ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA CRÍTICA LITERÁRIA E POETISA ENSAIA O AFORISMO #SAPERE LONGE PRIMA FELICITATIS PARS EST/O SABER É A PARTE PRINCIPAL DA FELICIDADE(ANTÍGONA) $$$
Neste
aforismo de Manoel Ferreira Neto SAPERE LONGE PRIMA FELICITATIS PARS EST/O
SABER É A PARTE PRINCIPAL DA FELICIDADE (ANTÍGONA) - Antígona que era um
exemplo de amor fraternal e foi a única filha que não abandonou Édipo quando
este foi expulso do seu reino, se baseou quiçá em Sófocles e na sua tragédia.
Aristóteles disse: nam natura perennis est, non opes [a natureza é eterna, não
as coisas...controvérsia, ainda porque o próprio Sófocles emitiu dois juízos
inteiramente antagónicos: Sapere longe prima felicitatis pars est.
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Aquilo
que um indivíduo é fornece muito mais à sua dita que aquilo que contém ou
afigura. Essa sempre deriva daquilo que o homem é e, logo, confina em si
inerente; pois sua identidade o assiste em todo tempo e espaço, e assim esta aprimora
tudo aquilo que vivencia. Em toda espécie de prazer, o indivíduo depara deleite
sobretudo em si próprio; se isso é verídico em analogia aos deleites corpóreos,
então quanto mais em relação àqueles da intelectualidade! Contudo, se a
identidade encontrar-se mal acondicionada, todos os deleites serão como brióis
delicados num bocal embebido de azedume. Assim, se deixarmos de lado os factos
de enorme adversidade, tanto nas realidades benéficas quão nas nocivas,
interessa menos aquilo que sucede connosco que o modo como o defrontamos, isto
é, nossa essência e força de escrúpulo genérico. Aquilo que um indivíduo é e
possui em si, ou seja, seu carácter e seu porte, é o exclusivo agente direto em
sua dita e tranquilidade. Todo o excedente é mediato e disfarçado, de modo que
sua interferência pode ser anulada e fracassada; mas jamais a interferência da
individualidade. Por tal fundamento, a zelotipia acirrada por particularidades
individuais é a mais inflexível, e igualmente a mais cuidadosamente astuciosa. Além,
da formação de nossa percepção é o factor presente e constante em tudo que
compomos ou amargamos; nossa identidade labuta mais ou menos continuamente no
decorrer de toda a nossa existência; todas as outras intervenções, por outro
lado, são temporais, acidentais, efémeras e sujeitas à variedade e à mutação.
Podemos sustiver mais levemente um azar que nos fere externamente que aquele
que concebemos para nós próprios, pois o intuito pode modificar, mas jamais
nossa inerente essência. Desse modo, bens ilusórios como um carácter notável,
um intelecto distinto, um carácter ameno, uma alma cintilante e um físico bem
instituído, impecavelmente são, numa locução, mens sana in corpore sano [mente
sã em corpo são (Juvenal, Sátiras, X. 356)], são os factores elementares e
primordiais à nossa dita. Assim, devemos nos inquietar muito mais com a
precaução de tais atributos que com a obtenção de magnificências e dignidades
extrínsecas. Pois o imutável exercício íntimo exige apoio parcial por parte do
extrínseco.
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Essa
privação de teor é semelhante ao caso onde, em resultado de alguma sensação,
jorra do interior de nós, algo que somos forçados a ab-rogar. Até as árvores,
para desabrochar, carecem ser exaltadas pelo vendaval. Para contemplarmos a
quão nossa dita deriva de um ordenamento divertido, e esta da nossa condição de
sanidade, relacionemos a interferência que as mesmas condições extrínsecas ou
acontecimentos possuem sobre nós se sadios e robustos com a que se obra quando
um estado debilitado nos lega menosprezados e ansiosos. Não são as coisas
objetivamente e nelas mesmas, mas o que é para nós, e, nossas inteligências
aquilo que nos convertem satisfeitos ou desgraçados. Em geral, nove dízimos de
nossa dita derivam meramente da sanidade. Com ela, tudo se metamorfoseia num
manancial de deleite, enquanto sem ela não podemos usufruir seja do que for,
qualquer seja a sua essência, e mesmo os outros proveitos egocêntricos, como
atributos intelectuais, disposição e carácter, são danificados e abreviados
pela sanidade escassa. Assim, não é sem fundamento que, quando duas pessoas se
defrontam, primeiro questionam sobre o estado de saúde uma da outra, aguardando
que encontrem-se bem; porque isso, de fato, é o que há de mais relevante para a
dita. Sucede-se que a superior das doidices é descurar nossa saúde a qualquer
coisa, seja opulência, estatuto, ensaios, fama e, particularmente, deleites
lascivos e outros júbilos esquivos; em vez disso, deveríamos colocar a sanidade
em inicial espaço.
Se no
Clássico Testamento acha-se que a vida do imbecil é inferior que o fenecimento,
igualmente se descobre, onde está a erudição, aí tem muito sofrimento.
