#AFORISMO 212/MOÇAS-MEMÓRIAS NA POÇA DOS OLHOS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Sentimento lúdico do ontem, do hoje, e, trazendo o
amanhã a participar desse jogo de idéias do tempo que ora se apresenta no eu
poético, despreocupadamente a me impor um estado ímpar de felicidade. Dessa
forma, minh´alma sente a leveza da liberdade daqueles que não levam considerar
o Tempo com tanto rigor.
Seria que ou não seria que fora da terra, longe dos
olhos, perto do coração, o que zanza no céu é uma lua tonta com tantas
lembranças dobrando esquinas, “no fundo azul na noite da floresta/a lua iluminou
a dança, a roda, a festa...”, recordações contornando curvas, entornando
soluços nas encruzilhadas, saudades perpassando as redes no seu balanço nas
varandas da carência de encontro com a palavra do verbo de compl-etudes. Fora
da terra, ausente de mim, o que tropeça no céu é uma lua atônita com íntimos
passos em volta da pracinha de fonte luminosa e moças-memórias na poça dos
olhos. Fora da terra, explodindo em mim, o que desmorona no céu é uma lua em
pane cavando meu peito com seus clarões.
Ritmo de músicas transcende a vida e a morte,
prospectivando antíteses e antinomias da verdade e da in-verdade, regendo
linguagens do dito, estilo do intuído, interdito estilo da saudade e
melancolia, querência e ilusões do ter sido no ambíguo ato de jogar sobre a mesa,
na dubiedade dos lances, de tripúdio e engenho da arte as leis naturais do
sentido e significado...
Magnífico retrato dos sentimentos comungados à
poiésis da metafísica, às idéias re-colhidas e a-colhidas nos horizontes
pretéritos das experiências, nas errâncias dos projectos, aos sonhos e utopias
do belo contingente, da beleza transcendente, no silêncio eloquente da floresta
silvestre, na solidão deslumbrante do bosque perdido, con-templar as águas
brancas do Infinito no seio des-encarnado de senso, contra-senso, comungar
linhas e entre-linhas nas além-linhas do orgasmo, da magia.
Sossegado e bem tranqüilo, entre a dispersão e
evasão, o silêncio auscultativo da alma escuta o silêncio eloqüente da alma,
ouve a algazarra da solidão e carência, ouve o burburinho das palavras,
re-velando ingenuidades e fantasias, regendo as linguagens do dito e
inter-dito, a geração do incognoscível, no belo encarnado de poesia, no feio
des-encarnado de senso e contra-senso.
Houvesse versar as miríades das intuições,
percepções, sensibilidade que per-cursam a luz, de-cursam o brilho das imagens
semânticas do ipsis da prosa ao litteris da alma, do verbis do engenho ao ipsis
do espírito, desejando o rosto das infini-itudes dos desejos e vontades, ser a
efígie de um rosto de contingências da alma e nelas habitando a expressão do
verbo do espírito, hoje estivera dobrareando as páginas ensimesmadas,
en-si-mesmadas, pálidos crepúsculos do alvorecer sertanejo, ouvindo um trinar
de pássaro lindo, tecendo de letras o tapete silvestre em direção ao infinito,
ao que trans-cende o esplendor da liberdade de ser quem faço de mim, a mim
possa gerar.
Há tanta leveza na palavra! No breve ato de
sonolência, gesto pleno de calor e arte o humano desejo esculpe. Desfeita a
fronteira do real, no sono dentro da pupila, visão noturna do inefável neste
olhar feito de sonho, no con-templar feito de querências, na in-sônia
perscrutando a noite. Ainda que os passos sejam vacilantes nessa tentativa de
entrelaçar linhas e entre-linhas, imagens e perspectivas, a pintura, nesta
trilha, escrevo rastro da história, passos da memória, marcas do ser à busca de
outros uni-versos gerados no ventre do desafio, no peito, no seio de
precursoras idéias e sentimentos, nos interstícios primevos dos desejos e querências
dos valores eternos, das virtudes imortais, e mesmo entre-vejo dimensões
transcendentes que me não são dadas descrever, transcendem a razão e a
sensibilidade. Quanta força existe no ideal de sonhar! Seria ou não seria que
alguém pudesse estabelecer ou instituir esta força no dinâmico percurso de cada
época?
(**RIO DE JANEIRO**, 27 DE SETEMBRO DE 2017)
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