Ana Júlia Machado ESCRITORA E POETISA INTERPRETA E ANLISE O AFORISMO 218 /**CORRESPOND-ÊNCIA** DA LUZ E DOS OLHOS**/
De perquirições, explorações, interrogações, questionamentos, de tudo
fica um escasso, de duas folhas de relva, do maço - despojado - de cigarros,
fica um escasso. Por que não permanecer a **conformidade" da luz e dos
olhos?
Às vezes, uma reflexão... Às vezes, uma fantasmagoria... A locução é
amputada da boca.
Pois é… perante isto que dizer... que já não sei que dizer….apraz-me
dizer que parece-me que vou sempre repetir-me…não sei… sei que vivemos num
mundo de incógnitas e que jamais obteremos as respostas que ambicionamos. Mas,
com certeza, é o motor que nos leva a lutar dia a dia… e quantas vezes ficamos
com o maço de cigarros vazios, por porfiamos em querer saber tanta coisa…e
ficamos quase na mesma… as palavras são-nos arrancadas não sei por quem da
boca…
Mas, desvendar ou ocultar pode ser mais do que não esconder avistar-se
através do que tapa ou se esconde, patentear a diafanidade da escuridão ou,
preferível, exibir não existir escuridão que não seja translúcida. Mas para
isso é essencial haver ido já ao fundo sem fundo e ser-se já onde continuamente
se é: da outra banda do revérbero ou do outro lado de existir lados. Ser-se já
a Pátria de todos os Espantos, de todos os exequíveis e dos impraticáveis
facultados. Isso mesmo que somos. Resplendor e maravilha, fama e mercê,
portento inevitável além de toda a era.
Pois, bem visto, que somos nós e tudo uma enorme proporção ao nosso
redor, desde o sermos cá até aos contérminos de não os ter, senão o resplendor
despido de algo sem quê, causa ou para quê? Que motivo, fundamento, sentido ou
final é superior do que a comparência muda destas letras, écran ou sala no
conhecimento de os possuir? A esta luminosidade, que é superior que eu, você,
ledor? Que início ou final do universo, que divindade ou demo, que alienado ou
douto, pode aditar ou arrancar ao que existe sem ter sido criado de
encontrarmo-nos aqui? À detonação silente do enigma que somos? À infinda
sensualidade de não existir uma miuçalha de polvilho que não faça-se aquilo
para lá do qual ninharia mais existe, aquilo superior do que o qual ninharia
consegue ser cogitado? De ninharia existir, para onde pretende que se desloque
a nossa compreensão, que nos não acarrete o paladar do infindo, com o amargor à
marejada do nosso pavoroso infortúnio e salvação?
Dir-se-ia que diante o brilhantismo da descoberta ninharia mais sobeja.
E contudo tão-somente agora tudo se principia. Pois onde o chão expira querença
principia.
Mais um grande texto, do grande escritor Manoel Ferreira Neto, e que
deixa-me sempre perplexa… pensar, pensar e pensar...resulta? Resulta sempre,
mesmo que o resultado não seja o melhor… a cabeça trabalhou, o que é muito
importante…
Ana Júlia Machado
Dizer o que, Aninha Júlia, Ana Júlia Machado, a esta sua de excelência
interpretação e análise. Responde com categoria ao questionamento que reside
nas entrelinhas: o que habita nesta sintonia, sincronia, harmonia entre o
crítico e o autor - entre Ana Júlia Machado e Manoel Ferreira Neto -, o que
explica este complementar-se de ambos? O chão expira no término do texto, a
querença do entendimento principia na leitura do crítico, a LUZ e os OLHOS;
sintetizam-se, aderem-se, unem-se... A intersubjetividade, a intercomunicação
entre os sonhos e ideais, entre as utopias e as idéias, a esperança e a fé são
o que nos comunga, torna-nos verso-uno da sensibilidade. Diria assim: o texto
nasceu para a crítica e a crítica nasceu para a sensibilidade dos sonhos, a sua
compreensão e a sua vivência.
