Maria Isabel Cunha ESCRITORA E POETISA COMENTA O AFORISMO 188 /**NÃO NASCI PARA HABITAR ESTE MUNDO**/
FENOMENAL! Também me cansei dos poemas de amor, de ideias gastas, de
idílios na lua em lençóis de seda... Cansei, meu caríssimo poeta e ilustre
escritor, cansei porque de tão gasto já cheira a mofo. Cavalgue o seu corcel e
arriba ao desbravar o caminho para novas miragens e novas paragens. Um forte
abraço.
Maria Isabel Cunha
#AFORISMO 188/NÃO NASCI PARA HABITAR ESTE MUNDO#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Sem a inteligência, não se vê o re-verso;
Sem a intuição, não se con-templa o in-verso;
Sem a percepção, não se visualiza a contramão de avessos;
Sem a sensibilidade, não se inspiram os verbos do sonho;
Sem os sentimentos, não se cria a beleza do belo;
Sem as emoções, não se artificia a estesia dos ideais;
Sem as dúvidas, não se vivem as lições da con-tingência;
Sem as incertezas, a alma se exila nas grutas inóspitas e íngremes;
Sem os questionamentos, a cintilância das utopias das verdades não foi
concebida;
Sem as náuseas do absoluto, do divino, a liberdade não se identifica,
não se re-vela;
Sem o nada, a vida é perfeita, são puros os seus princípios, valores,
virtudes;
Sem o desejo de sabedoria, a vontade de conhecimento, existir é
arrastar-se na sarjeta...
Mas o que são a inteligência, a intuição, a percepção, a sensibilidade, se
os homens se enchafurdaram inteiros na miséria das religiões, ciências, artes?
Mas o que são os sentimentos, as emoções, se o coração não sente os
reflexos da espiritualidade que a-nunciam eles?
Mas o que são as dúvidas, incertezas, questionamentos, se não se
discerne o não-ser e o ser, a verdade e a in-verdade?
O que são as náuseas, nada, se as razões explicam, se as culturas
justificam as angústias, tristezas, desolações?
O que são o desejo de sabedoria, a vontade de conhecimento, se a semente
da vida são a alienação, ignorância?
Enfastiei-me das línguas modernas, em cujos interstícios habitam,
residem, correm todos os discursos lentos, lerdos;
Cansei-me das velhas línguas em que "o tempo funde-se na metafísica
como cúmplice".
Enojei-me dos retrógrados pensamentos de o Ser se revelar na
continuidade das imperfeições, sandices, despautérios, disparates, alienações;
Nauseei-me dos versos e estrofes de Amor que cantam, declamam, recitam
carências, solidões, ausências, forclusions, enfeitam-lhe com arrebiques e
ornamentos de fantasias, quimeras, ilusões, sorrelfas, ainda mais com aqueles
que roubam das flores o néctar para sensibilizar as dores e sofrimentos por sua
procura incessante;
Entendiei-me dos ideais da felicidade, alegria, prazer, fundamentados e
fundados nas in-vestigações medíocres da condição humana;
Subi-me nas tamancas com os sonhos da verdade inspirados na insônia da
gnose;
Arranquei tufos de cabelo com a fé na ressurreição, ressurreição, com a
eternidade pura no paraíso celestial;
Proscrevi o mundo, a terra com a hipocrisia, falsidade, farsa, condutas
de má-fé, algemas e correntes aos princípios, dogmas, preceitos e leis da
sociedade, dos sistemas políticos, sociais, individuais, familiares...
Cavalgo o meu corcel mais selvagem, o que sempre “melhor me ajuda a
montá-lo é o meu dardo: é o estribeiro sempre pronto para o meu pé."
(**RIO DE JANEIRO**, 16 DE SETEMBRO DE 2017)
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