O SILÊNCIO EM ÚLTIMA INSTÂNCIA GUARDA UM SENTIDO QUANDO OS OLHOS FALAM...# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO $$$
"A
idéia de mundo é o esgarçar da fantasia, entre os caprichos de Bovary e o
Medalhão de Judas, o Eucariotes." (Manoel Ferreira Neto)
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Morrer é
um só detalhe – pensando neste detalhe, percebe um pouco além de conseguir a
caminhar. A decisão parece-lhe inconsequente, absurda, radical. Sugere-lhe o
prolongamento de suas dores, angústias, tristezas.
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A fuga da
morte confere inautenticidade à existência que se desenrola em meio a um
faz-de-conta, estória da carochinha, fofoca de monsenhores, profecia de gênios,
dissimulador da irrefutável possibilidade... A vertigem é silenciosa. O
silêncio, em última análise, guarda um sentido quando os olhos falam...
compreende a dinâmica do Ser no Velar e Des-velar, na id-ent-idade e na
diferença, na unidade e na multiplicidade, no in-visível e no visível, no
in-dizível e no dito, no silêncio e no dis-curso, na harmonia e na muvuca.
Alucina a busca – ímpetos de estrangular o que nunca emagrece, ossos
decompostos estralam unhas que desviaram no regaço e na alcova. Condenei à
morte por enforcamento em praça pública as ansiedades por repousar de por baixo
de um coqueiro no topo da colina, nem a semente dele foi plantada ainda.
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Bem fundo
em mim – à face do “Eu Sou”. Meu Deus!... À face do “Eu Sou”. Diagonal difusa
entre mim e o que eu penso, cogito. Muitas águas têm de passar debaixo da ponte
até isto real-izar. Muita poeira há de cobrir a boca de lobo e impedir que a
enxurrada não o atravesse. Apreender o processo de sou-quem-sou na elaboração
do verdadeiro, sou-o-que-sou na verbalização das con-tingências e situações.
Aí, sim... São as estradas percorridas em busca das águas, seguindo o rio sem
margem, sem pressa.
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Estreito-me
em toques. Conscienciado ser. Sou água seguindo em águas. Sou silêncio em busca
do além de mim. Penso, logo admito. Aquele exprimir das idéias nas palavras
inevitáveis, irrepreensíveis, correr de água porque há declive, andar
comedidamente porque o a-clive é íngreme, aquele assombro vocálico em que os
sons são cores ideais - tudo isto me tolda de instinto como uma grande emoção
pública.
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Trilho o
des-facelamento. Confusão. Perdição. Do vagabundo que o mundo repeliu zombo e
vivo nos filmes, nos becos sinuosos com tabuletas no frontispício da porta.
Caminho para o vazio. Escravo nos pensamentos, atitudes de não... São os
primeiros passos, então é a experiência, tenho de aprender as coisas na lida,
passo a passo, problemas, dificuldades, medos, angústias, pequenas alegrias e
prazer, a felicidade está distante. Vejo Indra, o rei dos deuses, sorrindo para
os jovens enquanto estes partiam de arco na mão e espada na cintura. Escarneço
da página mal-escrita, como indivíduo próprio, a sintaxe errada, como gente que
se surra, a ortografia sem ípsilon, como o escarro direto que me nauseia
independentemente de quem o cuspisse. A ortografia também é gente. A fé de que
irei encontrar as águas, sigo o rio sem margens, sem pressa. No meio do mundo,
sendo-em-sendo, em ida e volta. Música, luz semimorta.
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Carinhos
roçagam a carne vermelha e em chamas. A palavra resvala o sentido de mim.
Rasgar-me por inteiro, vomitar as entranhas, sangrar-me, destrinçar-me,
tirar-me inteiro de mim, iniciar tudo, desde as origens. Palavras árduas,
contundentes. Cinto batendo em mim e resultando em carne viva. Realidades
multifacetadas e dispersas. Atravessar o projeto de mim no retorcer do vento.
Como enfrentar-me?
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Minúcias
re-contadas... Por ser quem sou, o que projetasse de mim, não seria quem sou.
Eu, quem? Comecei disperso e ansioso, um tanto medroso, hesitante... Sobre o eu
estar de olhos fechados, haver uma manhã de neblina densa, ser Inverno, mãos
brancas janelas misteriosas abrem, a meteorologia anuncia 15 graus de
temperatura. Caio por um abismo feito de tempo. Ah, deixa isso pra lá. Ah, se
tivesse podido. Orçava a boa despesa de meus mortos. Onerava a máxima dívida.
Equilíbrio. Forjava a forma do falso. Esculpia a estrutura da hipocrisia no
regaço da alma. Dialogo, exercitando censuras, negligencio arbitrariedades.
Dissimulo solidões. A idéia de mundo é o esgarçar da fantasia, entre os
caprichos de Bovary e o Medalhão de Judas, o Eucariotes.
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Refletia
a vivência, este Crucifixo de São Paulo:
“Ainda
que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou
como um bronze que soa, ou como um címbalo que tine”
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A vida é
sempre um primeiro instante, o minuto, o segundo primeiro, não a hora e o
relógio que a indicam, somando a outros dias e anos. As águas do rio tinham
parado, assim como os pensamentos; o barco estava virando, tocando a sereia. As
janelas manchadas nada deixavam ver, a não ser a luz fria da água. A máquina
ficara silenciosa. Só a noite chorou consigo a sua dor, com uma esperança
longínqua de chamas e silêncio.
Equilibrar
a sombra com a luz, enquanto branco do cisne, da página, ou enquanto nudez, é
apenas uma revelação, talvez até demasiado lúcida e óbvia em sua nitidez, de
algo intrínseco e inerente ao desafio que...
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A
morte... Como se não fosse ocorrer um dia na sombra!
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 10 DE JULHO DE 2020, 23:02 p.m.#
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