#AFORISMO 170/SUBLIME LOUVOR ÀS CLÁUSULAS DE MEUS DIAS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Aforismos regentes regenciando de a-temporais verbos lacunas de idéias,
hiatos de pensamentos, noctívagos instantes dispersos, sentimentos de solidão e
silêncio pre-figurando verdades efêmeras, a lua é o único brilho con-templado -
amor, sinta o romantismo da música perpassar-lhe o íntimo, pro-jecte idílios ao
in-finito.
Regências aforísticas de in-temporais infinitivos subjetivando desejos
do que há-de embargar das ruínas e dos tempos as falas baixas dos homens -
todavia, é verdade que se me esvai a consciência, a chuva tamborila nas folhas
de tinhorão da chácara. Costumo pensar e sentir nestas horas de dor crua e má
que me rói à natureza as mais íntimas entranhas que é sublime louvor às
cláusulas de meus dias sem as ânsias nem as dúvidas, como quem se retira tarde
de um sarau.
Cumpre ad-vertir que a verdade só rege a vida por átimos de segundos, as
con-tingências são grandes caprichosas e a história uma eterna loureira, direi
que são elas as que fazem o poeta e o sábio fortes e doudos, o amor da glória é
a coisa mais verdadeiramente humana que há no homem, e, conseguintemente, a sua
mais genuína afeição. Importa mais do que passatempo e menos do que apostolado:
o êxtase aforístico é obra supinamente filosófica, de uma filosofia desigual,
austera, logo sarcástica e cínica , coisa que não edifica nem destrói, não
inflama nem regela... Creio que aprecio mais a anedota. Vejo-me, ao longe,
ascender do chão das turbas, e remontar ao céu, como uma águia imortal, e não é
diante de tão excelso espetáculo que posso sentir a dor que me punge.
Que me conste, ainda ninguém relatou o seu próprio delírio aforístico
além da imensa brancura da neblina, fitando a vastidão das formas selváticas, e
tudo escapando à compreensão do olhar, o que parece espesso é muita vez diáfano.
Já agora não se me dá de confessar que sinto umas tais ou quais cócegas de
curiosidade, por saber onde fica a origem dos séculos, se é tão misteriosa e
enigmática como a origem do deserto do Saara.
Ah trapézio dos meus pecados, trapézios das concepções abstrusas... Os
dias passam, e as águas, e os versos, e os aforismos, e com eles vai passando
também a vida. O mais singular é que, se o relógio pára, dou-lhe corda, para
que não deixe de bater nunca, e eu possa contar todos os meus instantes perdidos
na madrugada, deitado na rede, minha cadela Paloma dormindo entre as minhas
pernas, a cabeça no meu ventre. As fantasias tumultuam-se dentro em mim, vem
umas sobre outras, à semelhança de beatas evangélicas que se abalroam para ver
o pastor ao piano tocando a Nona Sinfonia de Beethoven.
(**RIO DE JANEIRO**, 08 DE SETEMBRO DE 2017)
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