#ESPERANÇA DE PRECIOSIDADE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: ENSAIO CRÍTICO
O amor é a síntese mental que procede do simples para o complexo; é um
leque de prazeres.
Antônio Nilzo Duarte – Sentimentos da Esperança
Todos guardamos recordações que só ousaríamos re-velar a amigos íntimos,
a algum parente a quem amamos de modo especial e em quem confiamos. Há outras,
porém, que nem a amigos íntimos poderíamos re velar, mas apenas a nós mesmos,
e, ainda assim, no maior sigilo.
Há coisas que temos medo de dizer a nós mesmos, e todos, até os mais
honestos, acumulamos uma boa quantidade delas. Melhor ainda: quanto mais
honesto for o homem mais terá dessas coisas. Em todo caso, Nilzo Duarte decidiu
escrever suas memórias, a história de sua vida ao lado de sua amada e venerada
esposa e amados filhos – como ele próprio diz “dona Neusa”, dotado dos
sentimentos da “virtude, sabedoria e inteligência” – reconhece-se aqui a sua
profundidade cristã e humanística: são elas dimensões divinas e quem a elas se
entrega os frutos serão alimentos eternos. Agora que se decidiu a escrevê-las,
quer experimentar a possibilidade de ser inteiramente sincero para consigo
mesmo e não temer a verdade total.
O que é isto – a verdade total? Dizer aberta e lucidamente todas as
coisas, sem medos e sentimentos de vergonha? O que justificaria tal atitude?
Tais atitudes necessitam de fundamentos, de algo que as justifique. A pedra
angular de suas memórias é o amor verdadeiro e espiritual por “dona Neusa” e
seus filhos. Mergulhando no íntimo, no âmago de sua alma espírito, conhecer a
verdade, a verdade que lhe habita – ou melhor, conhecer o amor, o seu estilo e
linguagem do amor, o seu modo de entregar-se, tornar-se amor, tornar este amora
sua verdadeira carne. E o que é amar?É querer bem ao outro, desejar-lhe
felicidade, alegria, real-ização dos sonhos e desejos.
Amar “tem o calor veemente”- calor que se sente no sangue que per-corre
as veias em todo o corpo, e este sangue “quente” e “efusivo” envolve a alma de
esplendor, plen-itude, éter-(n)-idade, configurados e simbolizados na devoção,
na experiência própria de busca do místico, do silêncio e do deserto que
re-velam a grandeza da interioridade dos sentimentos divinos que habitam o
peito de Nilzo Duarte, de todos nós os homens, criaturas de Deus que somos.
O itinerário de escritura de suas memórias, desde o primeiro volume –
são três – segue a trilha do caminho do campo, isto é, do simples para o
complexo, num movimento de ascensão, elevação sensível, do vivido,
experienciado na contingência, para o desejado, querido, a espiritualidade,
eivado de sentimentos e emoções que, às vezes, deixa-lhe suspenso no interior
da felicidade e do tédio, da alegria e da tristeza, do prazer e melancolia, mas
que re-vela a verdade a que aspira, quando os verdadeiros sentimentos de
felicidade interior se concretizam.
A liberdade, sabia-o desde a primeira palavra que registrara,
tornar-lhe-ia verdadeiro, a verdade o tornaria livre. A esperança de mergulhar
em seu amor por “dona Neusa” dizia-lhe uma voz profunda e meiga, fá-lo-ia
real-izar o encontro com a mulher a quem tanto amou, encontro espiritual – o
encontro do amor “puramente verdadeiro, este nasce espontaneamente de nosso
coração e se sentirá resguardado em nosso peito, por tempo ilimitado”.
Com o sentimento de amor – que foi sendo re-velado, manifestado, dito,
ao longo dos anos que estivera voltado exclusivamente para a escritura de suas
memórias, crescendo, amadurecendo, real-izando-se divinamente nos sentimentos
interiores – o mundo para Nilzo Duarte trans-figurou-se, trans-formou-se,
trans-mudou-se, re-vestiu-se de felicidade, alegria, de tal forma que sentiu
não ter lugar no uni-verso para ele, pois que era homem quem admitia,
reconhecia de modo sincero, real e sério que todos os vislumbres desse amor por
“dona Neusa” notabilizaram-lhe o espírito e a vida que viveu.
Notabilizar o espírito, a vida, tem uma “constante” esperança”, são
Sentimentos da esperança – título da obra que id-(ent)-ifica com clareza e transparência
os desejos que habitam o coração de Nilzo Duarte, isto é, o amor lhe dera a
possibilidade e oportunidade de penetrar na esperança e mostrar os sentimentos
que nela habitam – que sensibiliza o íntimo, reflete a luminosidade, ao ser
oferecido o visual surpreendente do que significa isto “amar” alguém,
dedicar-lhe a vida inteira. O clarão desta notabilização do espírito e da vida
emite a singularidade do espírito, oferecendo aos homens as águas cristalinas
da espiritualidade, “intensidade espiritual que talvez não se possa explicar”,
mas que abriga os segredos e mistérios das criaturas humanas sedentas da
redenção e ressurreição. O amor é a trilha do campo que nos leva e eleva a
Deus.
(**RIO DE JANEIRO**, 14 DE SETEMBRO DE 2017)
Comentários
Postar um comentário