Um grandiosíssimo abraço, querida.
Manoel Ferreira Neto
#AFORISMO 218/
**CORRESPOND-ÊNCIA** DA LUZ E DOS OLHOS**#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Correspondência entre náuseas e vazios, o peito em estado de glória,
euforia com a alegria de as nonadas intersticiarem os recônditos baldios da
alma, absurdos e absolutos, instantes-limites perpassando as ausências e faltas
do ser, sem quaisquer dogmas, preceitos, valores e virtudes, simplesmente a
jornada de estar no mundo.. *Corres-pondência* entre idílios e mangofas do
plausível das des-virtudes, o coração pulsando de inquietações e sensações de
as pontes-partidas reconditarem as imagens de emoções e sentires, in-viáveis,
in-visíveis, inauditas, sem quaisquer perquirições, simplesmente os espectros
no instante de baile, bailando no verso da alma, e re-versam os olhos
profundos, in-versam a boca calada... Aurora para todos!
Cor-respondência entre utopias e idéias. Seria que o vinho não é um
convite para os prazeres do mergulho nos subterrâneos do espírito? Meu passado
onírico é agora tarde demais? Tomando-lhe aos goles esparsos, sentindo-lhe o
sabor, a "... existência do entendimento somente expugna a sua realidade,
quando ele se descobre a si próprio no pleno livre...", não reside uma
"respondência" cordial, sensível aos sentimentos de as utopias e
idéias perfilam unidas nos picadeiros do mundo, o sabor da existência do
entendimento, utopias e idéias unidas, conjugadas, sintetizadas, verso-unadas
correspondem aos desejos e vontades do espírito. O vinho realiza os prazeres
destas utopias e idéias, mas fica o sabor de que o vinho se anunciou,
apresentou-se, pres-ent-ificou-se antes das utopias e idéias, mas de qualquer
modo se comungaram, ampliaram os horizontes e universos para a **consciência do
entendimento", não haver o que florear, mas que sentir e verbalizar.
Cor-res-pond-ência entre sonhos e pro-jectos. Tomo vinho PINHEIRENSE,
enquanto aqui, na minha casa-de-lazer, a rede, vai-e-vem, deixo-me à mercê dos
sentimentos e emoções, dos pensamentos, perquirindo, em nível inda mais
sistemático que à dúvida, como o vinho pôde anteceder as utopias e idéias, se à
"... consideração subjectiva, mesmo criticamente acutilante acerca de si
mesmo, gruda-se um factor sentimental e retrógrado, algo do plangor pelo
percurso do mundo, que seria de declinar não pelo que neste há de bondade, mas
porque o sujeito que se deplora ameaça entorpecer-se no seu jeito de ser,
consumando assim de novo a norma do curso do mundo." Sonhos e projetos são
a gotícula de água para saciar a sede de superação da norma do curso do mundo, alimentam
para as travessias das pontes ao longo da jornada, da peregrinagem à busca não
da Verdade, a ab-soluta, mas a consciência de que os sonhos e projetos
necessitam das atitudes e ações. De qualquer modo, nesta instância da
**cor-respondência" entre utopias e ideias, sente-se que o vinho perpassa
os sonhos e projectos, mas um perpassar de haverem se tornado versos-unos da
estética, ética, consciência-estética-ética, com-preendem-se no entendimento do
questionamento e das res-postas a-nunciadas através da sensibilidade dos verbos
de travessia. Sin-cronias, sin-tonias, harmonias, sentires de uma
subjectividade que se não esgota, admira face a face o nulo e anexo a ela
continua.
De perquirições, indagações, perguntas, questionamentos, de tudo fica um
pouco, de duas folhas de grama, do maço - vazio - de cigarros, fica um pouco.
Por que não ficar a **correspond-ência" da luz e dos olhos?
Às vezes, uma idéia... Às vezes, uma utopia... A palavra é cortada da
boca.
(**RIO DE JANEIRO**, 29 DE SETEMBRO DE 2017)
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