança e na orquídea lilás cujas pétalas
brilham
expostas ao sol quente na grade exterior à janela,
metáfora
de balada de lavadeira ao pé da fonte,
Alcoviteira
ao portão observando os transeuntes,
à margem
esquerda do Rio das Velhas,
conhece a
todos, sabe de mínimas cositas deles,
esperando
alguém lhe conte alguma novidade,
salmos,
caravanas nostálgicas desbravando as vias
onde
esporas tinem e calcam a mais fina grama
e a idéia
mais fina corrige o oblíquo pelo aéreo,
o obtuso
que diz e expressa solene
À feição
de pera mágica
O homem
desgarrado de princípios que honram.
***
As mãos
sabem a cor da cor,
o tom dos
tons que purifica o colorido,
múltiplo
verde-róseo em duas gerações,
e com ela
veste o nu e o invisível do visível,
tudo tem
cor em poder de encantação,
mas não é
verdade que o branco e preto
encantam
por refletirem as origens e o pó
das
demolições de todas as coisas,
no muro
nu...?
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 29 DE JULHO DE 2020, 23:50 p.m.#
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