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Ora, ser
iletrado e ditoso? Ser um feroz extinguido de seus anelos? Ou amargar
inevitavelmente das perplexidades e das constrições que a erudição faculta?
Permanecer na exiguidade e dela usufruir os deleites corpóreos? Ou se inverter
para os horizontes de um interminável e misterioso cosmos?
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"Nihil
cogitatium jucundissima vita est", assim não meditar deixa a existência
felicíssima pelas sensibilidades e deleites que se varrem como uma tocha de
colmo? Obstando a vereda da agnosia, os estoicos verbalizavam, "Sapere
longe, prima felicitatis pars est", saber vislumbrar distante é a primeira
passada para se acercar à dita. Os dois são cursos contrários, o do deleite
fisiológico, encerramento a si mesmo, definitivamente o mais habitual pela
gente, ou a demanda do aperfeiçoamento místico que passa pela preparação, pela
gnose, pela castidade.
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Para
alguns, a dita se centraliza em copos de bagaceira, mas não cessa nem na
tigelinha de champanhe, acarretando precocemente aos transtornos da
enfermidade, transfigura-se em imodéstia, em ânsia de domínio que jamais se
extingue; para outros, menos bastos, é a dedicação ao protótipo sublime que não
contempla na imolação um estafermo, mas um trânsito forçoso, uma taxa que se
paga ao progresso.
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Entre o
crucifixo e o gládio, o curso transita "per áspera" e abala "ad
astra". Elevar os astros, aos cumes do âmago humano, caminha precisamente
pela rispidez das abdicações, dos tombos, da retiro e incessantemente pela
obtusidade. O sujeito cônscio compreende que sua existência não é o início nem
o termo de um percurso progressivo. Em suas opções, enxerga possibilidades que
comporão seu couro privado, inabalável e perene.
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Dante
lembrou: Paridos não fomos para habitar como bestificados, mas para encalçar
probidades e saberes. Constrições, plangências, taciturnidades, desapontamentos
e até isolamento do despercebido são lapidas a polir de um rebo que se designa
"existência".
Ana Júlia
Machado
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SAPERE
LONGE PRIMA FELICITATIS PARS EST/O SABER É A PARTE PRINCIPAL DA FELICIDADE
(ANTÍGONA)
GRAÇA
FONTIS: PINTURA
Manoel
Ferreira Neto: AFORISMO
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POST-SCRIPTUM:
Sugiro
aos leitores lerem esta obra, ouvindo BROTHERS IN ARMS, Dire Straits, como quem
toma uma taça de vinho saboreando-lhe.
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Começar
do inverno, resolver a equação das inquietações prolixas, sabê-las com aquele
ar de quem nada sabe de coisas alguma e já sabe de alguma coisa, passear por
todas as ruas, agasalhado, sentindo o orvalho da noite, vagabundo ou boêmio de
mim pelas calçadas, nostálgico clarim longínquo como bandeiras incertas, poeira
de areia parada no fundo da visibilidade, a fogueira das quimeras acesa
esquentando o desejo de soprá-la e espalhá-la por todos os recantos, faça-se a
fogueira, a fogueira se fez nas alamedas perdidas, começar do inverno de hoje a
delinear os passos que levam à primavera, o renascimento das flores, beleza e
magnitude da natureza.
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“Começar
das flores a primavera das metafísicas do encontro e liberdade” ou “começar das
metafísicas das flores o encontro da primavera e suas líricas”, lírios,
lilases, rosas, orquídeas, que resplendem de beleza as auroras, exalam perfumes
que extasiam e elevam os desejos de sentir plenamente a natureza em seu ser, as
suas sendas na essência, mistérios e enigmas no espírito de suas re-vel-ações e
ocultações, e per-fazer o encontro do estilo e linguagem de se expressar a
liberdade, a forma e o conteúdo de se dizer as profundezas do inconsciente.
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Da
primavera os interstícios da alma, do outono, nas veredas de outrora, os mitos,
ritos, gritos da língua em riste que saboreia as palavras que emite, desejando
enfática, murmúrios do coração auscultados nos instantes de indecisão, enfálica
e euforicamente o dó-ré-mi-fá-sol-lá-si das notas de amor, cáritas, a
musicalidade e ritmo das idéias em harmonia com o que o espírito manifesta na
memória, com o que a inteligência lê e interpreta de seus movimentos nas
nuanças da id-entidade que se re-faz, que se re-constrói ao longo do eu que se
busca nas situações da vida e do quotidiano, que se des-faz no outono das
primaveras do ontem e hoje, re-nova-se nas antemãos e revezes do verão de
outros raios de sol à luz das outroras-razões e sensibilidades, subjetividades
com o que a alma ilumina na inspiração, intuição e percepção, com o que a razão
in-versa e re-versa dos sentimentos a sensibilidade da lírica em seus versos e
estrofes de iluminação e trans-cendência, com o que os ideais e utopias do belo
puro, da beleza inocente, ingênua trazem em si para res-plandecer as sombras
que se projectam com os raios faiscantes do sol, em cujos idílios do ser e
não-ser nascem as con-templações das vontades da con-versão do in-verso ao
real, do re-verso à verdade das linhas e inter-ditos, às in-verdades das
além-linhas dos passos, traços, marcas das aventuras que fizeram as lágrimas
caírem leves, livres e suaves...
