Ana Júlia Machado ESCRITORA E POETISA ANALISA E INTERPRETA O AFORISMO 219 /**PREÂMBULO DA DESCRIÇÃO FILOSÓFICA DAS RARIDADES**/ À LUZ DA FENOMENOLOGIA HEGELIANA
No texto que o autor Manoel Ferreira Neto descreve o aroma delicado da
expectativa…diria que abrange muita crítica à sociedade que em grande grau do
que acontece no globo da destruição, no elementar cariz sendo reflexo do
produto e na espécime de desenho que, decretado pelos excessos, pelas formas e
pelos traços corrompidos, expõe um ser ou condição de uma forma excêntrica,
hilariante, da real existência. No conhecimento e leviandade dos indivíduos. Só
em virtude da antítese ao produto, enquanto não de todo retido pela ordem,
podemos homens provocar uma obra mais honestamente compassiva.
Se de todo se suprimir a aparência da existência, que a inerente alçada
do dispêndio com tão ruins causas sustenta, vencerá então o estropício da obra
inteira. Há, porém, muita perfídia nas apreciações que partem do sujeito acerca
de como a existência se converteu aparência. Porque no corrente estádio do
progresso memorável, cuja dominadora realidade resume-se apenas na extinção do
sujeito sem que dela tenha aparecido inovação alguma, a prática individual
justifica-se inevitavelmente no antigo sujeito, factualmente sentenciado, que
ainda é para si, mas já não em si. O homem crê estar fixo da sua liberdade, mas
a nulidade que o chão de ensimesmamento exibiu aos sujeitos excede já a
amoldada inerente subjectividade. À consideração subjectiva, mesmo criticamente
acutilante acerca de si mesmo, gruda-se um factor sentimental e retrógrado,
algo do plangor pelo percurso do mundo, que seria de declinar não pelo que
neste há de bondade, mas porque o sujeito que se deplora ameaça entorpecer-se
no seu jeito de ser, consumando assim de novo a norma do curso do mundo. A
lealdade ao próprio estado da consciência e da prática está eternamente sujeita
à provocação de se metamorfosear em deslealdade, enquanto abjura ao
entendimento que sobrepuja o indivíduo e evoca tal matéria pelo seu título.
Assim altercou Hegel - em cujo método se instruiu o do contra o
despretensioso ser-para-si da subjetividade todas as suas etapas. A axiomática
lógica, contrária a tudo o que é extremado, não pode reconhecer igualmente
axiomas enquanto tais. No caso mais benéfico poderiam eles, segundo o uso
filológico do preâmbulo da descrição filosófica das raridades, em sua natureza
fictícia e falaciosa, enxergados a partir do toque com os sentidos pessoais. Da
Consciência, ser consentida como diálogo. Mas o seu tempo passou. Perante o
sujeito, Hegel não se amarre à imposição que ele, aliás apaixonadamente, propõe
insistir no conteúdo e não ir sempre mais para lá disso, incorporar-se no
interior inerente do facto. Se hoje o sujeito se cega, os adágios acham
problemático encarar como fundamental o que se cega. Em antagonismo ao
comportamento de Hegel e, no entanto, em consequência do seu pensamento,
persevera na negatividade. A existência do entendimento somente expugna a sua
realidade quando ele se descobre a si próprio no pleno livre. Ele não é este
domínio como o positivo que se divorcia do negativo, como quando aproxima de
algo verbalizamos que não é ninharia ou que é adulterado e, feito isto,
acabamos sem mais a outra coisa. Só é este domínio quando admira face a face o
nulo e anexo a ele continua.
E termino com o que profere o autor: O mais inócuo de todos os sorrires
serve de sustentáculo a uma fortaleza de agitação, uma enunciação qualquer,
despretensiosa polidez de recinto, supõe-se repleta de muitas juras de porvir.
É mais um texto subjetivo que quem analisa e lê foge se calhar para o
lado que mais lhe convém… Melhor, aquilo que pensa que vai na mente do
autor….Será ou não…
Ana Júlia Machado
#AFORISMO 219/PREÂMBULO DA DESCRIÇÃO FILOSÓFICA DAS RARIDADES#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Que é o odor agradável e sensível da esperança, sonho, utopia, sorrelfa,
quimera das nostalgias que confeteiam da arte de tecer as saudades melancólicas
e ensimesmadas de salpicos e sarapalhas regenciais da perfectu-itude do
amor-caritas nas ad-versidades e div-ersidades do "come, pequena suja,
come chocolate, olha que não existe outra metafísica no mundo senão comer
chocolate", eis o fingimento, eis a farsa, eis o ethos do son, poesia e
identificação do ethos da música, do acorde do violão do boêmio que canta o
lírico das linguísticas!..
