#AFORISMO 216/SILÊNCIO DE VENTOS LARGOS DE MONTANHA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Batidas do sino da igreja sob a luz
da noctívaga noite da libido na querência sensível e trans-sensível de
acontecer o sublime das palavras que versificam e proseiam os liames de
vestígios do nada na característica específica e sine qua non de pretéritos que
originam os ritmos e acordes do "eu poético" que se re-vela ao mundo
por inter-médio da arte de idílios da "ec-sistência", desvelado o
nítido nulo do cócito cogito das sorrelfas idílicas que da lídima
"persona" ilumina a liberdade do abismo. Inicia-se a missa das sete,
o presidente da celebração faz o sinal da cruz, os fiéis fazem o mesmo.
Liberdade do abismo.
Do abismo, a liberdade,
Da liberdade, o abismo.
A beleza pode levar à espécie de
loucura
Que é a paixão.
A beleza do belo, sentimentos leves,
Românticos em relação à delicadeza,
Trevas estrangeiras de instintos
vivos.
Nada e nonadas dos parvos, na
adstringência de primevas ilusões, quando trazem no coração e na cabeça o
rigoroso e pujante método da verdade, dúvidas sistemáticas, e que por outro
lado, graças à evolução da humanidade, tornam-se tão delicados, susceptíveis e
sofredores a ponto de precisarem de meios de cura e de consolo da mais alta
espécie; daí surge o perigo de se esvaírem em sangue ao conhecerem a verdade,
ao se conscientizarem de que a ilusão, a mentira, a representação têm pernas
curtas, a verdade não lhes é senão modo e estilo de tripudiarem os instintos
que lhes são peculiares, o que lhes habita o mais profundo da carne e dos
ossos, trans-elevarem a razão em nome de alguma dignidade fantasiosa.
Oh, quê sina!... Oh, que saga...
Nesta terra de Sísifo, festa solene e sacrifícios em expiação a não haver
sentido náuseas observando detritos, lixos nas calçadas, bocas de lobo
entupidas, pelas ruas, não chamaram a atenção por organizar as coisas.
Parvoíce de nonadas e nada. Trocam as
palavras de lugar para darem sustância ao que chamam de idéias originais,
trocam, com a troca das palavras, alhos de parvoíces por bugalhos de
perspicácias, cabeça de alho por dente de alho, não se descasca cabeça,
descasca-se o dente, mas as nonadas e os nadas permanecem lívidos e vivos, não
lhes sobrando outros resultados senão os risos e gargalhadas das pessoas,
provocando-lhes muitos pinotes para entenderem e compreenderem os motivos e
razões. Na verdade, na verdade, oh, que sina, que saga, nasceram para ser
incompreendidos, mas a esperança é a última que morre, chegará o tempo que a
humanidade se libertará do berço esplendido dos orgulhos e importâncias da raça,
estirpe, descobrirá que são eles os que trazem, sempre trouxeram, nas mãos
feitas concha as primevas idéias verdadeiras da vida e das cositas dialéticas
do tempo e do ser.
Idéias do tempo existem sempre,
apetite sempre re-novado em face das coisas, indicação que permitirá, quiçá,
deixar de ser bicho esquisito, bicho do mato, para voltar a ser, simplesmente,
homem.
Quando não se tem linhas firmes e
calmas no uni-verso da vida, como as linhas das montanhas e dos bosques, das
margens dos rios, dos sinuosos caminhos da floresta, o próprio desejo íntimo do
homem vem a ser intranquilo, disperso e sequioso como a natureza do citadino:
não tem felicidade nem dá felicidade. À sirga dos acontecimentos, situações e
circunstâncias, no campo desfolhado outras quimeras, entre-laçá-las.
Oh, Deus!... Oh, céus!... Quê destino
ingrato! Levantam uma harmonia de idéias, coroadas de etern-idade; de novo um
destino cego de águas subterrâneas me escava a segurança. Dão de ombros a uma
questão que lhes são tão indiferente como as cheias do Nilo. Sabem que um
castanheiro num cerro é uma verdade natural, não há duvidar. E que o trabalho
deles de porem as coisas onde deviam é outra verdade como a primeira. Querem-se
só, com silêncio no coração, um silêncio de ventos largos de montanha. Pensarem
é acusarem-se ou decidirem-se a um rumo. É sentirem-se presos.
Paz!
Tapar os olhos, ir para o fundo, mas
sem idéias, como uma pedra. Arremessar de elevada ribanceira sobre o mar,
precipitar nas ondas.
(**RIO DE JANEIRO**, 28 DE SETEMBRO
DE 2017)
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