AFORISMO 191/O ARTISTA, A OBRA E O TEMPO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Quem é você, amigo? Não o conheço, todos aqueles anos apenas traçaram um
esboço de você. Atrás deste esboço, o medo mais que visível. Em cima do medo,
tudo se pode criar, re-criar, in-ventar para envelá-lo.
O que a sua sabedoria, seu intelecto têm a contribuir com as veredas e
sendas dos homens? Você, então, pensa que interpretando, analisando as grandes
idéias, ciências, sonhos e utopias, irá contribuir com a trans-parência dos
princípios cristãos, os valores humanísticos, virtudes humanitárias? Você,
então, sente que está na vida deixando sua sensibilidade, espiritualidade,
con-templando o pleno das plen-itudes, o símbolo da consciência-estética-ética.
Não me leve a mal, não me leve a mal... Mas não são interpretações, análises
que irão mostrar os horizontes, universos outros da vida, mas a sensibilidade
de sentir o peito, a alma do homem, o espírito que habita o ser da humanidade.
Não é o sonho do verbo amar que irá trans-parecer todas as esperanças e fé, mas
o verbo amar dos sonhos que irá abrir as janelas do peito, as venezianas do ser
para a sublim-idade.
Os filósofos, escritores e cientistas estão em constante diá-logo com a
vida, com os pretéritos e indicativos das situações e circunstâncias históricas,
e você sente e pensa que tem a res-posta perene para o destino da humanidade,
considerando a Dialética da Iluminação. Há escritores que esperam que a
sociedade se eduque para serem entendidos, a sociedade não se educa, não serão
entendidos nem hoje nem amanhã. Há críticos que analisam as coisas de modo que
estejam sempre presentes, a análise deles é a-temporal, mas eles se esquecem de
que o tempo re-vela outras dimensões, outras perspectivas, este crítico está
condenado a passar, ao passado, outros críticos mostram os fundilhos abissais
da obra, e são estes luzes e sementes para outras in-vestigações. A Arte
perpassa o tempo. O sempre acabou? O nunca inicializou? Esquece-se, todavia, da
Contra-dicçao das Luzes da Ribalta. Não me leve a mal, não me leve a mal. Penso
que você está vivendo o orgulho de um Superstar da Intelectualidade, da
Cultura, da História da Igreja, do Cristianismo, da Cristandade, mas se
esqueceu de vasculhar os inter-ditos de sua alma de medos da vida e hesitâncias
de con-templar os efêmeros e nadas do estar-no-mundo. Intelecto jamais deu
qualquer res-posta para os mistérios, enigmas, segredos da vida, da vida, e
jamais dará. Só a sensibilidade pode traçar ao longo do tempo a problemática do
homem em todas as dimensões e níveis.
Quem é você? De que está valendo todos os anos de estudo, de pesquisa,
de entrega ao sentimento da Vida, a divin-idade do Ser? Mergulhou-se na vaidade
do conhecimento, da sabedoria. O Superstar. E a Vida mostra-lhe apenas o abismo
sem quaisquer ventos, sem quaisquer sibilos. Vive de confortos, bem-estar, com
todas as mordomias, mas a Vida mesma está ausente de você. Será que não enxerga
o nada de tudo isso? Será que não vê seus conhecimentos e sabedorias nada têm a
contribuir para a história da humanidade?
(**RIO DE JANEIRO**, 19 DE SETEMBRO DE 2017)
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