Que figuram as orquídeas da Alegria Breve? Únicas flores neste árido
terreno do meu coração, circundado por um vale habitado de abismos. Mister
agora um raio que as anime e lhes conserve o perpétuo viço. Se a vida pudesse
ser eternamente orquídeas da Alegria breve, provável seria que o coração
adquirisse a paz almejada. Verbos defectivos ornamentam seus ideais de sombras
e hiatos, conjugando as situações, circunstâncias com os pronomes de re-versos
sujeitos, dores e sofrimentos são sentimentos inerentes à condição humana...
Joguetes da imaginação, propensão às fantasias cor-de-rosa. O mais inocente de
todos os sorrisos serve de base a um castelo de vento, uma expressão qualquer,
simples cortesia de sala, afigura-se cheia de mil promessas de futuro. As
tempestades do ar importam mais que as tempestades da vida. Cai chuva fina e
constante, que houvera inicializado pouco antes dos primeiros albores da manhã.
Que importa a melancolia da natureza, se habita n´alma fonte de inefáveis
alegrias?
Eis que eu próprio me torno o mito mais radioso e talhado em penumbra
sou e não sou, mas sou. Poder-se-ia acreditar que há no mundo um verdadeiro
azul, um verdadeiro vermelho, um verdadeiro odor de amêndoa ou de violeta. Logo
os retenhamos um instante sequer, este sentimento de conforto e segurança é
substituído por um profundo mal estar: as cores, os sabores, os odores nunca
são verdadeiros, nunca são simplesmente eles mesmos e nada mais que eles
mesmos. O verbo do presente ilumina-me, numina-me para outros efêmeros que
re-velarão eidos, essência, cerne do vazio, e só este pode re-colher, a-colher
o múltiplo, absoluto, divino, que nada mais são que húmus para outras
contemplações do há-de ser. Não seria de bom tom viver as in-verdades com
grande amor e paixão? Quê tristeza: impossível para a felicidade plena,
impossível para as in-verdades perenes.
Debruço-me sobre cada segundo, tento esgotá-lo; nada se passa que não
capte, não fixe para sempre em mim, nada, nem os ruídos da rua, nem a claridade
titubeante do amanhecer; e no entanto o minuto se esgota e não o retenho,
estimo que passe. Ritual para o alvorecer ser feliz, para a felicidade ser
plena no espírito do verbo sonhar, diria estar louco, varrido, doido de pedra,
pois que homem algum é vocacionado à plen-itude de felicidade, não saberia
con-viver com ela; cerimonial de futilidades e picuínhas para os pensamentos
não cochilarem, a natureza está melancólica, chove miúdo continuamente, alfim
carece de lhes dar sentido, significado, em mim perpassam certas pasmaceiras,
nada há que esquente os pensamentos, chameje as idéias, tudo se escorra
escorreitamente, ouça sons, sinta sabores.
Há quem acredite piamente comer chocolate é a única metafísica, a
absoluta, mas em verdade, em verdade, se é que se possa afirmar seja a que
frutos lega, fazer dos pensamentos vinhos em dias chuvosos, para degustar o
sabor imaginário da luz - sonhara há anos que descia lentamente os degraus de
uma escada em espiral, e quando terminaram os degraus senti que me seguravam e
enfiaram uma luz em minha boca, acordei, sentindo-me sem fôlego. O vinho é um
convite para os prazeres do mergulho nos subterrâneos do espírito. Meu passado
onírico é agora tarde demais? Arrependimento estoico mantém erecta a minha
cabeça. Meu sorriso cristaliza a sala em silêncio, e mesmo os ruídos que vem do
imenso terreno baldio que leva ao topo do morro, de onde se vê uma nesga do
mar, escorrem do lado de fora do silêncio.
O fato de uma pintura de época, um casal refestelando-se no leito,
selvagens e suaves, olhos pensativos, esse pintura real não me desmente, só faz
é revelar uma fantasmagórica estranha: ter nascido é cheio de indagações a
fazer, perquirições a responder. Adormecera tão logo realizada a visão da
pintura de época, não me re-corda se houvera algum sonho; indubitável é que
acordara pensando nesta manhã chuvosa se há arte em tecer as saudades
melancólicas e ensimesmadas de salpicos e sarapalhas regenciais?
(**RIO DE JANEIRO**, 29 DE SETEMBRO DE 2017)
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