#AFORISMO 183/SEM LENÇO, SEM DOCUMENTO, CAMINHANDO CONTRA O VENTO... IN-FINITO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Rebanho de feras místicas e míticas, jubas, dentes e línguas a-nunciam
folk-lores e lendas e causos para indagação no útero dos sentimentos e desejos
das "sapiências da vida", em procissão de matracas debulham os
adágios, ditos populares das contingências e das hipocrisias, o veneno supimpa,
como diz a "Paulicéia Desvairada", a estricnina socrática da
imbecilidade - se se indagar para quem os sinos da hipocrisia tocam, há-de se
concluir com distinção que tocam para os imbecis, sem estes como seria possível
a hipocrisia? Por entre as montanhas, por inter-médio dos caminhos da roça,
passam rebanhos de feras místicas e míticas, passam esfinges, passam
unicórnios... ventos e tempos esplendem-se aos silvos do ser e não-ser, a
boiada nos currais gastam o resto da tarde curtindo os bens da vida em-si
mesmada, e o silêncio silva sons, ritmos, melodias, acordes, musicalidade dos
verbos que regenciam o estar-no-mundo, que gerenciam utopias e ideais
comungados às decisões.
Sentidos explícitos. Mensagens trans-parentes. Cócitos rios de águas
cristalinas perpassando sítios místicos e míticos, movendo-se no tempo de
espaços conquistados, há de vir de memórias que se trans-literalizam,
instantes-limites, em princípios considerados e sentidos absolutos, no curso
das travessias, miríades de gnoses que re-velam recônditos in-conscientes do
nada se amadurecendo para as percucientes sabedorias do in-audito, as nonadas
às sara-palhas se encanecem para as inspirações dos solstícios de inverno,
intuições do etéreo entardecer, percepções do éter que o nocturnus
pres-ent-ifica.
Tudo passa... Tudo passa... Tudo passa.
O nada per-passa... O nada pers-cruta... O nada pers-creve sim-ptomas e
sin-tagmas de dia-lécticas efêmeras, contra-dicções volúveis e susceptíveis.
Concílio de deuses entupigaitados de dogmas e preceitos para o mergulho
idiossincrático nas prefundas da verdade que nada é à luz das im-perfeições
perfeitas do sublime, nas trevas do Ab-soluto que, vazio, se pro-jecta no
espelho que ainda não consumou a imagem do perpétuo, das perfeições
im-perfeitas do fim in-sofismável e in-cólume, e o in-audito baila saltitante
de prazeres a marcha a-fúnebre das angústias e náuseas, ipseidades e
facticidades, alteridades do eu que nunca re-vela a poiética da alma, querubins
contracenam com vôos rasos a tragicomédia abissal das emoções multi-faceladas
de pretéritos do não-ser, subjuntivos do apocalipse, particípios do arco-íris
das trevas, "serei arco-íris/aquando as lágrimas se forem", momento
de puro êxtase, sublime gozo da inocência, mágica volúpia do ingênuo.
Sabedoria. Agnosticismo do verbo que sonha a carne do espírito
alimentado à fome milenar, secular do que auspicia idôneo e lídimo o verdor
visceral do divino, as entranhas viçosas da etern-idade, nada além do cosmos,
nada além da eternidade, nada além do tempo que seduzem a dinastia mística das
plen-itudes reversas, in-versas dos inter-ditos mistérios e enigmas míticos e
folk-lóricos do estar-no-mundo jogado nos ab-surdos da liberdade, quando no
trapézio das situações e circunstâncias se deve equilibrar no movimento da
gangorra das decisões e consequências, sêmen e húmus do destino autêntico.
Metasemântica da "libertas" precedendo o "quae
sera", postergando o "tamen".
Gostaria de real-izar aqui e cá uma digressão e dizer algo sobre o
"pavor nocturnus" que me acometia cruelmente, quando, altas horas da
noite, o brilho espectral da forte iluminação do jardim penetrava através das
frestas das venezianas raios entre-cruzados que rompiam a escuridão de meu
leito, evocava as máximas latinas conhecidas através de leituras romanescas,
especialmente dos franceses, especialmente Balzac, ou certas misteriosas,
terríveis e insidiosas palavras como trauma, acontecimento traumático e até
mesmo tramóia, esqueceram-me, contudo, os objetivos e interesses com isto,
talvez não por medo de mostrar as ausências e faltas psíquicas, as neuroses
abissais que me habitavam a alma, mas por me incomodar sobremodo trambicar com
as im-#perfeições# daquelas atitudes de, se não se é possível encontrar respostas
para os absurdos do real e imaginário, da realidade e criativo, condena-se à
morte as cogitações, condutas de má-fé, à luz das mentiras e fugas araçuaienses
das verdades contingenciais, o grito antigo das águas não suprassumiam as
pontes - inolvidável ser o rio, sentir-lhe na sua passagem, e não apenas
poetizar forclusions e manque-d´êtres da vida, ruminar dores, vociferar
sofrimentos e tristezas, uivar limites, isto não etern-izariam quaisquer
imaginações, ficções da espiritualidade tecida de simplicidade, sugeria-me que
eram imprescindíveis no des-enrolar das contingências, dis-criminá-las,
negligenciá-las, refutá-las era pernicioso à sensibilidade. EC-SISTIR era
preciso.
Metamorfose.
O que é isto - a inspiração de Kairos, a intuição ipsis do Verbo,
litteris da Utopia? Não unicamente o resplendor das regências e concordâncias
de estilo e figurino que orvalha os desejos e volúpias de sentimentos que no
vir-a-ser trans-epigrafa o sonho plen-ificado de verdade e sabedoria inscriptas
no inconsciente do "eu" que habita o "espirito #sub#-terrâneo".
Lendas. Metalinguística.
Talvez nada houvesse acontecido, se o destino meticuloso, esse fantasma
sincronizador, não houvesse misturado em seu alambique o sol e a sombra, o
fraco e o forte, a pedra e a pressa, a náusea e gnose, a alma e a morte.
Sentidos implícitos, inter-ditos nas linhas de uni-versos salpicados de
uno-verso da espiritualidade, horizontes sarapalhados de margens e sem pressa,
a vida sempre vai, não volta.
A vida vai, a morte vem, dialética do ente que nasce sem razão,
prolonga-se por imbecilidade e hipocrisia, parte para fora do mundo, sem lenço,
sem documento.
(**RIO DE JANEIRO**, 12 DE SETEMBRO DE 2017)
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