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A solidão
não quer mais perder as águas de vista nas suas límpidas jornadas para alumiar
as esperanças do encontro do brilho dos olhos que abrem visões e idéias para a
fin-itude do amor que se ama sonhando, se vai ser assim, do avesso aos novos
sonhos do verbo de conjugar balada às estrofes do espírito que se alimenta da
beleza das flores que nascem nas auroras, morrem nos crepúsculos, da natureza
que se projeta na distância, no longínquo, absolutiza-se na beleza de inspirar
as palavras que lavram o ser das profundidades, a alma dos conhecimentos e
sabedorias, a sensibilidade das profecias e nadas-a-dizer, nadas-a-cogitar, o
conhecimento do desequilíbrio, do desequilibrado sentimento da solidão à busca
do sublime, da angústia da carência, desejando a ópera das verdades e
transcendências do “SER”, esperança do homem-novo nos inter-ditos das outroras
inspirações do belo e da magia.
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O dia
translúcido, cristalino. Coriscos de sol possantes. Amanhecer de invernia
avesso de vocábulos em cujas missivas descansam sensibilidades distintas,
alvoroços. A autonomia gravada na campa de indiferente, a paridade degradada.
Sinagogas, oratórios de concepções opostas, fantasias de anteriormente. Opostos
motivos de existência e regalias, regulados em itens, alínea e artigos,
permeiam melancólicas clareiras, cerúleas (transparentes no futuro, as
aparências).
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“Começar
de outrora essa aurora de outono”, entre o outrora e outonos de infinitos
uni-versos na finitude das venturas e fortúnios da verdade às avessas da
in-verdade, da in-verdade re-versa à essência da verdade, por intermédio da
janela da alcova entrando os raios solares escaldantes, algumas sombras se
projetando no chão de tacos sujos, amanhã, quem sabe, mande sintecá-los, o
calor será imenso por todo o dia, além do mundo não há para lá me refugiar, de
madrugada o friozinho estava bem agradável, na escuridão da alcova, a esposa
dormindo, pensava na Sibéria, na con-versão das culpas que o inverno re-vela
com distinção em sentimentos de amor e carinho pela humanidade, o peito arfando
de calor, as chamas do coração brilhando livres e resplandecentes, desejava
sentir-lhe o frio, ninguém está satisfeito com o que tem, eis a di-versão que
encontro pura e singela, suave, em última instância, para mergulhar profundo na
roda-viva das quimeras de alegria e felicidade, assim sentidas nos interstícios
dos desejos, vontades, por serem efêmeras, nem ainda se a-nunciam já se
despedem solenemente, nem dão tempo ínfimo para sentir e toda a alma eivada de
suas esperanças e fé empreende a longa jornada sonho adentro à busca do que
elas deixaram no íntimo que possam ser sementes e raízes de outros encontros e
luzes do “SER”, luzes que irradiam novos ideais, inéditas idéias e projetos,
iluminando as sendas de florestas esquecidas, de estimadas querências deixadas
para trás, por inconsciência das verdades que habitam o tempo da ec-sistência,
os instantes das fantasias, encontros que esplendem outros sentimentos de
entrega, outras imagens de mimeses e do belo-estético, outras conversões do
amor e amizade, outros amores e prazeres.
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Encontro-me
à janela, cotovelos no parapeito da janela, mãos amparando o queixo, neste
alvorecer, rosto virado, um olho invisível, o outro visível, introspecção,
circunspecção, pensando o que me vai íntimo. Entre a cruz e a espada, o caminho
passa "per áspera" e vai "ad astra". Subir as estrelas, aos
píncaros da essência humana, transita justamente pela aspereza das renúncias,
das quedas, da solidão e sempre pela incompreensão. O indivíduo consciente
entende que sua vida não é o começo nem o fim de uma trajetória evolutiva. Em
suas escolhas, vê oportunidades que formarão seu cabedal íntimo, indestrutível
e eterno.
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Dante
avisou: "Feitos não fomos para viver como embrutecidos, mas para perseguir
virtudes e conhecimentos". Angústias, tristezas, melancolias, frustrações
e até solidão do incompreendido são facetas a lapidar pedra que se chama
"vida".
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Escol de
poesia e estâncias, na consciência a comunicação de diferentes existências em
cujas literaturas as prímulas alteiam o entendimento, declaração de fantasmas e
imaginações (escol de ociosidades e ocupações; pétalas de labutação e ânsia).
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 02 DE JULHO DE 2020, 15:35 a.m.#
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