AMIGO E PROFESSOR Júlio di Paula COMENTA O AFORISMO 147 /**VIGOR E NATIVIDADE DA FLORAÇÃO**/
(...) A rosa não necessita de por quê nem de para quê. Despetala-se ao
despetalar-se. Floresce ao florescer. Já tem o ser de flor na própria
florescência, no vigor e natividade da floração. (...)
Eis uma das passagens de um poema simplesmente maravilhoso, porque não
dizer inefável, ou porque não descrever tamanha profundidade de um poeta que
desperta no ser humano e o leva a refletir a beleza e a grandeza do viver. O
viver as coisas mais simples do dia a dia, do transito da vida, da alegria de
ser, do ser que se projeta e é o que é. Manoel Ferreira Neto, poeta mineiro,
faz o interlocutor refletir, meditar, parar e sentir, passo a passo de uma
leitura poética, prosaica, meditativa e filosófica sobre a condição do bicho
humano demasiadamente humano, que vive, que chora, que sorri e não demora. Como
o mesmo muito bem descreveu o ser humano que vive cada momento na sua mais
intensa e bela razão da existência. A felicidade do homem que sentado na
cadeira, fumando o seu cachimbo observa o outro que transita depois de um dia
de trabalho, de labor e que a vida prossegue, prossegue e não pára. A beleza da
rosa e da sua essência simplesmente pelo que ela é, ente, tem todos os
requisitos, mesmo diante da sua semente de ser flor e jamais poderá ser outra
coisa que não seja flor, rosa, seja lá o que a natureza lhe apregoou.
Este poeta é sensível, mais que isso é um pensador, um homem
inteligentíssimo, mais que isso, um gênio que descreve o bicho homem, descreve
o amor como ninguém, pois não tem medo de amar, ama como um autor poeta com um
coração que bate, bate, bate como uma flor que aos poucos diante de suas
pétalas se abrirá um dia para o brilho do amor, da vida, da beleza e encanto do
que faz sorrir, chorar e ao mesmo tempo de forma infinita faz o outro amar,
amar sem limite, infinito no seu sentimento.
Para o meu amigo poeta, professor, escritor e gênio Manoel, mineiro
amigo.
Do amigo e irmão, professor e mais que isso, também poeta que te
considera e admira a beleza e a grandeza dos poetas que tanto nos toca e nos
faz refletir.
Prof. Júlio di Paula, Escritor e Poeta – Fortaleza-Ceará.
#AFORISMO 147/VIGOR E NATIVIDADE DA FLORAÇÃO#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Nas arribas do inferno, almas tresloucadas ardendo-se nas chamas. Nos
terrenos da alma, nada de baldio. Nos becos sem saída, entulhos, boêmio sentado
na tora de madeira, inspirando-se para compôr balada para a amada.
Nas praças públicas, transeuntes em trânsito, aposentados sentados
trocando dedos de prosa com os amigos, casais envolvidos com as promessas do
eterno amor à luz das estrelas e da lua, solitários conversam consigo mesmos,
quase ao sussurro, alfim "Doido é que conversa sozinho", e não querem
ser confundidos com eles, solitários e sozinhos sabem com veemência. Nas mesas
nas calçadas de bares, homens bebem, falam da vida alheia, futebol, da
corrupção política, dos casos com as vadias, da intimidade com a mulher nos
mínimos detalhes, piadas picantes e de salão, um cliente sentado numa mesa
afastada, sozinho, inventariando as coisas da vida, carências e ausências, este
é possivel encontrá-lo noutros lugares nas mesmas circunstâncias, inventariando
as coisas da vida.
Na porta das escolas, estudantes nas suas baguncinhas peculiares,
risadas altissonantes, gritos, esperando o sinal para entrarem e irem se
alimentar dos conhecimentos mais que retrógrados e demodês - a palavra
"professor" só existe mesmo no dicionário; jamais conheci um que
realmente merecia este nobre título, verdadeiros papagaios do conhecimento,
repetem ipsis litteris o que aprenderam, e aprenderam mal - vontades, sonhos,
fantasias, esperanças. No portão das casas, mulheres e maridos sentados,
falando das coisas da vida, dos filhos, das alegrias, felicidade, tristezas,
angústias, cumprimentando os amigos que retornam do trabalho. Na amurada da
ponte de um córrego, alguém recostado ao parapeito observando a água que segue
a sua trajetória livremente.
Na cadeira de balanço, recostado, cachimbo na boca, ouvindo músicas, sem
qualquer ideia, pensamento, sem qualquer assunto, desafio-me a construir frases
aleatórias, escrever na mente um texto qualquer; quem já foi capaz de escrever
prefácio de livro sem haver lido a obra do autor, escrever na mente não é nada
difícil. Na vida, tudo é possível de acontecer.
Nos mausoléus de mármore cinza, o epitáfio sendo lido pelos visitantes
de sepulcros, deixando algumas lágrimas furtivas nos olhos, o sabor de um
desejo que nasce condenado à irrealização; no mais re-côndito de quem lê o
desejo, a vontade, o sonho, a esperança de conhecer um homem probo em todos os
níveis, e isto não será mais possível, jaz ali de por baixo da terra. Quê força
traz em si o epitáfio: capaz de transformar um porco numa cobra cascável,
pedrinha de cascalho em diamante.
Com flores nos encontramos por toda parte. Nas sebes e nos jardins, à
beira das estradas e ao longo de caminhos silvestres, nas casas, nos mercados e
praças se dão flores de todas as cores e feitios, para todos os gestos e tipos,
para todas as atitudes. E, sem pretenderem nada. Não desejam coisa alguma, nem
mesmo sobreviver à poluição do homem moderno. A rosa não necessita de por quê?
nem de para quê? Despetala-se ao despetalar-se. Floresce ao florescer. Já tem o
ser de flor na própria florescência, no vigor e natividade da floração. Causa e
efeito não a preocupam. Está toda ocupada com a flora de flor. Sem ciência nem
consciência, sem gnose nem lógica, a rosa é somente flor. Recolhida ao mistério
de ser, floresce sem porquê na franqueza de uma ternura de flor.
(**RIO DE JANEIRO**,03 DE SETEMBRO DE 2017)
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